Em presença de ar e a mesma temperatura, o que queima

Os principais fatores que alteram a velocidade de uma reação são: superfície de contato, temperatura, presença de catalisadores e concentração dos reagentes. Vejamos cada um desses:

• Superfície de contato:

Isso pode ser visto por meio de dois exemplos simples:

1º) Se queimarmos ao mesmo tempo uma palha de aço e um prego, sabemos que com certeza a palha de aço reagirá mais rápido, embora ambos tenham como componente principal o ferro;

2º) Se colocarmos dois comprimidos efervescentes na água, sendo que um está pulverizado e o outro está inteiro, o que reagirá mais rápido será o pulverizado. Observe na ilustração abaixo que o comprimido triturado demora apenas 28 segundos para terminar de reagir, enquanto que o comprimido inteiro demora 1 minuto e 4 segundos.

Isso ocorre porque as colisões entre as partículas dos reagentes se realizam na superfície; assim, quanto mais superfície de contato tiver, ou seja, quanto mais fragmentado estiver o sólido, maior é o número de partículas da superfície que ficarão expostas, aumentando a quantidade de colisões e a velocidade da reação.

• Temperatura:

Segundo a regra de Van’t Hoff, um aumento de 10°C faz com que a velocidade da reação dobre. Isso significa que para a grande maioria das reações:

Vejamos alguns exemplos:

1º) A velocidade de decomposição dos alimentos diminui quando diminuímos sua temperatura, colocando-os em refrigeradores;

2º) Os alimentos cozinham mais rápido quando usamos a panela de pressão, pois a água ferve em temperaturas mais altas;

3º) Quando colocamos dois comprimidos efervescentes inteiros, um em água fria e outro em água quente, o que está na água quente reagirá muito mais rápido.

Isso ocorre porque o aumento da temperatura aumenta a energia cinética das moléculas, aumentando os números de colisões e, consequentemente, aumentando a velocidade da reação.

• Catalisador:

Isso é possível porque o catalisador gera um caminho alternativo para a reação ao se combinar com o reagente, criando um composto intermediário entre os reagentes e os produtos, que, posteriormente, transforma-se no produto da reação e regenera o catalisador inicial. Desse modo, a energia de ativação é menor, acelerando a velocidade da reação.

Um exemplo é a reação do açúcar com o oxigênio. Um pirulito exposto somente ao ar demora séculos para reagir, enquanto que ao entrar em contato com a saliva, as enzimas presentes agem como catalisadores, pois agem sobre o açúcar, criando moléculas que reagem mais facilmente com o oxigênio.

• Concentração dos reagentes:

Isso é explicado porque, quando aumentamos a concentração dos reagentes, a quantidade de partículas por unidade de volume aumenta e o número de choques efetivos entre as moléculas também; consequentemente, a velocidade da reação também aumentará.

Isso pode ser observado no caso do carvão queimando em presença do ar. Visto que o ar é composto de apenas 20% de moléculas de oxigênio (O2), a reação ocorre de forma lenta. Mas se colocarmos o carvão em um frasco com oxigênio puro, ele se inflama, pois todas as partículas que estarão colidindo com o carvão serão de oxigênio, que participa da reação.

Aproveite para conferir nossas videoaulas relacionadas ao assunto:

Ouça este artigo:

A atmosfera, camada gasosa que envolve a terra, é composta por diversos gases, vapores, microrganismos e outras partículas. Alguns destes componentes são sempre encontrados no ar e constituem quase a sua totalidade, sendo, portanto denominados componentes constantes. Outros não aparecem de forma tão frequente quanto os primeiros e sua presença na atmosfera depende de alguns fatores (clima, ventos, poluição) e, por isso, são denominados componentes variáveis do ar.

Componentes constantes do ar

Em presença de ar e a mesma temperatura, o que queima
Em presença de ar e a mesma temperatura, o que queima

Atmosfera terrestre. Foto: NASA.

Nitrogênio – 78% do ar atmosférico são compostos pelo gás nitrogênio (N2), sendo, portanto, o componente mais abundante do ar. Este gás é formado pela união de dois átomos de nitrogênio e é o mais leve de todos os gases que se conhece: sua densidade pode ser até 14 vezes menor do que a do ar, o que explica sua abundância.

Oxigênio – Este gás aparece na atmosfera numa proporção de aproximadamente 21%. O gás oxigênio (O2) é indispensável à respiração celular: ao ser inspirado, ele é levado até todas as células do organismo e reage com a glicose (C6H12O6), produzindo água (H2O), gás carbônico (CO2) e a energia necessária à realização de todas as atividades do corpo. As plantas produzem oxigênio durante a fotossíntese (num mecanismo praticamente inverso à respiração celular), liberando-o à atmosfera. Além disso, o oxigênio também é o principal comburente, ou seja, ele “alimenta” o processo de combustão.

Gás carbônico (ou dióxido de carbono) – Este gás é um dos produtos da respiração celular, sendo liberado ao ambiente. As plantas utilizam o gás carbônico no processo de fotossíntese, produzindo a partir dele a sua reserva de carboidrato. Um das causas do efeito estufa é o excesso deste gás na natureza, o que se deve à queima de combustíveis fósseis, os combustíveis formados pela decomposição da matéria orgânica (petróleo, carvão e gás natural).

Gases nobres – também conhecidos como gases raros, os gases nobres pertencem ao grupo 18 da tabela periódica, cujos membros são: hélio (He), neônio (Ne), argônio (Ar), criptônio (Kr), xenônio (Xe) e radônio (Rn). Estes gases são os componentes menos abundantes da atmosfera.

Vapor d’água – O vapor d’água é proveniente da evaporação das águas dos oceanos, rios e lagos pelo calor solar, e sua quantidade presente no ar atmosférico varia de acordo com a temperatura, a região do planeta, a estação do ano, entre outros fatores. Alguns fenômenos importantes à vida se devem ao vapor d’água, como a formação das nuvens, a chuva e a neve.

Fuligem – a fuligem é um material espesso formada por átomos de carbono ligados desordenadamente, e é resultante da combustão incompleta de compostos orgânicos, como, por exemplo, combustíveis fósseis, tabaco, madeira, entre outros. Tal substância pode causar danos à saúde humana, em especial, problemas respiratórios.

Poeira – também conhecida como pó, a poeira consiste num conjunto de partículas sólidas lançadas no ar por meio de ventos, demolições, erosão do solo, desgastes de materiais. Os grãos de pólen, fiapos de algodão, lã, poeira de carvão, pó de rocha e pó de materiais de construção são alguns exemplos de poeira.

Microrganismos – na atmosfera, os microrganismos estão presentes em grandes quantidades. Normalmente, eles se encontram associados à poeira e são causadores de diversas doenças, entre elas a gripe, tuberculose, pneumonia e tétano.

Referências:
http://www.soq.com.br/conteudos/ef/ar/p1.php
http://www.consultoriaambiental.com.br/artigos/composicao_do_ar_e_impurezas.pdf
http://www.leb.esalq.usp.br/aulas/lce200/Cap6.pdf


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Do que fica exposto se conclue facilmente, que não é bem á differença effectiva de peso dos dois fluidos (o acido sulfuroso e o ar) que se deve o funccionamento do instrumento; porque, como se disse já, o gaz acido arrasta comsigo, e sae promiscuamente com o azole almospherico, residuo da combustão ; e por consequencia a grande differença de densidades (1:2,234), que obleriamos quei. mando o enxofre no oxygenio puro, fica n'este caso muilo reduzida, e chega a sér insignificante.

A demonstração d'isto é facil e clara : Nós sabemos que em 100 volumes de ar atmospherico, supponhamos 100 litros, a 0°C. e a 0",76 de pressão, existem, despresando as suas impuresas, em numeros redondos, 24 de oxygenio, e 79 de azote; que os 21 litros de oxygenio pezam 30gr.,025, e que os 79 litros de azole pezam 99gr., 275, total, grammas, 129,30.

Ora, os 3Ogr.,025 de oxygenio ou os 21 litros, para se transformarem completamente em acido sulfuroso, requerem um egual peso de enxofre, isto é: 30gr.,025; portanto, logo que houverem passado 100 litros d'ar no sulfurador, e combustado aquelle peso de enxofre, o volume total da massa gasoza ficará sem duvida sendo o mesmo; pois que 21 litros de oxygenio, produzem exactamente 24 litros de gaz solfuroso; mas o seu peso, augmentando da quantidade de enxofre com que se combinou o oxygenio, fica sendo egual a 1298r.,30 + 308r.,025 = 1598r.,325, ou de 18r.,69325 ( 159. 9.505 ) por litro, seja 18r.,6.

gr.325 Por consequencia cada litro de gaz que sae pelo tubo injector do apparelho, sendo uma mistura de 79 partes, em volume, de azote, por 21 de gaz acido sulfuroso, pesa 18r.,6, e não 2gr., 88, que é o peso, proximamente, de 1 litro de gaz sulfuroso puro.

Vemos, pois, que a mistura dos dois gazes fica pesando menos, em egual volume, que o acido carbonico (1 litro d'este gaz pesa (gr.,98); e que a differença de densidades, que seria de 4:2,234, se empregassemos no sulfurador o oxygenio puro, em logar de ar, fica reduzida á que vae de 1,293 : 1,600, ou de 1: 4,232; o que faz parecer, que em laes circumstancias, este sulfurador não pode vertero acido sulfuroso do seio do acido carbonico, bem no ar, á lemperatura ordinaria, quando a temperatura do acido for de cerca 70° C.

Esla tendencia ao equilibrio ou anniquillamento da força descensional do gaz sulfuroso, foi remediada facilmente por um artificio muito simples, que angmenta á nossa vontade a velocidade da descida e saida do gaz do apparelho, e por tanto a rapidez do esgolamento e a força da injecção.

O expediente a que recorremos para conseguir este resullado, consiste em dar ao tubo injector um comprimento tal, que vença de sobejo, a pressão que o ar (ou acido carbonico) oppõe å sạida do gaz do instrumento.

Com effeito, augmentando o comprimento do injector, augmenta-se a altura da columna do gaz sulfuroso dentro do tubo; tanto maior for a altura da columna gasoza, dentro do apparelho, tanto maior será o seu peso, e portanto, a pressão exercida pa base d'aquelle tubo;, logo que esta pressão for superior á que exerce em sentido opposto, na mesma başe, o meio em que se ha de verler o acido gasozo, este sairá, e com uma velocidade proporcional a differença d'essas pressões.

Na pratica, mesmo em casos desfavoraveis, geralmente, nuaca o tubo injectér precisa ter um comprimento superior a 4.00 5 decimetros.

Com estas dimenções, consegue-se, com a maior facilidade e presteza, lenar o fumo do enxofre até ao fundo das vasilhas, seja qual for a sua lotação.

Resumindo, vemos finalmente, que, por uma coincidencia feliz, o sulfurador automatico, injecta ou introduz, dentro de quaesquer vasilhas, o azote e o fumo do encofre, dois gazes dos mais preciosos, de tres que a chimica conhece, para a conservação dos vinhos e d'outras bebidas fermentadas.

(Continua).

M. V. DA SILVA PINTO.
Preparador de chimica e physica no Instituto industrial e commercial de Lisboa.


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Sr. F. Beirão entende, que não se podem pedir em embargo o cancelamento, por diversas rasões, elc., e que se não pode allegar nos embargos à nullidade ou falsidade da hypotheca mas só proval-a por sentença.

Sr. Holtreman, contradiz que não se possa allegar nos embargos a falsidade ou nullidade da bypotheca.

Fallaram ainda os srs. Oliveira, Penha e Costa e Pinto Coelho. Segundo este ultimo, o registo não dá nem tira direitos mas é apenas uma circumstancia para que os direitos produzam effeito e por isso perde todo o valor juridico desde que o direito cessa; que se a hypotheca se extingue por falsa, cahiu por si mesmo o registo, etc.

O vice-presidente observando que o ponto em discussão era uma duvida apre. sentada por um socio sobre a qual, segundo o regulamento, não tiaba que haver: votação, deu por concluido o debate.

Escola Polytechnica de Lisboa:

A 27 de outubro findo se abriram as aulas n'esta escola.
Os alumnos premiados, no ultimo anno lectivo foram os seguintes:
1.a cadeira: 1.° premio-Francisco Felisberto Dias Costa.

2. cadeira: 1.° premio-João da Costa Couraça: 2.° premio - José Maria Barradas Pacheco,

3. cadeira: 1.° premio-Antonio Carlos Coelho de Vasconcellos Porto.

4.a cadeira: 1.° premio— João Martins de Carvalho Junior: 2.o premio Paulo Benjamim Cabral.

5. cadeira: 1.° premio-Francisco Felisberlo Dias Costa. ?

6. cadeira: 1.o premio- José Maria Barradas Pacheco: 2.° premio-João da Costa Coaraca,

7. cadeira: 1.° premio-José Fernandes de Sousa e Paulo Benjamim Cabral

9,* cadeira: 1.° premia- Antonio Carlos Coelho de Vasconcellos Porto: 2.° pre. mio-João Martins de Carvalho Junior: Accessit - Joaquim Faustino Pucas Leitão.

Chimica organica: 1.° premio-Antonio Carlos Coelho de Vasconcellos Porto.
Geometria descriptiva: 1.° premio-Augusto Cesar de Abreu Nunes.

As disciplinas das cadeiras, os professores que as regem no presente anno lectivo e o numero dos alumoos matriculados em seguida apresentamos.

4.* cadeira- trigonometria espherica, algebra superior, geometria analyticaprofessor, Marianno Ghira-59 alumnos.

2. cadeira-calculo differencial, calculo integral, calculo das variações e das probabilidades, cynematica--professor, Augusto José da Cunha--16 alumnos:

3.* cadeira---mechanica racional e machinas-+professor, Francisco da Ponte e Horta--15alumnos.

4.9 cadeira-astronomia e geodesia--professor, Marianno Cyrillo de Carvalho 11 alumnos.

5.a cadeira--physica-- professor, Adriano Augusto de Pina Vidal-72 alumnos.

6.a cadeira -chimica inorganica--professor, Antonio Augusto de Aguiar-39 alumnos.

7.* cadeira-mineralogia e geologia-professor, dr. Francisco Antonio Pereira da Costa-11 alumnos.

