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Os acidentes causados por aranhas são comuns, porém a maioria não apresenta repercussão clínica. Os gêneros de importância em saúde pública são as seguintes espécies: Acidentes causados por outras aranhas podem ser comuns, porém sem relevância em saúde pública, sendo que os principais grupos pertencem, principalmente, às aranhas que vivem nas casas ou suas proximidades, como caranguejeiras e aranhas de grama ou jardim. São notificados anualmente cerca de 5.000 acidentes. A predominância destas notificações são nas região Sul e Sudeste, dificultando uma análise mais abrangente do acidente em todo o país. Em face das informações disponíveis pode-se considerar: Distribuição segundo os meses do ano: observou-se que os acidentes por Phoneutria aumentam significamente no início da estação fria (abril/maio), enquanto os casos de loxoscelismo sofrem incremento nos meses quentes do ano (outubro/março). Isso pode estar relacionado ao fato de que no Sul e Sudeste, as estações do ano são melhor definidas quando comparadas às demais regiões do país. Distribuição dos casos nos estados: a maioria dos acidentes por Phoneutria foram notificados pelo estado de São Paulo. Com respeito aos acidentes por Loxosceles, os registros provêm das regiões Sudeste e Sul, particularmente no estado do Paraná, onde se concentra a maior casuística de Loxoscelismo do país. A partir da década de 80, começaram a ser relatados acidentes por viúva-negra (Latrodectus) na Bahia e, mais recentemente, no Ceará. 1. Aranha-marrom (Loxosceles) - Não é agressiva, pica geralmente quando comprimida contra o corpo. Tem um centímetro de corpo e até três de comprimento total. Possui hábitos noturnos, constrói teia irregular como “algodão esfiapado”. Esconde-se em telhas, tijolos, madeiras, atrás ou embaixo de móveis, quadros, rodapés, caixas ou objetos armazenados em depósitos, garagens, porões, e outros ambientes com pouca iluminação e movimentação. 2. Aranha armadeira ou macaca (Phoneutria) - Bastante agressiva, assume posição de defesa saltando até 40 cm de distância. O corpo pode atingir 4 cm, com 15 cm de envergadura. Ela é caçadora, com atividade noturna. Abriga-se sob troncos, palmeiras, bromélias e entre folhas de bananeira. Pode se alojar também em sapatos, atrás de móveis, cortinas, sob vasos, entulhos, materiais de construção, etc. 3. Viúva-negra (Latrodectus) - Não é agressiva. A fêmea pode chegar a 2 cm e o macho de 2 a 3 cm. Tem atividade noturna e hábito de viver em grupos. Faz teia irregular em arbustos, gramíneas, cascas de coco, canaletas de chuva ou sob pedras. É encontrada próxima ou dentro das casas, em ambientes sombreados, como frestas, sob cadeiras e mesas em jardins. Caranguejeiras (Infraordem Mygalomorphae) - As aranhas caranguejeiras, embora grandes e frequentemente encontradas em residências, não causam acidentes considerados graves. Acidentes com aranha causam sintomas que podem ser leves ou severos. Em raros casos, podem levar até mesmo à morte. O loxoscelismo (acidente por aranha-marrom), tem sido descrito em vários continentes. Corresponde à forma mais grave de araneísmo no Brasil. A maioria dos acidentes notificados se concentra no sul do país, particularmente Paraná e Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente adultos, com discreto predomínio em mulheres, ocorrendo no intradomicílio. Observa-se uma distribuição centrípeta das picadas, acometendo mais a coxa, tronco ou braço.
Aranha-marrom (Loxosceles) Aranha pouco agressiva, com hábitos noturnos.
Encontra-se em pilhas de tijolos, telhas, beira de barrancos; nas residências, atrás de móveis, cortinas e eventualmente nas roupas. As “aranhas marrons” (Loxosceles sp) são muito comuns em Curitiba, Região Metropolitana, região de Irati, Ponta Grossa, Guarapuava, União da Vitória, Pato Branco e Jacarezinho, ocorrendo em menor frequência em todo o Estado. É importante lembrar que este gênero de aranha ocorre em vários países do mundo.
