Por que não vivemos peça

Por que não vivemos peça
Por que não vivemos peça

Foto: Nana Moraes

O espetáculo “Por que não vivemos?”, da Cia. Brasileira de Teatro, ganha nova temporada gratuita em formato virtual. A exibição acontecerá no YouTube entre os dias 11 e 13 de dezembro, com sessões às 8h e 21h. Os interessados deverão garantir os seus ingressos através da plataforma Sympla. A peça foi escrita pelo dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904) por volta dos 20 anos e trabalha temas recorrentes de sua obra, como conflito entre gerações, transformações sociais através de mudanças internas do indivíduo, o legado para gerações futuras e mais; sempre mesclando o drama com a comédia em diferentes linhas narrativas.

Processo de criação

Em junho de 2020, a cia. começou a pesquisar sobre a escuta, a manipulação e detalhe do som, principalmente àquele aliado às palavras, às dramaturgias. Duas peças sonoras da série “Escutas Coletivas” foram realizadas pelo grupo: “Maré”, uma reação artística ao real sobre o Complexo da Maré, localizado no Rio de Janeiro, e “Luto”, um exercício sonoro a partir da peça “Rubricas”, de Israël Horovitz.

A partir da experiência da Escuta Coletiva nasceu o primeiro ato da transposição de ‘Por que não vivemos?’ para a versão digital. Na adaptação de linguagem e meios da peça, a equipe criativa voltou ao trabalho dramatúrgico e reescreveu cenas, moldando cada ato do espetáculo a uma passagem individual. Isto manteve a dimensão e roteiro do texto em três episódios, esteticamente distintos como no espetáculo produzido presencialmente.

‘Por que não vivemos?’ é dividido em três atos

A peça teatral ganhou uma característica diferente de quando a Cia. apresentou nos palcos para o seu vasto público. Desta vez, “Por Que Não Vivemos” será divida por atos. Confira:

Dia 11 de dezembro será apresentado o primeiro ato. Neste episódio, o destaque é para o formato da ESCUTA COLETIVA, sem imagens e com a apresentação, pelo elenco, de suas personagens e relações na obra, além da “festa de reencontro”, proposta na dramaturgia de Tchekhov.

O segundo ato, dia 12 de dezembro, dá novo significado às imagens gravadas para o espetáculo presencial, com cenas executadas ao vivo pelos atores, o que torna mais próxima a experiência realizada digitalmente.

O terceiro e último ato, programado para dia 13 de dezembro, tem os atores e atrizes, a partir de suas casas, em super closes narrando as ações/cenas para o desfecho da peça.

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Teatro

Por Daniel Medeiros 9 DEZ 2021 às 11h33

Por que não vivemos peça

"Por que não vivemos?" - Nana Moraes/Divulgação

A atriz Camila Pitanga chega ao Recife com a peça teatral “Por que não vivemos?”, da Companhia Brasileira de Teatro. O espetáculo, que estreou em 2019 e teve sua circulação interrompida pela pandemia de Covid-19, inicia seu retorno aos palcos pela Capital pernambucana. As sessões no Teatro de Santa Isabel ocorrem desta quinta-feira (9) até sábado (11), às 19h, e no domingo (12), às 18h. “É um renascimento. Eu considero um começar de novo. Por mais que todos nós já tenhamos vivido intensamente essa peça e ela já esteja na gente, houve um hiato enorme. Acho que é uma coisa que vai ser inaugurada no corpo a corpo com o público. Estou muito ansiosa para isso”, comentou a atriz, em entrevista à Folha de Pernambuco. A companhia teatral curitibana encena um texto de Anton Tchekhov (1860-1904), adaptado por Marcio Abreu, Nadja Naira e Giovana Soar. A obra original foi escrita no final do século 19 e publicada apenas em 1923, depois da morte do dramaturgo russo, quando foi encontrada entre os arquivos do seu irmão. Somente a partir dos anos 1990 é que a peça passou a ganhar montagens.

Inacabada, obra permite leituras

“Essa obra vem sendo revisitada por vários artistas do teatro e do cinema, porque ela é muito porosa, repleta de visitas a gêneros de linguagem e passível de leituras múltiplas. É um texto jovem e inacabado, o primeiro escrito por Tchekhov, mas que carrega quase todos os princípios que ele foi desenvolvendo no seu trabalho ao longo da vida”, aponta Marcio Abreu, que assina também a direção da montagem.

Embora tenha sido encontrada sem um título oficial dado por seu criador, a peça ganhou o mundo como “Platonov”, uma referência ao personagem central do drama. Na versão da Companhia Brasileira de Teatro, foi batizada como “Por que vivemos?”. “Esse título vem de uma frase que é dita a certa altura do espetáculo. Uma pergunta que pode ser vista em duas perspectivas, no mínimo. Você pode pensá-la no sentido do passado, mas também no futuro, como uma convocação. É um convite aos sentidos pulsantes e importantes na vida”, explica o encenador. Primeira montagem brasileira Ao trazer o drama russo para os palcos brasileiros, os encenadores optaram por não defini-lo em um lugar ou época específicos. Na trama, o professor Mikhail Platonov (Rodrigo de Odé) participa de uma festa na propriedade rural de uma jovem viúva. O reencontro com um amor do passado faz com que ele reaviva seus dissabores e revoltas. Camila Pitanga interpreta Anna Petrovna, anfitriã do evento. A personagem é a mesma vivida por Cate Blanchett na versão para a Broadway, “The Present”, em 2017.