8.* cadeira- analomia e physiologia comparadas e zoologia-professor, dr. José Vicente Barbosa du Bocage-22 alumnos.

9. cadeira--botanica-professor, Conde de Ficalho-30 alumnos.

10.o cadeira-economia politica, principios de direito administrativo, principios de direito commercial--professor, Luiz de Almeida e Albuquerque-14 alumnos.

Geometria descriplina-professor, Luiz Porfirio da Moita Pegado.* parte, 14 alumnos; 2. parte, 8.


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William Lowell é um livro cheio ainda das indecisões de quem não é bem senbor dos seus pensamentos e de quem desconhece importantes segredos da arte.

Em 1796 publicou «Peter Leberecht ou historia sem aventuras, obra que não tivemos occasião de ver; mas de que uns criticos dizem ser documento comprovativo de uma robusla imaginação, respirando em cada pagina o perfume dos sentimentos ingenuos e a mordaridade espirituosa que distingue o poeta e o caracterisa; e outros dizem ser uma composição satyrica escripta sob a influencia do racionalismo, e toda ella com pouco interesse.

Em 1797 publicou os Contos Populares de Peter Leberecht (2 vol). Aqui, seguindo as pisadas de Musoeus, o Perrault da Allemanha no seculo XVIII, ressuscilou e rejuvenesceu as tradições populares, as velbas lendas germanicas, os romances de cavallaria, as poesias legendarias e fugindo da imitação estrangeira abriu fontes novas e inexhauriveis ás producções do genio nacional.

Já antes d'elle Goethe allrabira para a contemplação da edade media as attenções da Allemanha pelo seu Goetz von Berlichingen. Debaixo da nova forma as velhas poesias fabulosas conservaram todavia a fé pura e a sinceridade e ingenuidade primitivas que marcam o balbuciar poetico dos povos. D'este modo Tieck acceitando a edade media, acceitou-a naturalmente com todas as suas consequencias e acceitou até o catholicismo d'ella.

Era Tieck um espirito incoherente e contradictorio, impressionavel em summo gráo pelo bello, flexivel e docil, brando para as emoções doces e indomavel e irascivel para os rijos ataques. Esta fluctuação constante do seu espirito, esta falta de fixidez, explica talvez a diversidade de modos de ser dos seus tres periodos poeticos e a frouxidão com que se prendia as suas crenças religiosas.

Revelando ainda em muitas composições, como o Barba Azul, o Gato de botas, elc., em que a satyra brola expontanea da bem combinada alliança do phantastico e do vulgar, do burlesco e do ideial, a sua vocação para a critica litteraria, entrou em seguida Tieck da segunda phase de escriptor com a publicação das Viagens de Sternblad em que mostrou o seu entranhado culto pelo bello e os seus profundos conhecimenlos de esthetica. Um biographo diz que Siernblad é o panegyrico da arte na edade media, é uma declaração de guerra á poesia materialista.

Por esta occasião converteu-se a religião catholica e mais tarde voltou a modificar as suas crenças e opiniões religiosas, fazendo quanto possivel por que esquecessem esle episodio da sua vida. Unido com Schlegel, Novalis, Steffens e Schelling, foi um dos mais ardentes apostolos do romantismo.

Traduziu admiravelmente o D. Quicote de Cervantes e publicou em 1801 e 1802, em Dresde, de parceria com Guilherme Schlegel um Almanach das Musas, que lhe grangeou inimigos formidaveis; mas ainda mais amigos, sobretudo na geração nova; e depois de uma viagem que fez a Inglaterra em 1817, estudou a litteratura ingleza, apaixonou-se por Shakspeare e emprehendeu a traducção das suas obras, traducção que foi feita sob o seu influxo por sua filha Sophia, com o auxilio do conde de Baudissin.

Depois de 1820, Ludwig Tieck abandonou muito o maravilhoso, a poesia dos contrastes com que se illuminavam, talvez exageradamente, as suas obras, e baseou as suas novas producções no estudo severo da bistoria, na observação conscienciosa dos factos e na analyse fria das realidades do mundo.

N’esta lerceira phase da sua vida publicou o livro der Dichtersleben (a vida do poeta, 1828) em que apparecem Shakspeare e os seus contemporaneos, e o livro der Tod des Dichters (a morte do poeta, 1829) em que se representam os ultimos momentos de Camões.

Em Dresde, Tieck reunia uma sociedade de artistas e litteratos, que elle encantava tanto pela sua conversação como pela leitura, que sabia fazer admiravelmente das obras primas de todos os seculos. Os que assistiram aos seus saraus litterarios fallam do seu talento de leitor como de um goso intellectual semelhante ao que altrahia o publico francez ás representações de Talma.

J. Ampère que teve ensejo de ouvir por varias vezes o grande poeta diz que em toda a Allemanha ninguem lia como elle, principalmente os dramas de Shakspeare. A este respeito o escriptor francez exprime-se assim: «Senti, ouvindo aquellas leituras, um prazer que nunca imaginei; prazer só comparavel ao que daria, se fosse possivel, uma representação em que todos os actores fossem excellentes; e para algumas peças, uma coisa melhor ainda talvez. Era completa a verdadeira illusão da arle, a que nasce dos sentimentos naturaes expressos com a verdadeira accentuação. E continua muito tempo no mesmo tom.


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e representando por Wi' o volume total do solido proposto teremos

Se fosse dada a semi-secção recta & De2 E4, seria

4 Wi' = 2 á b C (15

c T

3 suppondo ser eD=a'.

Vamos agora applicar o segundo methodo, para o que tomamos para planos coordenados dos xy, xz e yz, respectivamente, o plano de nascença, e os planos verticaes CX e CY parallelos aos planos dos arcos de testa.

Seja o duodecagono to ti na si 82 r. 1913 r3 $3 so rolo uma secção horizontal qualquer, do solido proposto; e prepresentando por Ay' a área d'este polygono, será

Ai'
= (2 a- a — 2 x) 2 y sen 0 + 2 b sen .0.2 x

2
4 (ay + bx cu) sen . 9.

..... (); mas as ellipses directrizes (df, d'C' fco'd'), (eg, e' C'g'ei'e') dão respectivamente

6 Cpa

(Si), Cps =y= (,

.. (1) logo

ta

ab Wi'

4 1. zodz

Fazendo 0 = 90° obteremos a formula para o caso da abobada d'aresta rectangular.

13. Quando os polygonos não são regulares, escolhe-se a projecção horizontal C do ponto de concurso das arestas, da maneira que dissemos no n.o 7.

Suppondo que o intradorso da abobada tem por baze um quadrilatero DEFG (fig. 13). os quatro semi cylindros bitruncados, em que se decompõe o solido correspondente, serão desegnaes, pelo que teremos d'avaliar separadamente o volume de cada um d'estes solidos parciaes.

Querendo applicar o segundo melhodo teremos tambem de decompor o solido proposto n'aquelles mesmos solidos para então obter o seu respectivo volume.

Vejamos pois como se obteria pelo emprego da formula (1) o volume d'om qualquer d'estes solidos componentes, por exemplo, o volume Va' do que se projecta horizontalmente segundo o triangulo CEF, por serem analogas as formulas que dão os volumes dos restantes solidos.

Tomemos para eixos coordenados dos x, y ez respectivamente a mediana Cfx, a parallela CY a EF, e a vertical que passa por C. Faremos (fig. 13 e 14). cf = A, fE=fF=b, OC=C; bem como o angulo XCY=0; e seja o penta


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A progressão, sempre crescente, das receitas publicas ó phenomeno rarissimo.

Pelo rapido estudo, que vamos fazer, com relação ao Brazil veremos como caminhou-e caminha- rapida e constantemente o augmento dos reditos do Estado, o que, evidentemente, nos fará ver que é essa a marcha tambem da riqueza, das forças vivas do paiz.

Como diz Carlos Coquelin, entre outros: «tout est relatif dans le poids des contributions publiques. Un peuple riche peut en payer, bien plus qu'un peuple pauvre, et, comme ses besoins généraux augmentent à peu près dans la proportion de la richesse, il est naturel qu'on lui en demande davantage.

«Son budget général s'éléve donc par la force même des choses à mesure que sa richesse s'accroit, et c'est en ce sens qu'on peut dire assez rigoureusement que le budget, en comprenant toujours dans celle dénomination l'ensemble des contributions publiques de quelque nature qu'elles soient, est généralement en rapport avec la richesse du pays».

Geralmente é claro, porque muitas vezes estão os povos sobrecarregados de impostos, que pagam, é verdade, sem que isso indique que está rico. É isso, então, devido a más administrações, a despesas ruinosas e improductivas, porque é evidente que o imposto, a contribuição bem empregada nunca é onerosa para quem a paga, pois sempre lhe traz um certo numero de commodidades e melhoramentos.

Quando é mal empregada já não succede assim.

Realmente qual é o povo que, depois de sustentar uma guerra, por exemplu, para que teve de concorrer com Imbutos pesados, ainda que a sua renda tenha augmentado, se pode dizer rico? Muito poucos.

Mas, se esse povo sustentou esses sacrificios com uma tal ou qual facilidade, e, terminadas essas circumstancias anormaes, a receita, longe de diminuir, continúa a augmentar-não se tendo lançado mão de novas imposições - é porque o seu futuro é prodigioso de grandesa!...

Acabamos de historiar o que se deu no Brazil.

Assim, n'esse estado, a receita augmenta constantemente de 1831 para cá, e o orçamento fechou-se, quasi sempre, um saldo favoravel. Chega porém uma circomstancia anormal-a guerra com o Paraguay-são necessarias imposições novas, contribuições pesadas e, muitas vezes, vexalorias: o paiz paga-as silencioso e sem murmurios. A pesar d'isso, porém, o orçamento accusa um deficit espantoso' nos annos de 1865-1870; mas terminada a guerra, e com ella a enorme despesa que se fazia— lendo a receita sempre augmentado encontra-se no exercicio financeiro de 1871-72 um saldo favoravel de perto de 4.000:000$000 réis!

Quaes as nações, que podem apresentar um exemplo tão notavel de força de vida? Bem poucas.

II Comecemos.

Constitue receita publica:-a renda municipal, a provincial e a geral.


Occupar-nos-hemos somente d'esta ultima.

D'aquellas apresentaremos os seguintes algarismos: a renda provincial orçada em 1867, em cerca de 14.000 contos elevou-se no exercicio de 1870-71 a 19.035.

oma da receita e despeza incluindo os depositos, foi a seguinte nos annos:


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vicola da Extremadura. A vara é gemida e voltada em argola até vir atar com vime ao corpo da cepa. Tem nas localidades o nome de empa de chouriça, de argolla etc. Os tres fabricos, escava, cava a monte, e redra ou arrenda são geralmente feitos nas vinhas baixas de toda a região.- A mettição do bacello varia de 20 a 40$000 réis por milheiro.

As castas de uvas são na maior parte as que se encontram em Traz os Montes, e para não repetirmos a sua lista apenas mencionaremos algumas de nome differente posto que talvez uma ou outra o não sejam realmente em natureza. Alfrocheiro,- Penamacor,-- Negra moura, - Boca de mina, - Boal de Santarem, - Fernão

, Pires,— Borra mosca.-- Xara,- Baga,- Boal cachudo, – Tinta do Peral, - Preto Martinho, - Alvadorão, - Pilongo,---Bemfeita, --- Uva de cão, ---Terrantez,- Amaral,

, , — Meirinho,-- Cidreirinha,- Escabelado, -- Alvar,-- Esganacão, - Baltar,- GnedeTho. Todas ou quasi todas estas novas castas se encontram na região do Douro,que como já dissemos é o solar de todas as castas de uvas portuguezas, que d'ali tem sabido, e sahem ainda para as outras regiões vipicolas do reino.

As vindimas começam geralmente pelo S. Miguel, e concluem até 10 de outubro.

Á parte os mostos das uveiras cuja graduação, como nas do Minho, varia de 12 a 18 0%, os mostos das vinhas baixas pouco diversificam em graduação de assucar na maioria dos centros vinhaleiros. Geralmente a percentagem oscilla entre 20 e 24. Poucos descem a 18, e poucos se elevam a 30.

Mais difficil se nos torna ainda n'esta região a classificação dos vinhos sem deixar em silencio muitos que mereceriam ser assignalados. Ligamo-nos inteiramente n’esta parte ao que nos diz o sr. A. A. de Aguiar no seu a todos os respeitos magnifico relatorio que fez parte da primeira memoria sobre os estudos vinicolos do reino, já citada, ás informações que de alguns lavradores temos obtido, e bem assim as que nos forneceram os srs. intendentes da pecuaria de Coimbra, de Castello Branco e da Guarda.

Dividiremos a região vinicola da Beira em cinco sub-regiões de vinhos maduros, e em uma sexta região de vinhos verdes.

1. Sub-região. Vinhos do Dão. Fóra da demarcação da região do Douro, são estes os vinhos do districto de Viseu que tem grangeado melhor fama. A bacia do rio Dão é um centro muito productivo em vinhos geralmente bons, e alguns dos quaes entram no grupo dos vinhos distinctos e generosos.

Podem-se faser os seguintes agrupamentos d'estes vinhos.

1.Vinhos de Tondella, em que são notaveis os vinhos de Lobão, Lageosa, Ferreiroz, S. Miguel do Outeiro, Tonda, Tondella, Nandufe, Castellões, S.' Eulalia, Mollelos, e outros ainda.

2.° Vinhos de Nellas, em que se recommendamos do Carvalhal Redondo e Villor Secco.

3.° Vinhos de Santar, em que alem dos vinhos cobertos e espirituosos de embarque, ha vinhos palhetes de consummo finos e aromaticos.

4.6 Vinhos da Aguieira, onde talvez o vinho adquire o melhor typo de perfeição d’esta sub-região.

5.° Vinhos de Senhorim e de Moreira, que são tão bem fallados.
O preço medio dos bons vinhos do Dão chega até 60.5000 réis.

2. Snb-região. Vinhos da Bairrada.-- A Bairrada tomando parte dos districtos de Aveiro e de Coimbra é um dos grandes centros vinhateiros do reino, e que segundo a opinião de muitos deveria seguir-se em importancia de lavra e de qualidade de vinhos á região do Douro. O sr. Aguiar demarca a entre Ança ao sul; Oliveira do Bairro ao norte; Villa Nova a leste; e Bolho ao poente. Outros querem que esta circunscripção seja mais extensa.