São animais pequenos, medem em torno de 4 cm de diâmetro quando adultos. Sua coloração é marrom e possuem pernas longas e finas. Não são agressivas, gostam de lugares escuros, quentes e secos. No ambiente externo, vivem debaixo de cascas de árvores, em folhas secas, em buracos, em telhas e tijolos empilhados, muros velhos, paredes de galinheiro e outros. Dentro das casas, ficam atrás de quadros, armários, entre livros, caixas de papelão e outros materiais que não são muito remexidos. Importante lembrar que materiais de construção (como tijolos, telhas, lajotas, azulejos, madeiras) guardados também servem de abrigo para as aranhas.
Abrigo em ambiente externo
Abrigo em ambiente interno Constroem teias irregulares com aparência de algodão esfiapado e se alimentam de pequenos animais como o tatuzinho e principalmente insetos, como formigas, pulgas, traças, preferencialmente cupins. Como acontecem os acidentesAs Loxosceles saem em busca de alimento à noite, e é neste momento que podem se esconder em roupas, toalhas, roupas de cama e calçados. Os acidentes acontecem quando a pessoa, ao se vestir, ou mesmo durante o sono, comprime a aranha contra a pele. A picada nem sempre é percebida pela pessoa, por ser pouco dolorosa. A dor pode iniciar várias horas após. As alterações locais mais comuns são: dor em queimação, vermelhidão, mancha roxa, inchaço, bolhas, coceira e enduração. Dias após, podem ocorrer outras alterações como necrose, dor de cabeça, mal-estar geral, náusea, dores pelo corpo.
Lesão inicial em coxa, com poucas horas de evolução Ações do venenoParece que o componente mais importante é a enzima esfingomielinase-D que por ação direta ou indireta, atua sobre os constituintes das membranas das células, principalmente do endotélio vascular e hemácias, ativando as cascatas do sistema complemento, da coagulação e das plaquetas, desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada, acompanhado de obstrução de pequenos vasos, edema, hemorragia e necrose focal. Nas formas mais graves, acredita-se que a ativação desses sistemas leva a hemólise intravascular. Medidas preventivasÉ importante salientar que, para uma “praga” se estabelecer em um ambiente, são necessárias algumas condições ideais que podemos chamar de 4 AS:
Assim como as aranhas, qualquer praga, como ratos, baratas, mosquitos, escorpiões, encontrando estas condições, certamente irão se proliferar neste ambiente. Acidente por Phoneutria - Aranha armadeiraAranha do gênero Phoneutria causa acidente denominado “foneutrismo”. Popularmente conhecida como aranha armadeira, devido ao fato de ao assumir comportamento de defesa, apoia-se nas patas traseiras, ergue as dianteiras e os palpos, abre as quelíceras, tornando bem visíveis os ferrões e procura picar. Pode atingir de 3 a 4cm de corpo e até 15cm de envergadura de pernas. Hábitos noturnos, acidentes frequentes dentro de residências e nas suas proximidades, ao se manusearem material de construção, entulhos, lenha ou calçando sapatos. Também pode ser encontrada em bananeiras ou árvores com grandes folhagens. Acidentes mais observados em abril e maio, raramente levam a quadro grave. Picadas preferencialmente ocorrem em mãos e pés.
