A partir de diversas perspectivas, podemos comparar o conhecimento comum e o conhecimento científico

O termo “conhecimento” tem origem no latim congnoscere (com, “junto” e gnoscere, “obter conhecimento”), que significa “ato de conhecer". Há milênios, o ato ou efeito de conhecer fascina a humanidade em busca de respostas para estabelecer as relações entre o mundo e as experiências vivenciadas nele. 

Historicamente, os filósofos iniciaram esta tentativa incessante de entender o mundo e tudo o que há nele, seja concreto ou abstrato, de maneira conceitual. Por isso, ao longo dos anos, surgiram diversas maneiras que pudessem desmistificar e permitir uma melhor compreensão da verdade sobre a origem complexa da existência nos mais diferentes aspectos.

A seguir, vamos apresentar os conceitos de conhecimento científico e senso comum

, além das diferenças entre esses dois tipos de linha de pensamento desenvolvidas pelo ser humano. 

Conhecimento científico 

A partir de diversas perspectivas, podemos comparar o conhecimento comum e o conhecimento científico

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Conhecimento científico é a informação que analisa os fatos cientificamente comprovados. Sua base está na filosofia da ciência, em que todas as suposições, teorias e hipóteses passam por um processo de comprovação através de uma série de pesquisas e experimentos.

As principais características deste tipo de conhecimento são: sistematização, pois é necessária uma organização de um conjunto de ideias que são formadoras de uma teoria; o princípio da verificabilidade, toda teoria deve ser analisada e comprovada com base na ciência; falível

(não é definitivo), consiste que uma determinada hipótese pode ser destituída ou substituída a partir de outras novas comprovações científicas.

Ciência e pandemia do novo coronavírus

Atualmente, com a pandemia de COVID-19, o campo da ciência tem ganhado cada vez mais importância no apoio às autoridades na construção das diretrizes para conter o avanço do SARS-CoV-2; uma vez que todo o seu processo constitui-se em comprovações científicas. Segundo o Índice do Estado da Ciência 2020 (em inglês, State of Science Index), realizado este ano, cerca de seis meses após o início da pandemia, revelou que a confiança na ciência aumentou para 89% em comparação aos dados dos anos anteriores.

Desde o início da descoberta do vírus, em dezembro de 2019, até hoje, pesquisadores estão constantemente realizando estudos baseados na ciência para entender as ações e sequelas do patógeno no corpo humano. Assim como as aprovações das vacinas contra a COVID-19 apenas foram concedidas após a validação pelas fases de testes que comprovaram a segurança e eficácia da substância estudada.

Logo, entende-se que para uma suposição ser reconhecida como um conhecimento científico, obrigatoriamente suas causas e efeitos precisam ser baseadas em observações que sirvam para atestar a veracidade ou falsidade de determinada teoria. 

Senso Comum 

A partir de diversas perspectivas, podemos comparar o conhecimento comum e o conhecimento científico

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O conhecimento do senso comum é um conceito fundamentado na sabedoria e crendices populares que reflete o modo de pensar da maioria das pessoas, adquiridos por repetições das experiências e das culturas transmitidas de geração a geração. 

As principais características deste tipo de conhecimento são: não é testado e verificado detalhadamente, através de métodos científicos, para comprovar uma relação de causa e efeito, é categoricamente popular e culturalmente aceito. Além disso, não há garantias da sua validade ou invalidade.

Para o filósofo italiano Antonio Gramsci, senso comum é: 

“Um complexo de materialismo, dogmatismo e incoerência. O materialismo é o produto imediato da sensação bruta, percepção apenas das aparências dos fatos; é dogmático enquanto é ávido de certezas peremptórias, tendo a lógica formal como sua expressão; é Incoerente enquanto se assenta em uma mente infantil, constante através da história (incoerência sub-histórica) e na mentalidade de determinada civilização (incoerência histórica).”

 

Exemplos de senso comum

• O uso de plantas medicinais para tratamento de doenças. Por milênios, o ser humano busca se tratar de mazelas através de plantas e outros elementos da natureza. Ao descobrir através da observação que o boldo é uma planta com propriedades que estimulam a digestão e desintoxicam o sistema digestório, as pessoas começaram utilizá-la como planta medicinal.

• Associação entre o frio e a gripe: é um senso comum reproduzido principalmente pelos  mais antigos afirmando que se “pegar” frio ou uma friagem, vai ficar gripado. É uma conexão sem fundamentação científica, pois a gripe é uma doença causada por um vírus que pode se aproveitar da fragilidade pulmonar causada pelo frio. Logo, a infecção pelo patógeno da gripe depende da situação imunológica da pessoa.

• As fases da lua e a influência no corte de cabelo:  provavelmente você já ouviu a frase “é importante cortar os cabelos na lua crescente para que cresçam mais rápido”. Os  conselhos e ditados populares fazem parte do senso comum e são tidos como verdades. Por isso, torna-se uma herança cultural seguida e implementada no dia a dia pelo povo, sem questionamentos.