É ao meio d'este centro vinhateiro que se acham os vinhos de melhor nota, quasi todos de exportação, ficando a zona dos vinhos brancos a norte, e a zona maior dos vinhos tintos a sul. Mogofores, Barrou, Vaccarica, Travassos, Escapães, Horta, e S. Lourenço. deffinem o contorno d’estas duas zonas centraes. Em volta d'ellas estão as freguezias e povoações em que se produz o vinho de consummo.

Podem-se fazer n'esta sub-região os seguintes agrupamentos:


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1.° Vinhos brancos de embarque. - Comprehende os vinhos de Mogofores,- Ois do Bairro, --S. Lourenco, Aguim, - Azar, - Enfesta, - Outeiro de Bairo.

S. --
Vinhos tintos de embarque. - Mealhada,- Ventosa, - Alpalhão, - Povoas,

. Casal de Comba, Arinhos, Vimieira,-Escapães, - Grada, Travassos Lendiosa, - Silvā, - Espinho, - Barrou.

2. Vinhos de consummo de 1.a classe. - Anadia, - Paredes, - Vale de Estevão, Famelicão, Arcos, - Povoa de Pereiro, - Logrocal, Vaccariça, Pampilhosa, Sargento Mor, - Adões, - Costa, Granja, --- Ançã, Cavalleiros, Pizão, - Enxofaes, - Venda Nova. 3.° Vinhos de consumo de 2.a classe. Oliveira do Bairro, -Sangalho,

, Avelãs e Villarinho.

4.° Vinhos de consumo de 3.a classe. - Souzellas, - Marmeleira, - S. Martinho do Pinheiro,Larçā, Paço, e Zouparria.

Os preços dos vinhos da Bairrada variam entre 25 e 50$000 réis, a pipa de 27 almudes. - A Anadia é o concelho mais vinbateiro da Bairrada.

3.* Sub-região, de Castello Branco, — Ha n'este centro uma zona chamada das Coras da Beira, em que existem os concelhos do Fundão e da Covilhã, cujos vinhos são geralmente finos, palbeles, maduros e espirituosos. Do mesmo genero são os dos concelhos de Castello Branco e Penamacor. Os vinhos dos outros concelhos são mais inferiores, sem contudo deixarem de lembrar o caracter dos primeiros.

Podem-se classificar os vinhos de Castello Branco segundo as indicações do sr. Guilhermino de Barros e do sr. Guilherme João de Sá, nos seguintes agrupamentos:

1.° Vinhos finos de exportação. - Os vinhos do Fundão em que é potavelo vinho de Valle de Prazeres. Preço da pipa de 30 almudes, 475000 réis.

Os vinhos da Covilha, em que é afamado o vinho de Torlosendo. Preço réis 44$000.

Os vinhos de Castello Branco, cujo prototypo é o vinho da Louză. Preço réis 405000.

Os vinhos de Penamacor, de que são representantes os vinhos da cabeça d'este concelho. Preço 40$000 réis.

Os vinhos de idanha a Nova, e Promça a Nova. Preço 425000 réis.

2.° Vinhos menos bons. – Os de Belmonte, S. Vicente da Beira, Villa de Rei, Vila Velha de Rodão, Certā, e Oleiros. Preço medio 255000 réis.

Além do vinho maduro cria-se em Castello Branco, Oleiros e na Certā algum pouco vinho verde de emforcado, que não é de inferior qualidade.

4.2 Sub-região, da Guarda.- Se o centro vinhateiro precedente é pouco vinhateiro, o da Guarda o é muito mais, mas os seus vinhos passam quasi desco. nhecidos. Entretanto os concelhos da Guarda, de Sabugal, de Foscoa e Pinbel são tão productivos ou mais que os do Fundão e da Covilhã, e apresentam typos de estimação.

Anda por 62:000, hectolitros o vinho colhido em 1872 n'esta sub-região; em quanto que no districto de Castello Branco no mesmo anno pouco mais passou de 25:000, hectolitros.-Algum vinho verde se produz tambem; e o maduro offerece geralmente o meio termo que se conhece pelo nome de entremaduro. Stgundo uma nola muito curiosa que por intermedio do sr. intendente de pecuaria d'este districlo me communicou o sr. Freire da Guarda, os mostos das uvas brancas dão apenas de 10 a 12 por cento de alcool, e os das castas tintas de 8 a 10. É quasi a riquesa dos mostos das uveiras do Minho de boa qualidade.

O governo das vinhas segue um pouco os usos estabelecidos no Douro.

A vinificação é feita em lagares de pedra ; algumas vezes em balseiros. Parece que a feiloria não produz aqui bom resultado, o que não é para admirar, attendendo á imperfeita maturação das uvas.

Os vinhos da Guarda são leves, - saborosos, frescos, bons para pasto emfim. Alguns d'elles adquirem mais vigor e maduro e são realmente excellentes vinhos de mesa. Entre estes podem se citar, os das freguezias de Freixeda, Almofalla, e Quintã.


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auctoridades incompetentes em materia que pertence naturalmente aos corpos scientificos e professionaes, como no caso sujeito é o conselho da Escola Medica. Ver um ministro, qualquer que seja o seu merecimento politico, dispensar o estudo d’uma materia na exploração d'outra, como quem dispensa os Grão-Cruses de acompanhar o chefe do Estado na procissão de S. Jorge, é, — posta já de parte a questão da legalidade, - uma affronta á Sciencia e a condemnação pelo ridiculo do systema que auctorisa taes disparates.

Nós não somos reformistas, nem bistoricos, nem constituintes, nem regeneradores, o que não quer dizer que sejamos eccleticos ou indifferentes.

Lamenta-se que a politica se apoderasse da questão: é imbecil o lamento.

O Conselho nada tem com a apreciação da imprensa, e a politica é uma sciencia como qualquer outra e a quem não pode ser indifferente um conflicto que se dá no organismo do Estado. A politica militante não só linha direito mas rigoroso dever de se apoderar da questão, de a estudar, de a apreciar, de a julgar. Querem, á custa do emudecimento da politica, que os poderes do Estado se invadam mutuamente, que a lei seja revogada pelo capricho, que os principios em que assenta a organisação do Estado, como este santo principio da egualdade perante a lei, sejam suppriinidos pelo nepotismo?

Não pode ser.

Mas nós nada temos com a politica regeneradora, historica ou reformista ou constituinte. Diz-se que a concessão disculida tem por si o precedente. Que nos importa se não tem por si a Lei?

Precedentes tem a forca, o cacete, a violação de todos os direitos e de todas as leis,

Se o precedente justifica hoje a infracção d’uma Lei porque não justificará ámanhã a d'outra, a de todas? Que importa que o sr. Bispo de Vizeu, quando mipistro fizesse uma concessão analoga e o sr. Duque de Loulé quando governante sanccionasse uma infracção parecida? Ámanhà justificar-se bia uma prepotencia qualquer com o precedente do sr. Costa Cabral, e rasgar-se-bia a constituição do Estado com a aucloridade do exemplo do sr. D. Miguel de Bragança. I orque não?...

Precedente por precedenle vale para nós mais o da opinião da Escola; o do ministro que indeferiu em 19 de outubro de 1869 um requerimento de concessão analoga, porque «a fiel observancia das leis e regulamentos academicos em quanto se não reconhece a necessidade de os alterar ou modificar por uma providencia geral é condição essencial para a regularidade e aperfeiçoamento do ensino e para tornar mais pontuaes os alumnos não se confiando na dispensa ou alteração parcial da legislação vigente;) o precedente do proprio governo actual recusando no anno findo, ao estudante Bragança a dispensa da habilitação em botanica, que concede este anno ao estudante Botelho; o precedente d'este mesmo governo negando uma concessão analoga a um academico de Coimbra que se achava em melhores condições de habilitação do que o agraciado de Lisboa.

Mais de que todos os precedentes porém vale para nós a Lei, a Justiça e a seriedade scientifica.

A graça da dispensa da habilitação legal em botanica foi negada no anno passado a outro estudante, e ainda no anno corrente não poderam obter a graça de dispensa de preparatorios realmente mais dispensaveis, como por exemplo geographia (a geographia dos nossos lyceus...) outros estudantes, por om lado, e por outro não se admillia á matricula respectiva senão quem gastou tempo, trabalho e dinheiro a adquirir aquella habilitação:- por isso a concessão ao alumno Botelho é injusta e offende direito de terceiro.

A lei organica da Escola determina que a botanica é preparatorio, indispensavel e geral para a matricula e a Carta Constitucional art. 75.0 $ 12. dando ao poder executivo a allribuição de «expedir os decretos, instrucções e regulamentos adequados á boa execução das Leis,» não lhe concede em circumstancias normaes a de derrogar a Lei, interpretal-a, suspendel-a, attribuição que pela mesma Carta pertence exclusivamente ao Poder Legislativo (art. 13.0 $ 6.) que compete ás cories com a sancção do chefe do Estado, (Ib.): a portaria da graça importa a suspensão ou revogação da Lei organica em favor d'um agraciado, e além d'isso cons


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Os vinhos dos outros concelhos são geralmente pouco conhecidos, a não ser os de Abrantes, entre os quaes tem uma certa nomeada o de Mação, como vinho licoroso. Sei porém que ha em Almeirim, Chamusca, Benavente, Rio Maior, Ourem, e Coruche alguns vinhateiros que fabricam optimos vinhos de pasto, mas que geralmente não passam para fóra das localidodes. 3.- Sub-região, de Lisboa - O districto de Lisboa não é dos mais vinhateiros

. do paiz, mas em compensação é talvez o que apresenta maior numero de varieda des em vinhos, quasi todas de primeira qualidade.

A cultura da vinha é executada com pequenas differenças segundo o systema seguido nas duas sub-regiões precedentes,

Em alguns centros os vinhos são obrados de feitoria inteira como no Douro; mas no maior numero são fabricados de meia feitoria, passando-se a maior parte da fermentação em balseiros de madeira e até nos toneis.

As castas de uvas são quasi as mesmas das sub-regiões precedentes. Entretan. to ha algumas que apparecem com nomes novos, e que talvez não sejam senão outras castas já conhecidas, modificadas um pouco pela differença da coltura e do clima.

D'este genero são: o ramisco, ova que forma a base dos vinhos de Colares; a baldoeira muito commum em Camarate, e Villa Franca; - bonvedro, ou morteira muito abundante em Setubal, em geral nos vinhatarias da margem do sul do Tejo; espadeiro, negra molle, mortagua, faruento, enfarinhado, folha de figueira, gallego dourado, esgana, muito communs em todos os centros vinicolas da margem direita do Tejo.

1.0 O centro yinhaleiro mais productivo d'esta sub-região é o de Torres Vedras.-- Ha tres principaes typos de vinhos n'este concelho, o lypo fino que chega a ser generoso, criado geralmente em collinas; e o typo mais ou menos bastão produzido nos rarsidos; e o typo ligeiro e fraco tirado dos terrenos arenosos e seccos.- O primeiro typo é o que se conhece em alguns mercados estrangeiros.

Os vinhos de maior nomeada no commercio são: os de Torres, do Turcifal, do Caldel, Runa, Ribaldeira, Dois Portos, Caxaria, Carvoeira, Carmões, Ordasqueira, Mata Cães, Enzaras. Preço por decalitro 730 réis.

2.° Alemquer, é outro centro muito productivo e no qual se acham vinbos muito distinctos. Entre estes apontarei os vinhos da Ribeira de Maria Affonso alguns dos quaes em velhos são primorosos: - Os vinhos de Palaios, da Corugeira,

os da Merceana. de Alemquer, Aldegavinha. Olhalvo, e Carnota, igualam se não excedem os vinhos de Torres Vedras.

3.° Villa Franca, não é centro muilo productivo, mas os seus vinbos de Cadofães lem justo renome.

4.° Azambuja, é mais productiva que a precedente e possue vinhos de' pasto de excellente qualidade.

5.° Bucellas, é um centro affamado pelos seus delicados vinhos brancos alguns dos quaes imitam alguns bons vinhos brancos de Bordeus e de Borgonha. São notaveis, os vinhos da Romeira, da Bemposta, do Freixial, Via Longa, Fanhões, Pinteus, Bucellas, Villa de Rei, e Villa Nova. Estes vinhos são conhecidos e estimados nos mercados estrangeiros, - mas podiam sel-o ainda mais.

7.o Camarate, é um pequeno centro que ganhou nomeada, os seus vinbos approximam-se dos de Villa Franca. Comprehende-se n’este grupo os vinhos dos Olivaes,

8.o Arruda, centro que foi muito productivo, tem vinhos do typo bastão. Mas alguns vinhos do Sobral são bons typos para pasto.

9.: Cadaval e Mafra, apresentam muitos vinhos que são como que uma transição entre os vinhos espirituosos e encorpados de Torres e de Alem quer e os vinhos delgados mas finos de Collares.


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Poda deixando uma vara, ou duas varas de 6 a 8 olhos e um ou dois pollegares.

Nas vinhas do campo e varzeas usam geralmente da poda galheira, deixando á cepa cinco ou seis galhos, ou nembos com dois ou tres olhos em cada um.

As empas são muitas e de diversos nomes. Umas vezes a vara de poda é curvada em circulo e amarrada a si mesma e á cepa. É a empa de argola. Outras vezes a vara fica simplesmente enlaçada sobre si, e sobre a cepa. E a empa de rodilha, ou de envidilha.

Em muitos casos a empa é amouroada ou sustentada por um ou mais tutores, e d'este genero ha diversas especies como são, a empa em palmatoria, e de rabo de leão quando o mourão se enterra direito junto á cepa e sobre elle volta a vara em circulo vindo prender ao mourão e á cepa.

A empa levada, quando a vara se ergue sobre o tutor verticalmente.

A empa de lança, e de rabo de coelho. quando o tutor vertical é escorado por outro tutor obliquo e sobre ambos se volta a vara n'uma direcção de 15.o até a ponta picar na terra.