Aranha armadeira (Phoneutria)
Ações do venenoPeçonha de P.nigriventer causa ativação e retardo da inativação dos canais neuronais de sódio, que pode provocar despolarização das fibras musculares e terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, favorecendo a liberação de neurotransmissores, principalmente acetilcolina e catecolaminas. Também isolados peptídeos que podem induzir a contração da musculatura lisa vascular e aumentar a permeabilidade vascular, independentemente da ação dos canais de sódio. Quadro clínicoPredominam as manifestações locais. A dor imediata é o sintoma mais frequente, apenas 1% dos casos apresentam-se assintomáticos após a picada. Sua intensidade é variável, podendo se irradiar até a raiz do membro acometido. Outras manifestações que podem ocorrer são: edema, eritema, parestesia e sudorese no local da picada, onde podem ser encontradas as marcas de dois pontos de inoculação, priapismo, choque e edema pulmonar. Acidente por Lycosa - Aranha de jardim
Acidentes por Lycosa ou aranha de jardim são frequentes, mas não constituem problema de saúde pública. Aranha errante, não constrói teia, encontrada em gramas e jardins. Os acidentes causados por Lycosa são importantes para o diagnóstico diferencial de loxoscelismo, pois muitas vezes ocorrem no mesmo habitat. Ações do venenoAção proteolítica local. Quadro clínicoEm geral, os acidentes tem pequena repercussão clínica. Após a picada, há o surgimento de uma reação local não muito acentuada, como dor local discreta, edema e eritema leves, que ocorrem em menos de 20% dos casos. Há relatos de necrose superficial no local, mas sem consequências clínicas. Acidentes por caranguejeira
A aranha caranguejeira (Mygalomorphae) possui variado colorido e tamanho, desde milímetros até 20cm de envergadura de pernas. Algumas são muito pilosas. Os acidentes são destituídos de importância médica, sendo conhecida a irritação ocasionada na pele e mucosas devido aos pelos urticantes, que algumas espécies liberam como forma de defesa. Os pelos urticantes podem estar concentrados na região posterior do abdome, de 10.000 a 20.000 pelos por mm. Ações do venenoPodem provocar relaxamento da musculatura estriada em camundongos. Alguns gêneros apresentaram, em animais de laboratório, veneno com ação semelhante ao da Phoneutria. Quadro clínicoDor no local da picada de pequena intensidade e curta duração, às vezes acompanhada de discreta hiperemia local. Não se conhece relato de acidentes graves. Do desprendimento dos pelos, ocorrem manifestações cutâneas e das vias respiratórias altas, provocadas por ação irritativa ou alérgica nos pacientes previamente sensibilizados. Estudos revelam que os testes cutâneos apresentam intensa reação positiva e altos níveis séricos de IgE, demonstrando que a reação de hipersensibilidade aguda contribui para o quadro inflamatório provocados por estas aranhas. Acidentes por Latrodectismo - Viúva-negraÉ o acidente causado pela aranha do gênero Lactrodectus, popularmente conhecida como viúva-negra, flamenguinha ou aranha ampulheta. No Brasil, os acidentes ocorrem na região Nordeste, principalmente no Estado da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. Normalmente ocorrem quando são comprimidas contra o corpo.
A fêmea apresenta o corpo com aproximadamente 1cm de comprimento e 3cm de envergadura de pernas, o macho de 3 a 6mm, não é causador de acidentes. Habitam jardins, parques, gramados e plantações e podem ocultar-se nas residências. Têm hábitos sedentários, fazem teias irregulares, vivem de forma gregária e não são agressivas. Ações do venenoAtua sobre terminações nervosas sensitivas provocando quadro doloroso no local da picada. Sua ação sobre o sistema nervoso autônomo leva à liberação de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos e, na junção neuromuscular pré-sináptica, altera a permeabilidade aos íons sódio e potássio. Não há registro de óbitos. Quadro clínicoDor local de intensidade variável, tipo mialgia, evoluindo para sensação de queimação (15 a 60min após o acidente). Lesões puntiformes, 1 ou 2, com 1 a 2mm e edema discreto. Hiperestesia na área da picada, placa urticariforme, infartamento ganglionar. Frequentemente tremores, contrações espasmódicas dos membros, sudorese local, ansiedade, excitabilidade, insônia, cefaleia, prurido, eritema de face e pescoço. Contratura facial e trismo dos masséteres (“fáscies latrodectísmica”). Opressão precordial com sensação de morte eminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia. ResumoResumo das manifestações clínicas e tratamento nos acidentes por artrópodos de importância toxicológica no Paraná.
Abreviações
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