Por que o cancer volta

Esta é, com certeza, uma dúvida que assombra muita gente. Não existe uma data precisa, e o acompanhamento oncológico anual é fundamental nos primeiros anos após o tratamento. 

Descobrir um câncer não é fácil. Pacientes e familiares ainda tendem a encarar o diagnóstico como uma sentença de morte, por conta do número elevado de óbitos que ocorriam no passado, quando os tratamentos tinham pouquíssima ou nenhuma efetividade. 

Drauzio Varella, médico oncologista há mais de 40 anos, costuma relatar que houve uma fase em que o tratamento do câncer era basicamente cirúrgico. As operações eram agressivas, e os cirurgiões procuravam retirar não só o tumor, mas também grande margem de tecidos sadios em volta dele. Muitas vezes, por causa de um tumor de 1 cm na mama, era retirado o órgão inteiro, e a paciente era encaminhada para a radioterapia. A consequência mais triste dessa radicalidade bem-intencionada era a mutilação das mulheres.

Com os avanços tecnológicos dos tratamentos – cada vez mais individualizados –, aliados à maior compreensão sobre as características dos tumores, a crença de que o câncer sempre leva à morte vai sendo deixada de lado, e a sobrevida dos pacientes segue aumentando. 

Quando o indivíduo tem a sorte de conseguir o diagnóstico nos estágios iniciais, a chance de cura chega a 80%, independentemente do tipo do tumor. Em outros casos, mesmo com a doença avançada e sem perspectiva de cura, é possível encarar o câncer como uma doença crônica, em que são necessários cuidados e monitoramento constantes, como no caso do diabetes, por exemplo. 

Ainda assim, não podemos esquecer que o câncer é uma enfermidade complexa e de uma diversidade biológica enorme. Os tumores são muito diferentes entre si e se comportam de maneiras distintas em cada pessoa. “Câncer de ovário e leucemia, por exemplo, são duas patologias com menos semelhanças do que insuficiência renal e insuficiência respiratória”, explica Drauzio. 

Alta no tratamento: o que isso significa?

Receber alta de um tratamento oncológico nem sempre significa que o paciente está totalmente curado. Isso acontece porque existem muitas variáveis em jogo, como estilo de vida, genética, tipo de tumor, e se, porventura, ainda exista resquício de células cancerosas no organismo que não foram localizadas nos exames de imagem. 

Para se ter uma ideia, um tumor de 1 cm³ abriga entre 100 milhões e 1 bilhão de células cancerosas; logo, metástases com um número pequeno de células são difíceis de serem detectadas. 

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Cinco anos sem câncer, posso me considerar curado?

Segundo o médico oncologista dr. Rafael Schmerling, líder médico do Serviço de Oncologia do Hcor, esse número é uma medida grosseira e folclórica, porque tudo vai depender do tipo e biologia do tumor e dos tratamentos disponíveis e empregados. 

Atualmente, as pesquisas clínicas mostram que o tumor de mama, por exemplo, pode apresentar recidivas tardias (5 ou 10 anos após o tratamento inicial). Por outro lado, em um câncer de pele tipo melanoma avançado que foi tratado com imunoterapia, se em 3 anos não recidivou, o risco de isso ocorrer se torna mínimo. 

“Nunca vamos ter 100% de certeza, essa é a verdade. Essa marca de 5 anos é o período pelo qual normalmente os pacientes costumam ser acompanhados de perto tanto pelo oncologista responsável quanto pelos estudos clínicos, que costumam acompanhar um grupo de pacientes por um limite de tempo já preestabelecido”, ressalta Schmerling. 

Vigilância ativa após o tratamento

Dr. Daniel Cubero, oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica ainda que o paciente oncológico deve fazer consultas médicas regulares, mesmo se estiver sem sintomas. 

“Ele é acompanhando de perto nos primeiros 2 anos, fazendo exames clínicos e laboratoriais a cada 3 meses. Depois de 2 anos, a periodicidade passa ser a cada 6 meses, até chegar a um ponto em que ele vai fazer essa vigilância ativa uma vez ao ano. Se ele permanecer em remissão completa por 5 anos ou mais, normalmente, pode ser considerado curado. Mesmo assim, algumas células cancerosas podem permanecer no corpo por muitos anos após o tratamento e fazer com que o câncer volte um dia”, explica.  