As castas de uvas mais conhecidas n'este districto são:
Castellão francez,- Tintureiro, - Preto martinbn,-Bastardo grosso e meudo,

--

- Castiço,- Almafego, - Leiră, --- Molargrosso,- Boal cachudo, -- Escabellado, Rabo de ovelha,- Boal branco.- Molim,- Dedo de Alicante, - Malvasia,– Tamarez,- Perrexil, — Trincadeira, --D. Branca, -- Alvo da Serra, -- Formosa, — Moscatel,- Olbo de lebre, --Alvaraco, -- Molinbă, – Arintho, - Fernão Pires,-Labrusco,

, - João Noivo, -- Assario, - Diagalves, -Sem nome,.- Promissão,- Camarate,Tinta commum, de pé curto, do Peral, gorda branca, - Zebrainho, - Moi tagua,

-Pexão,-- Preto da rosa, — Negrinho, - Borra mosca, - Carrega besta, – Xerez,-

Terrantez, — Talia, - Costinha, - Saibro branco.

A uva não amadurece completamente senão em fios de setembro; as, vindimas começam muitas vezes no meado d'este mez e até antes.

Os mostos accusam geralmente uma riqueza scharnia que vai de 20 a 23 0/0.
Não é muito usado o de engace da uva.

A pisa faz-se em lagares de pedra; ou de madeira e a fermantação dos mostos é feita abi mesmo ou em balseiros. Os vinbos brancos fazem-se pelo processo de bicca aberta, isto é fermentam os mostos sem curtimenta com o bagulho.

Os vinhos de melhor nota são:

1. No concelho de Torres Novas que é um dos mais productivos do districto, os vinhos tintos da Zibreira, da Matta, das Lapas, Ferreira, e dos valles do Almonda e Alvorão. Os seus preços regulam para os de melhor qualidade de 225500 a 45$0% réis;— os mais inferiores de Olaia e de Alcrouchel regulam por 123500 réis a pipa. Os vinhos brancos mais fallados são: os de Brogueira, e Parceiros

2.° No conselhos do Cartaxo são notados como vinhos de copo e de embarque os das freguezias de S. João Baptista, de Valle de Pedra, de Ereira e Lapa e Ponlevel. Os seus preços andam por 245000 reis.

3.° No concelho de Santarem ha duas classes de vinhos, os dos bairros, e dos campos, Estes altimos servem quasi todos para caldeira.

Os melhores vinhos dos bairros são os de Cardeaes, Succorio e Monçarria na freguezia da Varzea. Os de Achete, Povoa, Azoia de bairo, e Azoia de cima, Romeira, Alcanhões. Os seus preços regulam de 15000 a 25000 réis e almude; e os dos vinhos do campo entre 300 e 600 réis.

Os vinhos dos bairros não tão bons, existem em Valle de Figueira, S. Vicente do Paúl, Pernes, Malhou, Amiães, Alvãa, Casever, Vaqueiros e Valle de Santarem.

, Os vinhos do campo existem em Santarem, Pombalinho, Azinhaga é Chamusca.

4.° No concelho de Thomar ha tres tvpos diversos de vinho. 1. Os vinhos da Serra, cujos vinbagos são estabelecidos em sucalcos, como os do Douro; os de Olalha e da Junceira, são vinhos palhetes, delgados, abertos, saborosos, alcoolicos, aromaticos, e maduros. O preço d'estes vinhos é de 305000 réis. – 2.° Os vinhos de Santa Maria dos Oliraes. fabricados de feitoria, mais encorpados, travosos, muito


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E-0 typo triangular.

O typo A é o mais proprio para as pontes de madeira, que para as de metal. Os typos B, C, D são os mais empregados; são muitas vezes designados pela denominação commum de quadrangulares.

No typo chamado triangular, a ligação dos banzos é feita por meio de escoras e tirantes formando triangulos, a que servem de bases alternadamente os banzos superior e inferior.

Os banzos d'estes typos de madres são muito differentes dos das nossas madres em T duplo.

O banzo superior, que trabalha por compressão, ou é de ferro fundido ou de vigas ocas de folba de ferro; a secção transversal é a d'uma caixa, algumas vezes cylindrica interiormente e polygonal no exterior, forma mais racional, que a d'um rectangulo com uma espessura muito pequena em relação ao comprimento. O banzo é formado de segmentos, cujo comprimento varia geralmente entre 3" e 4", apenas juxtapostos pelas extremidades. Esta disposição evita a um tempo as difficuldades, com que ha sempre que luctar no fabrico das peças de ferro muito longas, e a diminuição da resistencia á compressão, resultante d'um maior comprimento. As alças ou penduraes, os tirantes e as escoras ligam-se aos banzos nos pontos de juocção dos seginentos. A ligação é facilitada por um manguito de ferro fundido, que permitte a passagem dos tirantes.

O banzo inferior, que só trabalha por distensão, é sempre de ferro forjado e dividido em segmenlos articulados correspondentes aos do banzo superior. Este banzo é formado ou por folhas de ferro ou por fusis ou por barras de ferro forjado com um olhal em cada extremidade. Juxtapõem-se horisontalmente tantas d'eslas peças, quantas as necessarias para obter a secção necessaria, secção que aug meota dos extremos para o centro dos tramos.

As barras de ligação, que trabalham por compressão são muitas vezes, por economia, de ferro fundido e mesmo de madeira, empregam-se tambem de folhas de ferro, dispostas de modo a resistirem ao empeno. As barras de ligação, que trabalham por distensão, são ou hastes cylindricas terminadas por azelhas, ou barras de ferro com olbaes. Os tirantes teem quasi sempre, e os contra-tirantes sempre, um passo de parafuso, que permitte regular-lhe o comprimento e a tensão depois da ponte estar assente. A união das barras de ligação com os banzos por cavilhas cylindricas de ferro ou de aço, proprias para receber e transmittir em todos os sentidos as compressões d'umas peças e as distensões das outras. Assim as alças ou penduraes, os tirantes e as escoras podem girar em torno das cavilhas tomando por si proprias as direcções, que mais se prestam á transmissão dos esforços, systema completamente differente do usado na Europa, que consiste, como é sabido em ligar estas peças por arrebites, o que lhes impede qualquer dislocação. Notaremos, que o systema americano está mais d'accordo com a theoria, do que o usado entre nós.

Por meio d'aquellas mesmas cavilhas é, que se fixam as traves ou carlingas transversaes, quando o taboleiro é collocado de nivel com os banzos inferiores, que é o systema mais empregado. Os banzos que não são ligados pelas carlingas são unidos por uma contraventação horisontal. A maior parte d'estas pontes é feita para uma só via.

As madres assim formadas, não são assemelhadas, nos calculos da resistencia, a prismas flexiveis. Os engenheiros americanos explicam a traosmissão, dos pesos accumulados sobre as carlingas, aos encontros, pelo principio do parallelogrammo das forças. Esta transmissão dá logar a esforços, que se accumullam. Procura-se depois, qual é, para cada barra de ligação e para cada segmento dos banzos, o valor maximo do esforço total, que se produz, quando uma locomotiva, rebocando um comboyo, passa successivainente na prumada de cada alça: d'este valor maximo deduz-se o numero de millimetros quadrados, que deve ter a secção transversal das peças comprimidas e distendidas.

É este o methodo de calculú seguido na notavel obra do coronel Merrill intitulada: Iron truss Bridges, que, conjunctamente com um relatorio do engenheiro em chefe M. Clarke sobre a construcção da ponte de Quincy, constituem as fontes,


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da associação visto que o foi para a commissão de que ella nasceu, vemos que predomina a estravagante idea de que os mais competentes para promover os estudos orientalistas, são os que não possuem esses estudos e até os que não deram ainda signal de saber o que taes estudos sejam e representem.

Pond) porém de parte a nascente associação voltemos á commissão... lusitana.

O congresso dos orientalistas, de cuja proxima reunião fallámos já, é um gremio de sabios distinctos, e de estudiosos e investigadores que merecem pelos seus trabalhos e seriedade, uma alta consideração scientifica. A forma pela qual se quiz fazer representar ali o nosso paiz, a formação em familia d'uma commissão de homens completamente alheios aquelles estudos e trabalhos, e principalmente a intervenção solicitada d'um membro da familia real, scientificamente nullo e que nein dos escassos estudos da instrucção primaria portuguesa, possue o documento official respectivo, é uma offensa immerecida á consideração que se deve aquelle congresso e aquelles distinctos orientalistas; é uma leviandade imperdoavel que cobre de ridiculo este paiz.

Em Portugal poucos homens se leem dedicado aos estudos orientalistas, mas desses poucos, se excepluar-mos o sr. Abreu, não vemos na Commissão um que lenha escripto sequer o nome por baixo de meia duzia de linhas em que se salle da ethnographia, da philologia, da mythologia comparada, das tradições, da hisloria, da philosophia, da bibliographia, da arte, de qualquer dos productos em fim das velhas civilisações do oriente, onde a critica moderna procura tantos dos quebrados e perdidos elos da civilisação europea e da geneologia humana. Mas ainda assim, homens intelligentes e estudiosos como alguns são e supondo que se agremiam para encelar os estudos que não possuem, com que direilo e por qual principio lhes põem å frente a presidencia do infante D. Augusto ?...

Um periodico da capital, dando noticia d'estes factos disse, sob o titulo «Mystificações lusitanas»:

Com esta denominação explicava em um dos ultimos numeros a Revista de Portugal /e Brasil». umas andanças que por ahi iam, attinentes a fazer representar o nosso paiz no proximo congresso d'orientalistas. E linha rasão a. «Revistapois que pelo que se le hoje n'um periodico e nós transcrevemos, estava bem informada. Ha realmente em Portugal alguns escriptores novos, que pelos seus estudos de moderna sciencia litteraria, poderiam ter logar ali, mas nenhum d'esses lá vemos, felismente nenhum. O unico homem com certos conhecimentos orientalistas que ha ali é a sr. Abreu. Desgraçada terra em que as mais sérias coisas recebem desceremoniosamente a chancella do ridiculo!

Outro periodico objectou que a phrase «Mystificações... lusitanas» peccava por offender o idioma vernaculo e a geographia, e que aquelle grupo não era nem se dizia de orientalistas. Emquanto á primeira affirmação, que se refere a nós, como tem apenas a forma authoritaria, respondemos que para aceitar a correcção seria necessario que aceitassemos a authoridade, e não temos rasões, que nos levem a aceital-a.

«Mystificações) continua a ser palavra que não offende o idioma vernaculo... até se provar o contrario com mellior argumento do que o do dixit magister que lem o inconveniente de implicar uma mestrança que não podemos reconhecer.

A ironica insinuação do lusitanismo, estaria no mesmo caso, senão bastasse o referir-se a cousas em que o sr. Possidonio superintende com aquelle fino e admiravel criterio de que tem dado tantas provas, no museu do Carmo, por exemplo...

Em quanto á segunda affirmação, surpreende.nos, porque ingenuamente suppunhamos que auma commissão nacional dos orientalistas do congresso de Pa. ris,n como o mesmo periodico lhe chama, não podia deixar de ser... orientalista.

Devemos accrescentar que entre os orientalistas ou não-orientalistas convocados, avultava o sr. marquez d'Avila e Bolama, como convinha...

Ah! dam! ces messieurs ponsent

Qu'on ne les connait pas diz a canção franceza.


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cimentos actuaes, alludindo a elles alguns jornaes; no paiz algum ecco continuaram a ter, conseguindo chamar a opinião publica a pensar em alguns dos assumptos aqui discutidos, provocando a inserção d'artigos na imprensa periodica, estimulando a corporação municipal a cuidar da hygiene da cidade.

Como para provar o bom conceito em que a nossa sociedade é tida' no estrangeiro, dois candidatos tinham apresentado memorias respondendo a dois dos quesitos propostos em concurso para premio, memorias que foram julgadas no decurso d'este anno, sendo considerada digna da honra d'acessit, a memoria do dr. Ullersperger, de Munich, que resolveu o quesito sobre a ovariotomia é a quem foi enviado o respectivo diploma.

Registamos este acontecimento com tanto maior satisfação, quanto é certo que os candidatos não vieram procurar oulra coisa que não fosse a honra do nosso diplo. ma, sendo como é de tão pequeno' valor pecuniario o premio offerecido.

Dos nossos compatriolas, em todo o decurso do anno, um só individuo houve que pediu um parecer á sociedade.

O sr. architecto João Nepomuceno enviou á sociedade umas plantas, projectando a construcção d’um asylo, é desejou saber so no seu projecto estavam at tendidas todas as exigencias da hygiene, ou se havia algumas modificações a fazer n'este sentido.

A sociedade ainda não deu resposta a este pedido por estari ella dependente do parecer d'uma commissão nomeada expressamente para estudar o assumpto.''?

Nenhuma outra consulta foi pedida a sociedade, e pena é que não seja promovida assim a discussão sobre o modo pratico de realisar os grandes problemas de bygiene sucial; pena é que se não procure sair do indolente sangue frio e do criminoso indifferentismo, com que se olha para as mais explendidas conquistas da sciencia; porque, entre nós, é preciso sermos justos, não se ignora que a hygiene lem encontrado meio de proteger a infancia nas creches, nas casas d'asylo, nas casas de educação, nos hospitaes especiaes; a adolescencia nas maternidades, nos hospitaes e nas habitações particulares; a velhice nos hospicíos; a todos no exercicio das suas profissões, 'nos gabinetes, nas fabricas, e nos campos.

Não se ignora isto, mas viva-se embalado pelas brisas fagueiras d'um clima esplendido, que se encarrega de boa parte da nossa hygiene, que até talvez seja bastante para explicar a inutilidade da creação de medicos legistas. Aqui, n'este canto da Europa, estamos dando aos sabios uma lição tremenda. Elles por toda a parle lutam, trabalham sem tregiias para altenuar as causas da mortalidade, canalisando as cidades, realisando as regras da hygiene nas escolas, pas fabricas, nos hospitaes; nós cultivamos os pantanos; abandonamos a creança e o operario, que não conhecem d'estas coisas, ás tristes condições do trabalho na primeira casa que se constitue em escola ou em officina; mellemos dentro d'uma casa muito grande, muito alta, muito comprida, enorme, creanças, adultos, velhos, mulheres gravidas, febricitantes, ulcerosos, tisicos, erysipelados, ludo o que encontramos, e mostramos ao mundo que contra tudo isto oppoe o nosso clima barreira tenaz, que de tudo isto muitas vezes triumpha, que a muilas d'estas coisas dá remedio, nem consente que de quando em quando vamos sendo proporcionalmente disimados por essas epidemias que teem em outras partes nascido de muito menos.