Para a atriz, a montagem - primeira brasileira - apresenta uma leitura própria da criação de Tchekhov, em diálogo estreito com a realidade do País. “A dramaturgia foi escrita em um período pré-revolução, quando a sociedade russa vivia entre muita perplexidade e a total falta de perspectiva. Acho que era essa também a sensação no Brasil em 2018, quando a gente estava trabalhando nessa peça. Agora, acredito que vamos voltar em outro momento. A necessidade de reação é maior. Vivemos a pandemia e a tragédia de tantas mortes. Mais do que nunca, a frase ‘enterrar os mortos e reparar os vivos’, que é dita no final do espetáculo, é no sentido de honrar essa dor, mas sem deixar de lutar pela vida”, defende a atriz.

Serviço “Por que não vivemos?” Onde: Teatro de Santa Isabel Quando: de 9 a 12 de dezembro; de quinta a sábado, às 19h, e domingo, às 18h

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada), pelo site Sympla

©2020 Folha de Pernambuco. Todos os Direitos Reservados.

DesenvolvimentoPlataforma

A provocação filosófica que o título da nova montagem da Cia Brasileira de Teatro faz é instigante. Ela vem de um dos embates entre o personagem Platonov (Rodrigo dos Santos) e Sofia (Josi Lopes). É ele, figura um tanto controversa, quem questiona: por que não vivemos como poderíamos ter vivido?

Ao escolher a expressão conjugada no futuro do pretérito do indicativo como nome da peça, o diretor Marcio Abreu e sua equipe acabam fazendo, também, um alerta sobre o papel do passado (ou do presente) na definição do futuro.

Entendo esse como um questionamento bem elástico. Serve para falar das escolhas pessoais, profissionais, os caminhos que pretende – ou pretendia – seguir. O que se planejou e o que de fato se construiu. É claro que nessa elaboração há uma boa dose de interpretação pessoal já que não se trata de uma peça de fácil decodificação.

O espetáculo está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte até o dia 18 de novembro. O elenco é formado por Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josi Lopes, Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e Rodrigo dos Santos. Em resumo: eles interpretam amigos ou apenas conhecidos que se reúnem para uma noite de réveillon. O que era para ser festivo, acaba se tornando um momento em que as hipocrisias vêm à tona.

Confira o podcast com Camila Pitanga, Josi Lopes e Márcio Abreu:

Tchekhov

O texto da montagem vem de Platonov (sim o nome do personagem), a primeira peça escrita por Anton Tchekhov, por volta de 1880. Sendo assim, ele tinha 18 anos na época, tentou montar, não conseguiu e guardou. Isso diz um pouco sobre a qualidade do texto em si. A história foi encontrada anos depois da morte dele.

Quem conhece a obra de Tchekhov consegue perceber a partir de Platonov uma nítida expansão da linguagem do autor. Inclusive em termos qualitativos. Para mim, em textos como As três irmãs e Tio Vânia, por exemplo, ele atingiu o ponto alto.

No programa da peça, Marcio Abreu diz que o escritor russo sempre foi para ele uma fonte de aprendizado assim como – novamente – “de expansão de linguagem”. Dessa maneira, tal frase me ajudou a entender o resultado do que foi construído no palco.

Ou seja, apesar da provocação filosófica, a peça me transportou para um lugar mais racional não tanto do tema, mas da forma. Vi ali, um nítido e constante exercício de linguagem da encenação teatral. Um cultivo do ofício da direção, embora haja também, claramente, pesquisas na interpretação.

Por que não vivemos peça
Cena de Por que não vivemos?. Foto: Nana Moraes/Divulgação

Elementos recorrentes   

Quem acompanha a recente trajetória de Marcio Abreu vai encontrar em Por que vivemos? uma série de elementos que tem marcado presença constante nos trabalhos dele.

O primeiro a chamar minha atenção foi a mesa. Em Nós (2016), montagem do Grupo Galpão dirigida por ele, boa parte da trama se passa ao redor de uma mesa. Em Preto (2017), ela também está lá. Nas pesquisas para Outros (2018), também da companhia mineira, os atores fizeram uma performance pelo centro de BH carregando uma mesa. Veja o vídeo aqui!

Em determinado momento de Por que não vivemos? as situações que envolvem os personagens se repetem. Em Nós (2016) também tem isso. Ou seja, a rebobinação da vida é linguagem para Marcio Abreu?

Mistura de linguagem

No segundo ato, entram as imagens em vídeo. O recurso também foi usado pelo diretor em Preto (2017), por exemplo. Não podemos nos esquecer do som. Vozes e ruídos compõem uma paisagem sonora que fazem parte da dramaturgia. Isso também está em Esta criança, em Krum, em Nós, em Preto, em Outros. Ou seja, no teatro de Márcio Abreu.

Bem no finalzinho, aparece algo que até então ainda não tinha visto nas montagens assinadas por ele. Os atores dizem o texto puro, sem interpretação, inclusive com as rubricas. Me pareceu um elemento distanciador, bem valioso para amarrar o todo.

Será que, se entendido como um exercício de linguagem da direção teatral, Por que não vivemos? discute, no fim das contas, a própria teatralidade? Um futuro pretérito do  teatro? E mais: será que, ao se repetir, o diretor também não questiona o próprio caminho?

Bem, pelo visto, a experiência de quase três horas em Por que não vivemos? despertou muito mais perguntas. Talvez seja esse um dos lugares mais interessantes do teatro. Entre as constatações compartilhadas pelo texto, vale destacar duas. É preciso “reparar os vivos” e “movimento, gera movimento”. Seguimos.