O que muitas vezes é possível estimar, baseado em estudos do próprio comportamento do tumor, é a probabilidade de recidiva com o passar dos anos. “Por mais que seja um dos maiores desejos do paciente nas consultas, é muito difícil dar informações tão precisas para uma doença com tanta peculiaridade”, afirma o dr. Drauzio. 

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Risco de recidiva e envelhecimento 

Dependendo da idade, um em cada quatro pacientes corre o risco de desenvolver um segundo tipo de câncer, sem que ele tenha qualquer relação com o primeiro ou seja originário de metástase. Foi o caso da apresentadora Ana Maria Braga, que teve três tipos de tumores diferentes num intervalo de 30 anos.

“Infelizmente, nada impede que o paciente mesmo curado do primeiro câncer desenvolva outro. Ainda mais a partir do envelhecimento do indivíduo, que se torna um fator de risco importante. Pacientes com câncer que fumam também têm maiores riscos de recorrência do tumor, por isso é importante ficar atento”, reforça o dr. Daniel Cubero. 

Devido à complexidade do câncer, que não diz respeito a uma única doença em si, mas a um conglomerado de sintomas específicos, muitos pacientes vão aprendendo a trocar a palavra “cura” por “controle” e conseguem ter uma qualidade de vida adequada. Por isso é de extrema importância tentar manter os exames em dia e evitar hábitos que comprovadamente fazem mal à saúde, como fumar e não praticar exercícios físicos. 

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Ficar atento aos sintomas de recidiva pode ajudar a identificar rapidamente que o câncer voltou. Apesar disso, não deve se tornar uma preocupação extrema para o paciente. O ideal é fazer a manutenção do tratamento conforme orientada pelo oncologista, para que os exames possam ser realizados e avaliar se o resultado se manteve. Para algumas neoplasias malignas hematológicas, o prazo de cinco anos após a remissão ainda é considerado o mais provável para acontecer uma recidiva.

Primeiramente, é importante lembrar que a remissão se dá quando o paciente não apresenta nenhum sintoma ou sinal da doença. Ou seja, quando não é possível detectar a doença por meio de exames, mesmo aqueles mais sensíveis, que conseguem identificar as células cancerosas em pequenas quantidades.

Quando isso acontece, não se pode dizer que a pessoa está curada justamente porque o câncer pode retornar, dando-se o nome de recidiva. Somente após alguns anos sem que a doença volte, pode-se considerar que houve a cura. 

“Na maioria das neoplasias onco-hematológicas, cinco anos sem retorno da doença é considerado cura. Mas, existem doenças que o objetivo não é a cura, que o paciente fica muitos anos (até mais de cinco) em remissão mas a doença volta. Então, cada caso é um caso”, conta a Drª. Talita Maira Bueno da Silveira da Rocha, onco-hematologista do A.C.Camargo Cancer Center. 

Isso acontece em alguns casos de linfoma, como na micose fungoide. Nessa doença, o intuito do tratamento é controlar os sintomas e oferecer uma boa qualidade de vida.

A Drª. Talita explica que a característica genética do câncer é o motivo mais comum para uma recidiva. Isto é, a mutação que gerou aquele tumor, faz com que ele tenha maior probabilidade de retornar. Em segundo lugar, e mais raro, é por erro da escolha de tratamento.

Sintomas de recidiva

Todas as pessoas que passam por um tratamento oncológico, ficam apreensivas com a possibilidade de sofrer com as chamadas recidivas do câncer. Este é o nome dado quando o câncer e seus sinais voltam após algum tempo da finalização do tratamento.

Mas como sempre gostamos de destacar, a informação é uma grande ferramenta para trabalhar contra o câncer e todas as outras doenças. Por isso, buscamos, com este artigo, esclarecer como ocorrem as recidivas e como seguir com o acompanhamento médico é importante para prevenir, diagnosticar e tratar as recidivas do câncer.

O que são, exatamente, as recidivas do câncer?

As recidivas do câncer são caracterizadas pelo reaparecimento da doença, que pode ser no mesmo local ou em outros órgãos. Quando o câncer se espalha para outras partes do corpo, ele ainda é nomeado pelo local onde a doença foi detectada pela primeira vez.

Por exemplo: uma pessoa teve câncer na próstata, passou pelo tratamento e entrou em remissão — ou seja, teve “alta”. Tempos depois, se há a descoberta de um câncer em outro órgão, ainda assim ele é nomeado como câncer na próstata.