Abençoado clima este, que consubstancia em si grande parte da nossa hygiene, que nos traz despreoccupados sobre o modo de conservarmos a existencia, que nem ao menos os que vamos vivendo temos quando não seja senão curiosidade de saber ao certo em que proporcionalidade se dá a mortalidade das nossas popolações!

Desculpem, meus senhores, se insensivelmente me ia transvian do da narração para que os nossos estatutos me mandaram tomar hoje a palavra ; d'esta falta me desculpaes por certo, porque de certo aereditaes tambem que as sociedades de hoje se não melhoram senão pela sciencia, porque já passou o tempo em que, reclamar as applicações dos conhecimentos medicos fóra da arte medica propriamente dita, era julgado uma usurpação, uma invasão perigosa senão sacrilega, inutil senão pueril.

Os dogmas, as theorias têem completamente mudado de face, graças as desco


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communicações scientificas, que se não avultam pelo numero, são dignas de menção pela importancia respectiva.

Quasi todas estas communicações foram insertas in extenso no nosso jornal, que continuou a publicar-se regularmente, contribuindo para o tornar mais interessante o relatorio do sr. Lucio da Silva, sobre a epidemia de typhos no Cadaval; a continuação e conclusão da Flora pathologica das ilhas de S. Thomé e Principe, pelo sr. Manuel Ferreira Ribeiro; a narração d'om caso de lithotricia na mulher pelo sr. Antonio Maria Barbosa; os artigos do sr. dr. Gaspar Gomes, sobre casamentos consanguineos; e as contas clinicas do hospital militar de Lisboa, com que o sr. dr. Clemente Mendes continuou a brindar-nos.

i', Por esta exposição podereis notar que o zelo do vosso antigo presidente, longe de esfriar ao abandonar a cadeira presidencial, onde com tanto acerto dirigia os vossos trabalhos, se acha ainda com o mesmo vigor e enthusiasmo; e foi reconhecendo essas qualidades que tomastes a acertada resolução de o elevar á cathegoria de vosso socio benemerito.

Do movimento occorrido no quadro da sociedade vos dá conta a seguinte estatistica:

Foram admittidos na classe de :
Correspondentes nacionaes. - Os srs. Abel da Silva Ribeiro, João Filippe da

Fonseca Frazão, Manuel Martins da Hora, José Joaquim d'Oliveira, João Sanches de Figueiredo Barreto Perdigão, Ramiro Guedes, Antonio dos Santos, Manoel Joa. quim Alves Passos, Diniz Gomes Barbosa, Manoel Caetano da Silva Lima, e Antonio de Passos Pereira de Castro.

Correspondentes estrangeiros. O sr. Cayetano del Toro, de Cadiz.
Tilulares. - O sr. Joaquim Antonio d'Oliveira Namorado.

Honorarios. - Os srs. José Ribeiro Guimarães Drack, e Antonio Francisco Nogueira.

Benemeritos. - O sr. Antonio Maria Barbosa.

Despediram-se os srs. Antonio Homem de Vasconcellos, e João Baptista Rollo, correspondentes nacionaes; e Francisco Joaquim 'd'Almeida Figueiredo, titular; e falleceram os srs. João Sepulveda Teixeira, correspondente nacional, e José Maria Rebocho, socio honorario.

Resta-me fallar-vos das discussões mais importantes, que occuparam a vossa attenção nas ultimas sessões, e que obedecendo mais directamente à vossa divisa pro incolumitate, civium, seriam de manifesta utilidade publica, se os poderes do estado se compenetrassem bem do valor das nossas resoluções e do nosso conselho, e o attendessem ou o pedissem nas questões médicas em que a sociedade pode sempre dar volo, seguro e independente.

Uma epidemia de bexigas, reinando já ha tempo em Lisboa, fez com que o sr. dr. Gaspar Gomes despertasse a attenção da sociedade, para que ella propozesse ao governo as providencias convenientes para tolber o passo aquelle mal e prevenir à invasão da propagação de futuras epidemias. Uma commissão se encarregou de estudar o assumpto, e propoz uma serie de medidas, que depois de sujeitas a uma discussão na sociedade, foram convertidas em representações aos poderes publicos. Entre as medidas propostas figuram em primeiro logar a vaccinação e revaccinação em larga escala ; a diffusão completa da vaccina por todas as classes e edades de individuos, diffusão levada até se propor a vaccinação obrigatoria por todos os meios coercivos directos e indirectos de que os governos dispõem. Não sei se o governo teve ou não conhecimento da nossa discussão, em quanto ella durou ; o que posso porém dizer-vos é que quando a epidemia era mais intensa em Lisboa, e quando a vaccina devia ser distribuida larga manu a todos que a pedissem, o governo ordenou ao director do instituto vaccinico official que cerceasse a distribuição de tubos de vaccina, difficultando assim a pratica da inoculação prophylactica, que nos procuravamos generalisar mais. Resolveu a sociedade representar contra este facto, sem que todavia o governo se dignasse revogar ou modificar a sua resolução.

A esta discussão, seguiu-se a do aproveitamento do hospital Estephania, suscitada pelo sr. dr. Bernardino Gomes ; e descobrindo-se por essa occasião que


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OS CONTOS DE FADAS EM PORTUGAL

ORIGENS E ASSIMILAÇÃO LITTERARIA

Basta conhecer o phenomeno extraordinario da situação de Portugal em frente da civilisação da Europa, desde o seculo xvi até hoje, para deduzir que a sua indifferença pela Reforma, pela elaboração scientifica do grande seculo xvII, pelo espirito analytico do seculo xviii e pela renovação critica do nosso tempo, deve ser compensada por uma rudesa ingenua, em que se reunem as condições de vitalidade e interesse das antigas tradições da edade media. Mas essa indifferença produzida pelos terrores de um catholicismo sanguinario, e por uma monarchia de mãos dadas com o queimadeiro, atrophiaram este povo a ponto de se esquecer totalmente das suas origens. As tradições existem na realidade, mas em um syncretismo resultante de quem já não comprehende o que repele. A par dos antigos romances, que temos explorado nos tres centros poeticos e ethnologicos de Portugal: Beira Baixa, Algarve e Ilhas dos Açores, encontramos tambem muitos contos de fadas, alguns cujos originaes se acham nos poemas da edade media, como o Rei Lear, outros, variantes notaveis e mais primitivas do que os recolhidos em Perrault, outros finalmente, totalmente desconhecidos, e que encerram os vestigios celticos dos pri. meiros habitadores da Peninsula. Os Contos de Fadas são ainda hoje sabidos e canlados pelas aldeias, na seroadas a lareira; faz lembrar as condições que deram origem ao canto. Os pagi, na organisação social da edade media eram as povoações ruraes, com a sua vida industrial propria, com a sua crença e egreja local, alheias a todo o movimento intellectual e politico dos grandes centros; foi na pagi, que os restos do polytheismo romano e do culto odinico germanico, e o druidismo celtico se encontraram confundindo-se com um christianismo ainda sentimental e sem definição catholica e intolerante.

Mais tarde a Egreja ao realisar a sua unidade, condemnou essas tradições promiscuas, chamando-lhe paganismo, e ao que acreditava n'ellas pagão.

Nos contos de fadas o caracter pagão é evidente; os mythos religiosos apparecem, mas sem serem comprehendidos, e por isso confundidos; o typo da Fada tanto se encontra na Parca grega e romana, como na religião scandinava, como no ideal germanico da mulher, como na mairae celtica. Procurar por simples restos etymologicos a origem da Fada, e localisal-a nos paizes do norte ou na Bretanha, é ver somente um lado da questão; as condições syncreticas do Pagus, obrigam a determinar na creação da Fada boda essa complexidade de origens. Vel-a por um accidente de paradigma, leva, como os criticos da Historia litteraria da França, a} sem até nossos dias, não bastava somente o syncretismo religioso do Pagus; era preciso om interesse historico, conservado nas allusões a factos das épocas que deixaram estes documentos. Os Contos de Fadas relatam vagamente grandes fomes, que obrigavam os paes a levarem os filhos ao engano para as florestas e ali os abandonarem, a antropophagia vê-se figurada na terrivel raça dos Ogres. Esses cantos conservam todo o maravilhoso do paganismo, sem o minimo vislumbre do chris- . tianismo. O mundo feudal acha-se ali retratado na sua cruesa; o marido sacrifica a mulher à sua brutalidade, como na Guiselidis; o pae deseja com sensualidade de porco a propria filha, que se defende com subterfugios, como na Peau d'Ane. O que para o seculo xvi era uma frivolidade de crianças, forma hoje os restos de theogonias, e encerra grandes revelações historicas dos seculos mudos, como Vico caracterisou os seculos ix e x. Walkenaer, na sua Dissertação sobre os Contos de Fadas, assigna-lhe o seguinte fundamento historico: «Depois do grande abalo, que deixara no mundo o vacuo causado pela queda do imperio romano, os povos da Germania e da Sythia europea se precipitaram sobre o grande collosso derrubado

Então, as tribus nomadas do norte da Asia, conhecidas sob o nome geral de Tartaros, não podendo ser retidas, sairam de seus desertos, e não cessaram, durante muitos seculos da edade media, de atacar os estados mais poderosos, que acabaram por conquistar. Sob o commando de Gengiskan e de Tamerlan, fundaN.° 9.-Fevereiro de 1874,

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-cokozela--, conferencia, etc. O mesmo ha relativamente as palavras em que entram os dois sons guturaes X e X'.

A syllaba é algumas vezes significativa e então constitue uma palavra-:ca, não; sa, ainda; be, ser; si, nos; ba, elles; ngi, eu, mim. Todas as syllabas e por conseguinte todas as palavras acabam em vogal. Ainda assim a ultima vogal é, em cerlos casos, omiltista, -especialmente antes de m, n, e s. As syllabas em cada palavra são lantas quantos os sons formados pelas vogaes ou diphthongos: ze-bo-, sim; a.ba.ntu, povo; ta-nda, amor. Quando o vocabulo ou particula tem tal influencia na palavra seguinte que lhe muda a accentuação pronunciam-se juntas: u funani na?— u funa--ni na? o que procuraes? A contracção de syllabas é muito frequente.

Os nomes proprios estranhos á lingua zula quando admittidos tomam geralmente a prefixa u ou um, para as pessoas; i, para os logares; e um para os rios. Além d'isto u, in e ama são tambem prefixos de rios e regiões. As vogaes iniciaes de alguns nomes proprios podem ser lomadas, sem objecção, por prefixas zulas, e sejam exemplos o I inicial da palavra Italia; as primeiras syllabas em India e Amazonas. As semi-vogaes we y encontram-se entre a prefixa e o radical quando aquella é vogal e o nome começa tambem por vogal: Iyasia, Asia; Uyisake, Isaac.

É regra geral ser a penultima syllaba a predominante: mina, eu; izolo, hontem. Esta regra soffre algumas excepções. A elisão da vogal final leva ordinariamente a ultima syllaba da palavra.

A lingua zula tem flesões ou declinações. Assim a palavra umfula - rio-, cujo radical é ful, mudada para imisula significa rios, e para enfuleni, ao ou no rio. O vocabulo landa, amor, mudado para iandile, quer dizer eu tenho amado. As flexões são tambem substituidas pelos verbos auxiliares, pronomes e preposições.

Os substantivos são primitivos ou derivados. Aos primeiros pertencem em ge. ral os nomes de muitos animaes, plantas, partes do corpo, etc. Aos segundos os derivados de outros, e taes são:

1.• Os abstractos derivados dos concretos ou analogicos pela mudança da prefixa em ubu-: inkosi--rei; ubukosi realesa; indoda, homem; ubudoda, virilidade, bravura.

2. Os proprios formados dos communs pela mudança da vogal inicial em uisikota, herva; usikota-nome de pessoa.

3.° Os collectivos pela mudança da prefixa dos nomes communs em isi—; umuntu, pessoa; isintu, humanidade; umlungu, homem branco; isilungo, raça branca.

4. Os augmentativos formam-se ou pela reduplicação do radical ou pela suffixa kazi, unkalunkulu, o primeiro homem; Imiti, arvores; imitikazi, muito bellas arvores. Kasi denota tambem o genero feminino: umlungu, homem branco; umlungukazi, mulher branca.

5.° Os diminuitivos pelo suffixo ana; umfula rio; umfulana, pequeno rio; into, coisa; intwana, coisinha. Os que diminuem mais formam-se pela mudança da final a do primeiro diminuitivo em yana~: umuntu, pessoa; umuntivana, creança; umtwanyana, creancinba. Os diminuitivos designam o femenino, a bellesa, a distincção e a excellencia.

Os nomes derivados de adjectivos são:

1. Os abstractos, formados pela juncção da prefixa ubu ao radical ubumnandi, suavidade, de mnandi, suave.

2.° Alguns nomes communs são formados pelos prefixos um, i ou isi-: iningi e isiningi, multidão, maioria, de ningi, muitos.

3.° Alguns nomes proprios de pessoas: umnandi, o nome da mãe de utshakas 1 de mnandi suave.

Ha muitos nomes derivados dos verbos e denotam geralmente o agente ou a acção expressa pelo verbo: umhambi, um caminhante, de uku hamba, caminhar.

Os nomes na maior parte têem singular e plural, sendo formado este ultimo do primeiro por alguma mudança ou augmento na prefixa-umfana, rapaz; abafa. na, rapazes; into, coisa; isinto, coisas.

• Guerreiro celebre e lendario entre os zulos.


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pantheismo philosopbico da allemanha, na revolução francesa e n'outros phenomenos historicos muito conhecidos: etiologia muito contestavel de certo.

Academia das Sciencias de Lisboa:

Não é uma sessão ou uma discussão de caracter propriamente scientifico que vamos registrar.

A carta d'um douto academico que em parte publicamos em o n.o 7 da Revista, levou alguns socios da 2. classe a suscitar no seio d'aquela corporação uma discussão de que devemos dar noticia aos leitores.