Diferença entre conhecimento científico e senso comum 

O conhecimento científico e o senso comum podem ser considerados duas formas de pensamentos distantes de como o Homem se relaciona com a verdade. No conhecimento científico, a sua base para afirmar uma verdade passa por experimentos e métodos científicos, que comprovam a confiabilidade de uma hipótese.

Já o segundo conceito é uma herança cultural que se torna uma constante, fundamentada em crenças e hábitos de uma determinada sociedade. Além disso, não é questionável e apenas determina o motivo sem apresentar os caminhos que conduziram a uma conclusão.

No entanto, embora a ciência seja a fonte de conhecimento que apresenta mais segurança, é importante ressaltar que o senso comum pode ser capaz de fornecer hipóteses para as pesquisas científicas. Por isso, é possível considerar que o senso comum é um elemento impulsionador da ciência. 

Para o filósofo brasileiro e professor de filosofia da Faculdade de Educação da Unicamp, Silvio Gallo, "o senso comum pode ser um bom ponto de partida para se chegar a conhecimentos mais seguros”. E, segundo a afirmação do biólogo Thomas Henry Huxley, “a ciência é apenas senso comum treinado e organizado”.

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Conteúdo deste artigo

  • 1. Introdução
  • 2. Conhecimento científico
  • 3. Senso comum
  • 4. Conclusão

Conhecimento científico e senso comum podem ser definidos como duas formas distintas com as quais o ser humano se relaciona com a verdade. Nesse sentido, ambos podem ser considerados como parte da disciplina que em filosofia é conhecida como epistemologia, quer dizer, o estudo de como é possível se obter o conhecimento da verdade. São duas formas de conhecimento bastante distintas, tendo em vista que, enquanto o conhecimento científico apoia-se na experimentação dos fenômenos para a verificação da verdade, o senso comum toma frequentemente como base as crenças e os hábitos de um determinado povo ou de uma determinada sociedade.

2. Conhecimento científico

O conhecimento científico está diretamente associado com o método científico, que diz respeito às formas como o conhecimento verdadeiro pode ser obtido e que é uma das partes centrais da filosofia da ciência. Por ser diretamente preocupado com a verificação da verdade, quer dizer, com a comprovação de que uma hipótese ou crença a respeito de alguma coisa é verdadeira, o conhecimento científico se desenvolve a partir de uma série de perguntas, como as que se seguem: 1) como são formuladas as hipóteses científicas e como é possível alcançar uma verdade científica? 2) Como um conhecimento pode ser aceito como sendo conhecimento científico? 3) Como se dá o desenvolvimento da ciência? Todas essas perguntas dizem respeito a diferentes campos do pensamento científico. A primeira diz respeito à natureza do modo de raciocinar das ciências, a segunda, diz respeito à possibilidade de verificação de uma verdade científica. A terceira, por fim, diz respeito a qual é o melhor método para que a ciência possa alcançar a verdade. Tanto essas perguntas quanto a discussão a respeito delas têm como objetivo principal o conhecimento verdadeiro do mundo, o que inclui tanto a natureza como um todo como o do ser humano em tudo o que lhe diz respeito. Os métodos científicos são propostos para que se alcance tal conhecimento de maneira racional, objetiva, analítica e explicativa, dentre outras.

Já o senso comum, por outro lado, diz respeito às crenças naturais e ordinárias produzidas por uma determinada cultura e transmitidas pela tradição referente tais culturas, e que são tomadas como plenamente verdadeiras. É bastante comum encontrar o senso comum sendo referido de maneira pejorativa, dizendo-se que é fundamentado em crendices e que, portanto, possui pouco valor. Isto acontece, em grande medida, devido à forma como o conhecimento científico é valorizado na cultura ocidental em geral e porque a filosofia racionalista frequentemente critica e rejeita o senso comum. Contudo, alguns filósofos da tradição filosófica escocesa, associados ao que ficou conhecido como Escola escocesa do senso comum, afirmam que as crenças existentes no senso comum oferecem suficientes justificativas para que se rejeite o ceticismo ou as doutrinas chamadas revisionistas.

Em sua origem, o termo senso comum remonta a Aristóteles, que utilizou este termo para se referir à capacidade geral de sentir, tanto no sentido de consciência das sensações quanto no de perceber as determinações sensíveis comuns aos diversos sentidos, como a visão, o movimento, etc. Na idade média, o termo foi aplicado com o significado de costume, gosto, modo comum de viver ou falar. Pode-se perceber, portanto, que as formas moderna e contemporânea de se compreender o senso comum ainda guardam algumas características dessa origem.

4. Conclusão

Conhecimento científico e senso comum, apesar de suas perceptíveis diferenças, não precisam necessariamente ser postos em lugares distintos, onde não podem ter nenhuma relação, pois muitas crenças populares podem ser comprovadas cientificamente e, também, servir de estímulo para a busca da comprovação de sua verdade.

Referências:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

NAS ASAS DO DRAGÃO. Conhecimento científico x senso comum. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/nasasasdodragao/my_keywords/conhecimento-cientifico-x-senso-comum/. Acesso em: 28 de jan. 2020.