Como e por quê ocorrem as recidivas do câncer?

A recidiva do câncer ocorre quando pequenas áreas tumorais permanecem no corpo após o tratamento. Trata-se de micro metástases, que são indetectáveis por exames de imagens, mesmo os mais modernos.

Com o passar do tempo — que pode ser meses ou anos — essas células podem se multiplicar indiscriminadamente, levando ao desenvolvimento de um novo câncer.

Um tumor de 1 cm³ pode abrigar até 1 bilhão de células cancerosas. Por essa informação, é possível perceber como se torna impossível a detecção de poucas células tumorais no local atingido.

Quais os tipos de recidivas do câncer?

Como citamos, o câncer em recidiva pode reaparecer no mesmo local onde foi diagnosticado inicialmente ou em outras regiões do corpo. De acordo com essa localização é que se costuma classificar os diferentes tipos de recidiva. Assim, temos:

  • recidiva local: é quando o câncer volta no mesmo lugar onde houve a primeira ocorrência da doença;
  • recidiva regional: o câncer volta nos linfonodos próximos à região do primeiro câncer;
  • recidiva metastática distante ou metástase à distância: quando o câncer volta em outra parte do corpo, geralmente distante de onde ocorreu pela primeira vez. É quando uma paciente, a princípio com câncer de mama, desenvolve a doença nos pulmões, fígado ou câncer nos ossos, por exemplo.

Há como prever a possibilidade de recidiva?

Infelizmente, não existe uma forma exata que torna possível prever a probabilidade de que, após a remissão da doença, haja o ressurgimento do câncer, isto é, a recidiva. Existem para alguns tipos de câncer alguns algoritmos para estimar uma probabilidade de recidiva, contudo ainda sim, é uma forma inexata de calcular essa probabilidade de recidiva.

O que se tem conhecimento, porém, é que quanto mais difícil de tratar um câncer, mais possibilidades ele tem de reincidir, especialmente se:

  1. teve crescimento acelerado;
  2. já se disseminou para outras regiões.

Cada tipo de câncer apresenta um padrão tipo de recidiva. Por isso, é fundamental seguir as orientações do cirurgião oncológico para o seguimento após a finalização do tratamento. Com o acompanhamento regular com o oncologista, e uma rotina de exames periódicos, qualquer indício de retorno da doença pode ser mais facilmente identificado.

Como fatores nutricionais e psicológicos podem ajudar na prevenção?

O que já se sabe sobre a influência dos alimentos na prevenção do câncer — seja na primeira ocorrência ou em recidivas — ainda é muito inconclusivo. No entanto, está comprovado que as consequências da má alimentação, sobretudo a obesidade e o sobrepeso, estão entre os principais fatores de risco para a recidiva do câncer.

Ao mesmo tempo, o organismo de pessoas com déficit nutricional pode ter mais dificuldade em combater a doença, prejudicando a evolução do tratamento. Por isso, a dieta equilibrada é uma das chaves para prevenir as manifestações da doença.

Aliada à alimentação, a prática de atividades físicas atenua os efeitos colaterais da quimioterapia, ajuda a melhorar a imunidade e controlar o sobrepeso. Além disso, se adotadas práticas como ioga, meditação, os exercícios melhoram o estado psicológico e emocional do paciente. Sob menos estresse e ansiedade, os riscos de desenvolvimento de doenças fica ainda menor.

Neste sentido, contar com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (com a presença de nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos e outros profissionais que apoiem a melhora na qualidade de vida), tem impacto positivo na recuperação do paciente e na prevenção de novas ocorrências.

Como é o diagnóstico e tratamento das recidivas do câncer?

O diagnóstico das recidivas do câncer normalmente se dá em uma das consultas de retorno ao oncologista. A detecção é feita da mesma forma que ocorreu da primeira vez, em geral por exames de imagem.

Os protocolos de tratamento são muito variados, já que depende de qual é o tipo de recidiva. Além disso, pode ser que as células da recidiva tenham resistência aos medicamentos utilizados na primeira vez. Neste caso, será preciso mudar de estratégia de abordagem.

Por essa razão, reforçamos a necessidade de manter a vigilância e contar sempre com uma equipe qualificada. Se você tem dúvidas sobre os tipos de câncer, pode encontrar mais conteúdo de orientações aos pacientes aqui mesmo em nosso site.