Infelizmente lem de ser deficiente essa noticia, fundada só nas escassas informações d'alguns periodicos e nas relações mais ou menos exactas e divergentes que vogaram no publico. Preferimos comtudo fazer obra por estas informações, porque dizendo-nos respeito a questão até certo ponto, assim damos á noticia um caracter absolutamente insuspeitoso.

A Academia estava reunida em assembléa geral sob a presidencia do sr. Marquez d'Avila e Bolama e estando presentes doze dos quarenta socios existentes.

O sr. Teixeira de Vasconcellos, walludiu á carta publicada na Revista de Portugal e Brazil (n.° 7) e attribuida alli a um academico; disse que não acreditava na procedencia da carta, e protestou contra a injusta accusação de se terem dado profusamente mercês aos socios votantes, sollicitando-lhes o voto de gratidão.» (J. da N.)

Adheriram a este protesto, cinco socios, os srs. Paiva Manso, Innocencio, Silva Tullio, P. Chagas, e Soromenho.

O sr. A. Soromenho acompanbando o socio precedente no protesto, propoz ou lembrou que se inquirisse quem era o auctor da Carta e no caso de ser academico fosse expulso da Academia ! (0 Paiz)

O sr. Presidente, Marquez d'Avila, quiz exonerar-se do cargo, entregar a presidencia ao sr. dr. Bocage (ib.), e deu explicações acerca da sua eleição, protestando tambem contra a asseveração das mercês e sollicitações. (J. da N.)

O sr. Teixeira de Vasconcellos «fallou de novo para dizer que a Academia poderia adoptar as providencias disciplinares que tivesse por boas mas não devia inquerir acerca do auctor da carta, porque não tinha faculdade para tanto nem seria conforme com a sua propria dignidade. Parecia-lhe que a indulgencia é propria de quem sente a rasão do seu lado e que se todos temos paixões é justo haver alguma tolerancia com as paixões alheias. A manifestação de tantos academicos era : sufficiente correctivo. (Ib.)

Os srs. dr. Bocage e Latino Coelho exposeram que a proposta da expulsão era attentatorja da liberdade d'imprensa e que a questão na imprensa ou nos tribunaes é que devia ser ventilada (0 Paiz), contrariaram qualquer providencia disciplinar, e concordaram com o sr. Teixeira de Vasconcellos em que não podia haver inquerito. (J. da N.)

Por ultimo coube a palavra ao sr. Thomaz de Carvalho que declarou não acreditar na origem attribuida á carta e despresal-a por anonyma e falsa em todas as arguições. (lb.)

Terminou a sessão requerendo o sr. dr. Bernardino A. Gomes que fossem commissionados dois socios para disporem no museu da Escola Polytechnica os objeclos provenientes do dr. Welwilck, e escolhendo para o fim a Academia os dois respeitaveis e doutus academicos os srs. Bocage e B. A. Gomes.

Como o «Jornal da Noite» continuasse a insistir em que a boa fé da Revista

0 Jornal da Noile de que S. Ex.* é director, insistia em que a boa fé da Revista fora illudida e que a carta não era d'um academico, embora a lirmasse como nós diziamos, o nome de um. Lembraremos o trecho alludido da carta : «Do sr. Marquez não ha um unico escripto nas collecções da Corporação, cuja Vice-Presidencia S. Ex. insiste em tornar vitalicia na sua pessoa, empregando para o conseguir, a mingua de titulos scientificos, o impudor das sollicitações directas e da erigencia do pagamento em denomincda gratidão, das mercês profusamenle concedidas aos socios volantes e para aggravar ludo isto, o escandalo da intervenção brutal da força politica em uma questão puramente de dignidade scientifica.


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Voltando á patria depois de alguns annos de ausencia foi victima d'uma traição de Typhon, que nutria contra elle odios, exacerbados pela ambição de reinar.

Typhon auxiliado por 72 conspiradores, e uma rainha de Ethiopia, Aso, construiu um cofre onde cabia exactamente o corpo de seu irmão. Depois, n'um banquete, havendo traiçoeiramente ás mãos a victima contra quem machinava o seu odio, encerrou-o no cofre, e lançou-o ás aguas do Nilo. O corpo de Osiris correu para o mar saindo pela emboccadura de Tanis.

O crime foi praticado a 17 do mez de Athyr em que o sol passa pelo escorpião. ? Os Pans e Satyros de Chemmis denunciaram o acontecido a Isis, que, com

2 muitas demonstrações de lucto se partio em procura do corpo do esposo, e sabendo no caminho que elle tivera de Nephthys um filho que a mãe escondera por medo de Typhon, procurou a creança, amamentou-a e conservou-a junto a si na qualidade de pagem com o nome de Anubis. 3

O cofre tinha ido dar á costa perto de Byblos,' e parara junto d’uma arvore que por tal fórma o envolvera nos ramos que o tronco crescendo o encerrara em si; adquirindo tamanhas proporções que o rei de Byblos o mandou aproveitar para construcção do seu palacio. Isis fez-se transportar a Byblos e travando relações com a rainha Astartea, 5 ou Sãosis, ou Nemanoun esposa de Malkandros, 7 foi por ella destinada a amamentar o principe seu filho. Isis conformou-se com o seu destino; querendo, porém, tornar a creança immortal pela combustão da materia, não conseguiu seu intento porque a rainha vendo seu filho rodeado d’uma chamma azulada, e a ama volitando em torno d'elle com a forma de pomba, assustou-se, e por um grito destruiu o encanto, que ao mesmo lhe revellou a divindade de Isis. A deusa, então, pediu o madeiro em cuja procura viera, e tirando d'elle o co

e fre que encerrava o cadaver de Osiris, com elle se partiu mar em fora, alé desembarcar em sitio secreto. Ahi, descobrindo o corpo, approximou os labios dos labjos do esposo, prostrando-se com respeito e chorando muitas lagrimas. Surprehendida n’este acto de piedade por um filho d'Astarlea que a tinha accompanhado, volveu sobre elle um olbar de tanta cholera que o infante expirou de susio.

- Dirigindo-se depois a Buto 8 a ver seu filho Arueris que ali deixara em creação. Typhon que andava a caça o encontrou o cofre ao desamparo, cortou o cadaver de Osiris em quatorze partes, e espalbou-as por logares distantes. Isis, regressand foi a procura dos membros dispersos, navegou sobre um barco de papyrus, e conseguiu reunil-os todos excepto o orgão de geração que foi substituido por um phalus de madeira, 10 porque o tiobam os peixes engulido. 11 não tem assento no Pantheon egypcio. É propriedade da Grecia que corrompeu o pensamento humanisando o symbolo, primitivamente astral.

Anteu, filho de Poseidon não pode tambem ser divindade do Egypto que desconhecia os Neptunos segundo a asserção de Herodoto (Liv. 2.• 43), confirmada pelos monumentos.

10 vento sul, segundo Plutarcho. Cassiopéa na opinião de Dupuis.

No tempo de Sosigenos, em que Augusto aboliu o anno vago, já o 1.o de Thot d'este, correspondia a 29 de agosto do kalendario juliano, e por isso 17 de Athyr a 13 de novembro.

O sol entra em escorpião no mez de outubro.
Estes dados hão-de nos aproveitar muito para o exame do mytho.

Anupu, filho de Hs-iri e Nebthi. Isis conheceu que seu esposo tivera relações com Nebthi, por encontrar no leito d'esta o melilotus e outras plantas

4 Cidade maritima da Phenicia.

Astartea é a deusa phenicia'Hasteroth, que, segundo Philo é Aphrodite. Symbolisa o poder de gerar e alimentar que a terra possue. E' filha de Baaltis (Dione), a quem era consagrada a cidade de Byblos. Baaltais e representada tambem como Aphrodite, confundindo-se então com'Hasteroth. Por isso a tradicção lhe chama rainha de Byblos.

6 Bunsen quer que Nemanoun seja erro de transcripção, e que se deve lêr: nean neith, por isso que Plutarcho diz que'Hasteroth é Athenai.

? Em vez de Melkarthos, Melkarth ou Melikarth, o Hercules phénicio. Melikarthos ou Melek-qart, quer dizer: rei da cidade. Por isso é considerado rei de Byblos.

Esta viagem de Isis a Byblos, e as relações de Baaltis e Nutpe, de 'Hastoreth e Hs, indicam uma affinidade mythologica entre o Egypto e a Phenicia. Esta affinidade ha-de ser objecto do nosso estudo. Aqui só indicamos o facto.

& Cidade perto da emboccadura de Sebennys, onde havia um templo consagrado á deusa Mat ou Buto, ama de Horus.

Typhon andava á caça do javali, animal que lhe era consagrado. Dizem os Egypcios que Typhon caça durante a lua cheia.

10 Origem do culto phalico, primitivamente attribuido a Khem, e depois a Osiris.

!! Herodoto e Plutarcho concordam em affirmar que aos sacerdotes egypcios era desfezo comer peixe, em memoria d'este facto.


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Lecouteux, distincto agronomo francez propõe o peso de 400 kilos.

Isto é: toda a cabeça natural pecuaria d'este peso pouco mais ou menos, ou a somma de tantas cabeças naturaes de menor corpulencia que o perfaçam ou se approximem d'elle, conta-se como cabeça normal.

No nosso recenseamento dos gados regulou-se pouco mais ou menos a cabeça normal por 350 kilos de peso vivo determinando-se pelo seguinte modo a conversão das cabeças naturaes em cabeças normaes:

No gado bovino 1 rez adulta por 1 cabeça normal; crias de menos de 1 anno 3 cabeças por 1 normal; de mais de anno 2 por 1.

No gado cavallar e muar sendo adultos e de marca 1 cabeça natural por 1 cabeça normal, menores da marca 3 por 2; crias de 1 a 3 annos 2 por 1.

No gado asinino 2 cabeças naturaes por 1 normal; crias 3 por 1.
No gado lanar e caprino 15 cabeças naturaes por normal; crias 30 por 1.

No gado suino 6 cabeças naturaes por 1. normal; crias de 6 mézes a i anno 12 por 1.

Foi em virtude d'esta regra de equivalencias que se chegou a apurar: que ao numero de 5,209.344 cabeças naturaes que denota o recenseamento de 1870 correspondem 953.623 cabeças normaes de 350 kilos pouco mais ou menos de peso vivo por cada cabeça.

Para determinar a relação raçoária da ração de conservação, isto é a relação que exprime a quantidade de alimentos necessaria para sustentar apenas os animaes sem os habilitar convenientemente ao prestamento de suas utilidades economicas (producção de trabalho, carne, leite, lă, etc. etc.), teem diversos agronomos e pecuaristas feito observações e experiencias ad hoc, tomando o bom feno dos prados naturaes como typo de alimento, e procurando conhecer quanto d'elle é preciso para sustentar 100 kilos de peso vivo.

Resulta de seus trabalhos nem sempre bem concordes os de uns com os de outros, que em media se pode calcular a ração de conservação em cada dia:

Para o gado cavallar, cujo peso vivo anda pouco mais ou menos por 350 kilos, uns 25,4 de feno por 100 kilos de peso vivo; tendo esta quantidade de feno 928 grammas de substancia altriz ou assimilavel;

Para o gado bovino, tambem do mesmo peso, 2K, 2 de feno por 100 de peso vivo, ou 850 grammas de substancia altriz;

Para o gado ovino, pesando a cabeça natural de 20 a 30 kilos, 3 kilos de feno por 100 de peso vivo ou 1160 grammas de substancia altriz 1.

Para o gado muar e asnar não se tem feito, que nos conste, experiencias attinentes a conhecer sua relação racoaria, mas como eqoideos de pouco.corpo que

· Acha-se a substancia altriz ou assimilavel de qualquer forragem, segundo as experiencias e estudos de Wolf multiplicando a somma de seus principios nutritivos (albuminoides, saccaroides e gordos) pelo coefficiente de digestibilidade. E este coefficiente acha-se dividindo a somma d'aquelles principios por esta mesma somma e inais o linhoso sendo n a somma dos principios nu. tritivos e l o linhoso.—Para o caso do feno tomado como typo, tem este segundo a analyse de Boussingault por 100 partes em peso 7,2 de principios azotados ou albuminacios; 44,4 de saccaroides, 3,8 de principios gordos e 24,4 de linhoso ou cellulose; isto é: em 100 de feno 55,4 de materia nutri

55,4 tiva e 24,4 de materia linhosa. Então o coefficiente de digestibilidade do feno é:


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1465, agosto 25 — Côrtes da Guarda. N'ellas se determinou, que pelos portos do reino serem muitos, e por elles se tirar o ouro e prata contra lei, etc.

1478, Lei de côrtes - Que se guardasse a ordenação feita para os estrangeiros não levarem do reino ouro, nem prata.

1492 - Manda el-rei D. João II, a Vasco da Gama, tomar dez náos de França, que se achavam em Lisboa carregadas de fazendas, em represalia d'uma caravella da Mida com muito oiro, que os francezes, estando em paz, lhe haviam tomado.3

1513, fevereiro 26 --- Carta de Thomé Lopes para el-rei sobre a carregação de cobre, etc.

1517, julho 7 - Carta de Lourenço Lopes a el-rei, dizendo-lhe, que o cobre que os mercadores allemães vendiam, era mais commodo, comprando se-lhe juntamente a prata.

1517, agosto 4 -- Carta de Lourenço Lopes ao secretarío, sobre a decisão do negocio do contracto do cobre.5

1519, setembro 9-Carta de Ruy Fernandes à el-rei, sobre o contracto do cobre.5

1520, janeiro 10 – Carta de Ruy Fernandes a el-rei, sobre os contractos do cobre e pimenta.5 1520, fevereiro 2 - Carta de Ruy Fernandes a el-rei, sobre os contractos do

2 cobre e pimenta.

1522, fevereiro 5 ---Instrucções dadas a João da Silveira, embaixador de Portugal em França, acerca da tomadia que os francezes haviam feito em alguns navios portuguezes, e especialmente n'uma caravella da Mina... com o valor de quinze mil'cruzados...6 1525-1535 - Côrtes geráęs em Torres Novas é em Évora - Capitolo 170–

Que vossa alteza mande prover sobre as moedas de ouro d'estes reinos, as quaes se levam para fóra, de maneira que se não acha um crusado, nem portuguez, nem moeda de ouro dos ditos reinos, somente moedas de fóra d'outros reinos, minguadas de peso, e na lei de ouro.

1538, novembro 26 - Respostas publicadas — Lei 25... Mandando que nas casas da moeda dos reinos e senhorios se lavrem somente cruzados de ouro, cada um de uma oitava de onça, menos 3/4 de grão, de lei de 22 quilates e cinco oitavos largos, com o valor de 400 reaes cada um... e das moedas de prata se lavre uma moeda que se chame real portuguez, de peso de dois violens, e da mesma lei, que se até aqui lavravam as moedas de prata, a qual valem 40 reaes.?

1539, novembro 20—Lei... 8 O marco de prata amoedado ficou valendo réis 2$500.

1541, fevereiro 1 - Lei !... Mandando que depois da sua publicação as Dobras de ouro, e Meias dobras e Quartos, das terras dos Xarifes de Marrocos e de Sus, não corressem em preço algum pela sua desigualdade na lei e' no peso, po. dendo ser fundidas em qualquer parte, ou nas casas da moeda, aonde se pagariam a seus donos.

1548 — Consta que o governador, Garcia de Sá, mandára no Estado da India bater moeda de ouro na casa da Moeda de Goa, a saber: S. Thomé da lei dos Pardáos redondos; etc.

1549, março 1 – Manda el-rei a Estevão Gago de Andrade reclame do principe Maximiliano, que então governava Castella, repare a violação que um navio de Andalusia havia feito, carregando mercadorias da costa de Guiné, sendo coral, conchas, oiro, malaqueta.14

JOSÉ DE SALDANHA. (Continua)

Director da Casa da Moeda. 10. (1) pag. 52. 90. U pag. 27.

1 (). () T. 3.", pag. 163. 40. (1) T. 2.°, pag. 335. 50. (1) T. 2.°, pag. 336. 60. (1) T. 3.°, pag. 199.

10. Memoria das moedas correntes em Portugal, etc. por Manuel Bernardo Lopes Fernandes,


8 0. (8) pag. 133. 90. (8) pag. 138. 100. (8) pag. 336. 11 0.18) T. 2.°, pag. 414.


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(APONTAMENTOS HISTORICOS)

I hotov. Last I

lin O correio tomou uma tal importancia nos tempos modernos, são tantos, tão continuados, tão notaveis os serviços que presta quotodianamente, que não ha individuo, classe ou profissão que possa hoje prescindir d'elle. Depositario de todos os interesses, vehiculo para a transmissão de todas as idéas, de todos os affectos, traz diariamente, a cada um de nós, novos elementos de vida moral, intellectual e politica. Ao mesmo tempo que nos transmitle as novas da paz e da guerra da alta e baixa dos preços, dos progressos do espirito humano, do desenvolvimento da sciencia, das descobertas e trabalhos que vão illustrando o nosso seculo, dá-nos noticias dos entes que mais estimamos, falla-nos das nossas affeições, permitte-nos partilhar a vida, os desejos, as esperanças d'aquelles que a sorte collocou em longes terras.

O correio é o melhor caracteristico da civilisação moderna; a perfeição ou atraso d'esse ramo de serviço publico, exactamente a medida do grao de prosperidade, d'illustração, d'adeantamento de cada povo.

o correio tal qual existe hoje-um serviço regular de transporte para determinados objectos, posto á disposição do publico mediante uma retribuição modica -é uma instituição moderna; estabeleceu-se na Europa no secolo xv, medrou successivamente pelas necessidades administrativas e pelas conveniencias do commercio e tornou-se nos nossos dias o auxiliar indispensavel do desenvolvimento moral e material dos povos.

Os serviços de transportes organisados em diversos paizes da antiguidade eram instituições destinadas exclusivamente ás communicações do poder central com os seus delegados ou representantes nas provincias. Era este o fim das linhas de correios creadas na Persia no tempo de Cyrus; era este o caracter principal do cursus publicus dos romanos; era esta a indole do serviço de mensageiros existente no Perú e no Mexico no tempo da conquista, que ali funccionava com uma prestesa e pontualidade que assombrou os bespanhoes; foi esse o intuito com que Carlos Magno restaurou no seculo is as instituições postaes romanas.

A rapidez da transmissão das ordens e a celeridade na remessa das informações são a primeira necessidade d'uma administração regular; por isso nos tempos antigos o desenvolvimento do serviço de correios apparece sempre com o auxiliar indispensavel de boa governança e ainda nos tempos modernos a sua organisação é filha em muitos paizes das tendencias centralisadoras e das conveniencias politicas e administrativas do poder real.

O serviço de correios apparece pela primeira vez na Europa com o seu caracter actual nas cidades hanseaticas. Foi ali, d'aquellas republicas de negociantes ligados por solidos interesses mercantis, que o correio nasceu natural e espontaneamente para a satisfação d’uma necessidade imperiosa.

Quando principiou o movimento litterario na Europa, quando Philippe Augusto fundou a universidade de Paris, quando a universidade de Bolonha e outras d'Italia principiaram a attrahir de longes terras a mocidade que procurava o pão do espirito, tornou-se indispensavel a creação d’um systema de communicações entre os estudantes e as familias ausentes. Em França e na Italia apparecem então as corporações de amensageiros universitarios que sob a protecção das escolas e por conta d'ellas transportavam cartas e encommendas; mas estas instituições limitadas e circumscriptas estavam destinadas a serem absorvidas por outras mais amplas e complelas.

Em França, Luiz xi levado pelas necessidades da sua politica astuciosa e pelo interesse de a saber o que se passava no seu reino e nos estados visinhosv organisou pelo edito de 19 de junbo de 1464 o serviço de communicações creando o cargo de correio-mór (grand maitre des coureurs de France) estabelecendo nas esNo 11.-Março do 1814,

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tradas mudas de cavallos de quatro em quatro leguas para uso exclusivo dos mensageiros reaes. O objecto primitivo d'esta instituição era o transporte de papeis do estado; mas os correios incumbiam sé a meudo da remessa de mensagens particulares, pelas quaes recebiam uma retribuição dependente apenas da generosidade de quem pagava. Foi d'aqui que nasceu em algumas cidades o facto original, que se dava no seculo xvii, de serem os portes das correspondencias fixados, não pela repartição do correio mas segundo a vontade dos destinatarios. É que não tendo o serviço şido por muito tempo regular, nem mesmo legal, o publico não se julgava obrigado a dar senão uma gratificação a quem levava a correspondencia. Foi Richelieu quem transformou n'um serviço publico a instituição de Luiz xr; o cardeal Mazarin completou a reforma estabelecendo em favor do Estado o monopolio do transporte das carlas e supprimindo o privilegio de que gosara por muito tempo a universidade de Paris, de ter um serviço de correios por sua conta para uso proprio e do publico.

Na Allemanha o estabelecimento de linhas regulares de communicações dala do seculo xvi. Foi Rogerio, chefe da familia de Tour e Taxis (Thurn und Tassis) oriunda da Lombardia, quem estabeleceu a primeira posta a cavallo entre o Tyrol e a Italia, creando depois um novo serviço entre Vienna e Bruxellas. A casa de Tour e Taxis alcançou então o monopolio do serviço postal allemão. Em 1522, por occasião da guerra contra os turcos, o filho de Rogerio ligou Vienna e Nuremberg por uma linha de correios; Carlos V conferiu-lhe o titolo de director geral dos correios do imperio, impondo-lhe ao mesmo tempo a obrigação de crear um novo serviço entre a Hollanda e a Italia, passando por Tréves, pelo Wurtemberg, por Augsburgo e pelo Tyrol. No principio do seculo xvil era tal a importancia d'este monopolio, contra o qual protestavam a Saxonia, o Wurtemberg, o Mecklemburgo e outros estados allemães, que só pelo tratado de Westphalia foi que se liquidaram as questões que esse monopolio suscitara.

Foi tambem a familia Taxis quem estabeleceu o serviço regular de correios em Hespanba. Em 1518 os irmãos Baptista e Matheus Taxis obtiveram, por alvará de 28 d'agosto, uma serie de privilegios e regalias que lhes garantiam a posse e exploração dos serviços postaes que organisassem. Estes privilegios foram por vezes muito disputados, até que em 1707 a coroa readquiriu, mediante uma indemnisação, o monopolio que concedera. No seculo xv existia já em Hespanha o cargo de Correo Mayor, mas parece que o serviço de correios n'esse tempo não era nem regular nem destinado ao serviço dos particulares. Gonzalo Fernandez de Oviedo no seu curioso, Libro de la Camara Real del Principe D. Juan' diz o seguinte:

Q curioso Libro de la Cámara Real del Principe D. Juan, por Gonzalo FerDandez de Oviedo, dá as seguintes noticias sobre o cargo de Correo mayor no ultimo quartel do xv seculo.

«Es, un oficio (o de correio mór) de grandes provechos é muy necesario «para la conservacion del estado Real, é inteligencia que por medio de los correos «se tiene con el Sumo Pontifice, é su córte romana, como con los otros principes « potentados de la cristiandad. Número hay limitado de los correos; pero como «es oficio trabajoso, en él se acaban unos, é otros se apartan é recogen, é cada dia a faltan é los acrecientan. Los cuales siempre se despachan por mano é vez del «correo mayor é á su determioacion, porque ó él quiere aprovechar á unos más aque á otros, o porque conoce más habilidad en uno que en otro. En fin, el corareo mayor ha de ser hombre solicito é leal, é de buen entendimiento; é demás «de şu salario, es bien aposentada su persona, é dásele un buen meson para los «correos é postas; é liene muchos provechos, asi de la buseta, cuando la bay, é apostas, como de los portes. E es oficio que como se paga luego de contado, nun«ca liene necesidad de dineros é tiene aparejo de ser prestamente rico; é de aqui «viene que estos correos mayores siempre saltan en banqueros, ó traen dineros en acumpañia de cambios. - En fin, yo no he visto hombre pobre, correo mayor, sino arico sin correr las postas, sino á pié quedo despachando las mismas postas adonade otros se rompan el cuello, é el correo mayor se lleve la ganancia sin peligro ade caer del caballo ; pero no sé si será sin peligro de la anima, porque veo que «debajo de la sombra del oficio principal, hacen otros y entienden en otras cosas «como la que he dicho o peores.»

Em Inglaterra o estabelecimento do serviço regular de correios data do reinado de Henrique VIII. Já o seu antecessor Eduardo IV, por occasião da guerra contra a Escocia, organisara em 1481 uma linba de postas a cavallo com mudas de 20 em 20 milhas; mas este serviço terminou depois da conclusão da paz. Henrique VIII restaurou a instituição creada no reinado anterior, creou o logar del Master of the postes, centralisando nas mãos d'este funccionario todo o serviço postal do interior do paiz. Ao mesmo tempo que isto succedia, os flamengos e outros estrangeiros de Londres creavam um serviço regular entre esta cidade e o continente e adquiriam o privilegio de escolher o chefe d'esse serviço, que se donominava Stranger's post. Mais tarde em consequencia das queixas dos negociantes ingleżes e das disputas entre os estrangeiros, a proposito da eleição d'om tal van den Pulle para o Stranger's post, o conselho privado de Inglaterra annullou esse privilegio, o incumbiu á repartição official o cuidado de expedir as correspondencias do estrangeiro. Parece porém que continuou a existir uma empresa particular que expedia cartas para os paizes estrangeiros e essa empresa, a despeito de muitas luctas e difficuldades, obteve por fim a concessão de certas regalias e privilegios.

Em 1637 decreta-se o monopolio do transporte da correspondencia a favor do Estado, medida que levantou grandes resistencias e que foi considerada n'aquella época uma violencia é um attaque a liberdade individual. Mas o monopolio consolidou-se, e em 1710 pela reorganisação a que n'esse anno se procedeu unificaram-se todos os serviços poslaes inglezes. O que é hoje o correio ingléz e o desenvolvimento que tomou esta instituição depois das reformas abi introduzidas pelo notavel Rowland Hill é coisa que pode ser examinada facilmente por quem se der ao trabalho de ler os Reports on the post-office que a direcção geral de correios publica annualmente.

O serviço de correios foi instituido em Portugal no seculo XVI em vista da (muita necessidade que n'estes Reinos avia (diz o alvará) de n'elles aver correos e possoas com toda a fealdade e delingencia levassem as cartas e Requados asy do que a meu serviço (do Rei) cumpre como do que tocar a negoceasão dos tratos e mercadorias dos ditos meus Reinos e mercadores que n'elles tratam.... Vejamos em que condições este serviço foi estabelecido e como successivamente se foi iransformando.

ERNESTO MADEIRA PINTO. (Continua)

Empregado do Correio de Lisboa.

OS CONTOS DE FADAS EM PORTUGAL

ORIGENS E ASSIMILAÇÃO LITTERARIA

O nome de Fada é'com que se designa o maravilhoso popular em Portugal; é a forma generica por excellencia. Temos muitos anexins, em que as Fadas symbolisam a idéa moral, e sobretudo que, são restos mal lembrados de contos primitivos; taes são: «Cá e más Fadas ha.-A más Fadas más pragas. Ou tambem:

De gallinhas e más Fadas
Cedo se enchem as casas.

Quem más Fadas, não acha
Das boas se enfada.

Cerejas e más Fadas,
Cuidaes tomar poucas
E veem dobradas.

O anexim portuguez quanto tens, tanto vales, pertence à bistoria do rei Leão, quando Cordelia lhe responde:

Tant as, tant vaux et tant je t'aime.
Tant comme j'eus et tant valus
E tant aimé et privé fus.

E nos adagios portuguezes:

Faze por ter, vir-te-bão ver.
Tanto val cada um na praça
Quanto val o que tem na caixa. F. Rol. 127.

Pode-se affirmar que estes anexins são outros tantos vestigios de contos obliterados, por isso que temos grande quantidade de anexins em que se dá este fac. lo. Exemplificamos com um dos mais curiosos, e que se refere ao Roman du Renard que litterariamente não foi conhecido em Portugal; na comedia Eufrasina, de Jorge Ferreira de Vasconcellos, escripta depois de 1521, (p. 84, ed. ult.) encontra-se esta importante revelação do espirilo da salyra burgueza ter penetrado no nosso povo:

O Lobo e a Golpelha (Vulpecula)
Fizeram uma caiselha.

Por esses anexios' todos do século xvi, vemos que as Fadas se dividiam em boas e más, conforme o que fadavam; Gil Vicente, que é o escriptor aonde a vida portugueza se encontra mais intimamente retratada, allude a estes dois caracteres:

Más Fadas que vós fadaram. (C. 11, 13.)
Boas Fadas vós bajaes.
Bom prazer veja eu de vós, (C. II, p. 45.)
E boas Tadas. (C. In, ib. 93.)

Ando nas encruzilhadas
A's horas que as boas Fadas
Dormem somno repousado. (Ib.)
Por sus tristes negras hadas... 1

A crença erudita das Sereias, não podia deixar de ser adoptada em Portugal, por este povo essencialmente navegante; chamavam-lhe Fadas marinhas:

Vae logo as Ilhas perdidas No mar das penas ouvinhas,

Traze tres Fadas marinhas


Que sejam mui escolhidas (ib. p. 101.)

Nos romances populares tambem se repete esta crença; na Infanta de França )Rom. gen. fl. 10 e 11) veiu, como herescopo da donzella:

Sete fadas me fadaram No collo da madre minha,

Fadaram-me ha sette annos


Por sette annos e um dia
Hoje se acabam os annos
A'manhã por noite o dia...

É como no Roman de Partinopex de Blois.......

Nas ilhas dos Açores é que as Fadas marinbas ou Sereias occupam a imaginação; ba ali as duas designações de Marinhas e de Sereias.

Nos Contos populares do Archipelago, (n.° 32, p. 271) começa um romance assim:

• Gil Vicente, apud. Gallardo, p. 983.

Escutae se quereis ouvir:
Um rico doce cantar,
Devem de ser as Marinhas Ou os peixinhos do mar,

«Elle não são as Marinhas,


Nem os peixinhos do mar,
Deve de ser Dom Duardos
Que aqui nos vem visitar

E no romance n.° 28, (p. 259): ...

Que vozes do céo são estas
Que eu aqui ouco cantar?
Ou são os anjos no céo,
Ou as Sereias no mar.

Nas cantigas soltas da mesma collecção encontra-se esta bella quadra (p. 5):

A Sereia quando canta
Canta no pego do mar;
Tanto navio se perde
Oh que tão doce cantar.

No Auto das Fadas, representado por Gil Vicente diante de El-Rei D. João III, perseguidor incansavel das inoffensivas superstições da rudeza popular, o poela pede tolerancia para a inoocente credulidade. Ali evoca as Fadas Marinhas ou Sereias, que rem fadar o rei. a rainba e os principes e a aristocracia que estava assistinde å representação. É Gil Vicente o unico escriptor purluguez que introduzio na litleratura este riquissimo elemento nacional; faltou-lhe a liberdade de um Shakespeare, para poder dar forma a uma creação como o Sonho de uma noite de S. João; o poema era dotado de um sentimento lyrico profundo para realisar uma idéa assim

Ora sus! má creatura,
Ouve logo pelas Padas
Marinhas, bem assanhadas
E tornae essa amargura.


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N'este periodo de 1861 a 1872 a componente horisontal da força magnetica do globo tem crescido apenas de um decimo da unidade ingleza.

QUADRO DA INTENSIDADE MEDIA DA FORÇA TOTAL, EM LISBOA

Empressa em unidades inglezas Expressa em unidades de Gauss 1861... 9,71315...

4,47818 1863.

9,72274..


4,48259 1864. 9,71268.

4,47796 1865. 9,70722.

4,47543 1866. 9,69785..

4,47111 1867. 9,69295..

4,46885 1868. 9,69073.

4,46784 1869... 9,68362...

4,46455 1870. 9,67306.

4,45968 1871.. 9,67369.

4,45997 1872. 9,66061.

4,45394 Media ... .... 9,69330....

4,46919

Mostra este quadro que no periodo de doze annos de 1861 a 1872 a força total tem diminuido apenas de meia decima da unidade ingleza.

Para se fazer uma apreciação d’esles numeros diremos que se admitte hoje a existencia, em cada hemispberio, de dois pontos de maxima intensidade, que não são polos magneticos, porque a inclinação não é 90° n'estes pontos, nem para elles aponta a agulha de inclinação das regiões proximas: são propriamente focos magne.

No hemispherio norte o foco mais forte, ou o foco americano, fica a S. 0. da bahia de Hudson, perto do grande systema de lagos da America; o mais fraco, ou o foco da Siberia, julga-se que está a 70° de latitude N. e 120° de longitude E. A força d'estés focos expressa na unidade ingleza é representada respectivamente pelos n.° 14,21 e 13,30.

No hemispherio sul o foco mais intenso suppoe-sè collocado em 64° de latitode S. e 173° 1/2 de longitude E.; e o mais fraco em 60° de latitude S. e 125o de longitude E. A força n'estes focos regula por 15,60 e 14,90.

A intensidade minima provavel da superficie do globo é representada por 6,80 na unidade ingleza.

A intensidade em Lisboa é, por conseguinte, pouco inferior á intensidade media do globo.

Repetimos que é preciso não dar inteiro credito aos resultados apresentados acerca da intensidade magnetica em Lisboa; porque n'om elemento tão pouco variavel, como se vê, não basta considerar um tão pequeno numero de valores.

Concluimos, apresentando reunidos os valores actuaes dos tres elementos do magnetismo terrestre em Lisboa. Como este trabalho foi feito em 1873, este estado actual refere-se ao anno de 1872.

VALORES DOS ELEMENTOS DO MAGNETISMO TERRESTRE, EM LISBOA, NO ANNO DE 1872

Declinação occidental. Inclinação norte..... Intensidade expressa na unidade ingleza ....


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«Mas onde diabo querieis ir, meu gentil senhor? perguntou Kuniz. Dae-me licença de vos dizer, que tão cavalheiresca expedição, ainda que feita a pé, não tinha plano e era mal concebida. Pois fugir de casa sem ser para visitar nenhum parente, sem ter feito nenhum voto nem querer perigrinar, sem ao menos ter praticado uma falta, fugir sem um castigo a receiar? Sou do parecer do capellão, emquanto ao dizer que fostes encantado pelo moço Fritz, ou que andaes na pista d'alguma bonita rapariga.

a Meus bons amigos, respondeu Athelstan aos soldados já meios embriagados, quem quer ir longe não deve nunca principiar por ver o fim do caminho. Eu queria apenas correr mundo sendo tanto mais feliz quanto mais longe fosse.

Seguir sempre o seu nariz, como la diz o outro. E cumpre não esquecer que o nariz dá voltas comnosco em todas as direcções do vento. Quem não sabe goverpar a cabeça, como ha de saber governar o nariz? Não é isto assim, camaradas ?,

« É a pura verdade, disse Kuntz, e em casa não pensei nunca que fosseis um companheiro tão divertido.

«Pois é exactamente a viagem que me faz assim, retorquiu Athelstan. Se vivermos juntos abi uma centenasinha d'annos, meus amigos, é provavel que cheguemos a fazer mais intimo conhecimento.

Os soldados riram outra vez com a mais estrepitosa alegria. Depois de terem rido á larga, e terem despejado no meio de baforadas, copazios de vermelho licor, - Agora dizem-vos alto, exclamou Kuntz. Mas porque foi, Barba de Velludo, que viestes, como o outro que diz, metter-vos na bocca do lobo ? Ha tres semanas que vos perseguimos ; isto é, a partida que eu commando e mais este velho capellão, que, a cada passo, dá tombos em cima da cavalgadura; indo uns para a direita, outros para a esquerda, é reunindo-nos algumas vezes segundo o plano de campanba que eu concebi; mas conservando sempre a linha recta, sempre andando em frente.

Seguiamos pois esta linha recta, pensando ir mais longe, quando viestes de repente ao nosso encontro, como se já fosseis de volta para o castello. Ora como a intenção que tioheis era de ir visitar os paizes distantes, é facil de perceber que O vosso plano de campanha foi absurdo.

«Não corras tanto, meu velho Kuniz, respondeu Athelstan. Se quizerem, meus amigos, que lhes uma resposta rasoavel, peço-lhes que me ouçam com seriedade; porque loda a altenção de que são capazes, todas as faculdades que teem serão necessarias para comprehenderem bem o meu discurso. Bebam um trago, afim de fortalecerem a intelligencia, e se algum sente ainda em si vontade de rir, satisfaça-se depressa. Depois ouçam attentamente.»

O conselho foi seguido. Athelstan offereceu ainda aos seus convivas um vinho generoso, e depois de repetidas libações, Kuntz, Peter, Gottfried, Emmerich, Balthazar, Gunther e Hansgurgen, fincaram os cotovellos na mesa para comprehenderem melhor o que tinha a dizer-lhes o moco barão, cujo semblante se tornara serio e solemne. Então Athelstan, com voz muito branda, expressou-se n'estes termos:

Não tendes a felicidade, meus amigos, de poder assistir ás lições que me dá o velho capellão. Ha portanto, muitas coisas que ignoraes, e de que leem sido muitas vezes testemunhas o meu espirito e os meus olhos á hora fatal da meia noite. Talvez seja util occultar ao vulgo os segredos da naturesa. Esses conhecimentos poderiam perturbar as suas crenças simples e puras ou os seus trabalhos pacificos.

Ignoraes, sem duvida, que tudo o que depende da creação é redondo, ou tende a arredondar-se. Nós, os sabios, chamamos circulo á redondesa da superficie, e globo o que é redondo em todos os sentidos. Assim, não só são redondas e arredondadas as inaçãs, as peras, os ovos, as aboboras; mas ainda a nossa cabeça, os olhos e uma infinidade de coisas dentro e fóra do homem e tambem no mundo dos espiritos, estão submettidas a esta forma. Assim acontece aos astros do céo, ao sol, á lua e a todas as estrellas. A terra, na qual babitamos, é igualmente um globo, e n'esta qualidade divide-se em uma infinidade de segmentos, senos, tangentes, cordas, arcos, eixos, pólos, parallaxes, coluros, lheses, antitheses, postulala, axiomata, em argumentos dialecticos e logicos, em construcções syntheticas e outros milagres


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que sentiu ou pensou, em harmonia ou em discordancia com o sentir ou pensar dos viajantes que o precederam. - * "

É por certo um trabalho de summa difficuldade concentrar em resumido quadro o que está extensamente exarados em obras sem conto, e quasi diria em avulladas bibliothecas. Rasão, tem, pois,' ở sr. Fernandes Pinheiro em tomar para epigraphe do seu trabalho o seguinte conceito: --- Não é pequeño serviço ajuntar o disa perso, abreviar o longo e affastar o selecto.r!

Muito de passagem observarei que este conceito, na parte em que diz: e affastar o selecto,-não foi copiado com exactidão, e assim exprime o contrario do que aliás o douto conego tão habilmente desempenhou no seu livro.

trario do que o que aos leitores interessa, é que se ajunte o disperso, se abrevie o largo, e se ponha á parte, e se lhes mostre e inculque o puro, o excellente.

O que Antonio de Sousa de Macedo, na Prefaçam da Eva e Ave, disse, foi : — «Não he pequeno serviço ajuntar o disperso, abreviar o largo, apartar o selecto, é fazer, etc.): o que de modo algum significa affastar.

Mas, voltando ao Resumo, direi de novo que o auctor desempenhou habilmente o programma de Antonio de Sousa de Macedo; pois que nos offerece noticias substanciaes, que nem todos os leitores podem ir procurar em volumes sem conto, e que ainda os lidos folgam de encontrar expostas com brevidade, ou para refrescarem a memoria, ou para se deleitarem com agradaveis recordações. Indocti discant, etc.

No estudo de cada uma das Litteraturas vae o Resumo fazendo desfilar diante do leitor os principaes vultos que figuraram nos successivos periodos, com a indispensavel distincção dos ramos diversos das composições litterarias,

A exposição biographica e bibliographica, bem coino os juizos expressados no Resumo inspiram, em geral, bastante confiança, por quanto o auctor, nos pontos que successivamente vae tocando, consulta os escriptores mais competentes, os criticos mais auctorisados. Seguindo as pisadas de tão esclarecidos guias, ministranos apuradas noticias; e quando não se conforma com alguma opinião, mais ou meal nos assentada, não se descuida de expor a rasão da divergencia.

Exemplificando este enunciado, diremos que facilmente se dá credito ao Resu, no tocante à litteratura franceza, quando a sua doulrina

cochons com o juizo expressado por 'homens taes como: Villemain, Gustase Planche, Sainte-Beuvej Géruzez, Demogeot, etc.

Como já dissemos, demora-se o auctor no estudo da litteratura portugueza. Bem poucos são os escriptores, por qualquer titulo recommendaveis, de que não dê uma tal ou qual noticia. Entre aquelles de que não faz menção, e que por venlura a mereceriam; apontarei, por exemplo, Amador Arraes, Fr. Heitor Pinto, Duarte Nunes de Leão, Lucena, Bernardes. No demais, revela conhecimento cabal de todos os trabalhos de critica litteraria, que no decurso do presente seculo bão

, sido publicados e tamanha honra fazem a muitos nomes illustres, que bem podemos dispensar-nos de especificar, por estarem na lembrança e admiração dos prezadores das lettras portuguezas.

Na parte relativa á litteratura luso-brasileira, é o Resumo de grande curiosidade e interesse para nós os portuguezes, pois que encontramos ali bastantes informações sobre a historia litteraria do Brasil, maiormente no periodo posterior a independencia do Imperio.

Summamente judicioso' me parece o que diz o sr. Fernandes Pinheiro, quando trata de explicar o que entende por litteratura luso-brasileira. Sem menospresar as eruditas discussões que tem havido sobre a nacionalidade litteraria altribuida aos escriptores brasileiros, restringe-se a opinar que «a litteratura brasileira, é um garfo do tronco portuguez, um angulo que se affasta do seu vertice á proporção que sé distancia da epoca do descobrimento e colonisação, e pela força das cousas que modificam a indole e os costumes dos dois povos co-irmãos.»

Não se me attribua, no que tenho dito, a pretenção de inculcar aos leitores que b auétor do Resumo disse, à respeito dos escriptores diversos, tudo o que poderia dizer-se. Quem não vê a difficuldade de substanciar em resumo o muito que se tem escripto, por exemplo, a respeito de Lope de Vega; Calderon, e Cervantes; de