Quando surgiu o grafite no Brasil

O grafite é um movimento artístico de rua e um estilo de arte reconhecidamente aceito como tal em diversas partes do mundo, apesar de ainda ser considerado por muitos como simples vandalismo e poluição visual.

Ganhando popularidade especialmente após fazer sucesso nos bairros de Nova Iorque, o grafite logo espalhou-se para outros países, sempre carregando consigo suas características, como o antagonismo e as críticas sociais.

Confira tudo a respeito do grafite, desde o seu surgimento até o chamado pós-grafite, neste artigo completo que nós, do Gestão Educacional, preparamos para você!

O que é o grafite e quando surgiu?

Dá-se o nome grafite, no âmbito das artes, à técnica de produção de desenhos e pinturas em paredes de locais públicos das cidades. Portanto, o grafite é considerado um tipo de arte urbana, tendo uma forte relação com o gênero do hip-hop.

O grafite surgiu entre o final da década de 1960 e começo da de 1970, atingindo seu ápice, até então, entre as décadas de 1980 e 1990.

Acredita-se que o local de nascimento do grafite tenha sido a cidade da Filadélfia, na Pensilvânia, por conta de artistas pioneiros como Cornbread e Cool Earl, apesar de o movimento ter ganhado mais notoriedade graças aos grafites da cidade de Nova Iorque, especialmente os do bairro do Bronx.

Outros, porém, afirmam que o grafite tenha surgido em Paris, durante a chamada revolução contracultural, que envolvia, também, a gravação de figuras ou palavras nas paredes, sendo levado, então, aos EUA.

Entretanto, a técnica de se pintar e desenhar em paredes é ainda mais antiga, tendo relação com a chamada Arte Rupestre, nome dado às manifestações artísticas do período conhecido como pré-história, cujas marcações mais antigas ultrapassam os 60,000 anos. Durante o Império Romano, a escrita em paredes também foi bastante popular.

Das “tags” aos murais

No início, o grafite resumia-se à pintura de “tags”, ou seja, “marcas”, na forma de apelidos. Essas marcas eram repetidas ao longo da cidade, em quaisquer paredes públicas. As tags tinham o propósito, geralmente, de marcar território.

Rapidamente, entretanto, a simples marcação de tags passou para a criação das chamadas “peças”, pinturas bastante complexas, pintadas com spray, que em Nova Iorque adornavam especialmente os metrôs.

Em ambas as fases, entretanto, o grafite foi uma arte de protesto e de crítica social. O ato de fazer da cidade uma tela é, também, interpretado como uma maneira de democratização dos espaços públicos.

Grandes nomes do grafite

Alguns dos pioneiros do grafite, como comentado, foram Darryl McCray, mais conhecido como Cornbread, e Cool Earl, na Filadélfia, Pensilvânia.

Em Nova Iorque, no início da chamada “escola nova-iorquina de grafite”, os principais nomes foram Demetrius, mais conhecido como Taki183, e Stan153, que produziam majoritariamente as chamadas tags.

Esses artistas foram seguidos por nomes como Lenny McGurr, o Futura 2000, Dondi White, Jean-Michel Basquiat e Keith Haring. Esses dois últimos, em especial, ganharam bastante reconhecimento, inclusive internacionalmente.

Basquiat, por exemplo, alçou sucesso especialmente após uma exposição no The Times Square Show. Chamando a atenção da crítica e das galerias de arte, chegou a ser considerado um dos grandes nomes do neo-expressionismo por suas pinturas nos prédios e nas paredes de Manhattan.

Haring também conseguiu bastante popularidade, especialmente graças ao seu estilo próprio, bastante marcante. Seus traços eram simples e claros, com contornos sólidos, e uma abordagem bem pop. Abertamente homossexual, o artista repercutiu temas a respeito do homossexualismo e do erotismo, apesar de também tratar das mazelas dos problemas sociais, da desigualdade e do descaso das autoridades. Um exemplo é o seu famoso mural Crack is Wack (“Crack é uma droga”, em tradução livre), pintado ao lado de uma quadra de handebol em Nova Iorque.

Em Paris, há importantes artistas do grafite, também, como o famoso Blek le Rat, que chegou a pintar o Louvre com estênceis de ratos, já se aproximando de uma estética mais próxima do pós-grafite, inclusive inspirando, muito provavelmente, grandes nomes do pós-grafite, como Banksy.

O pós-grafite

A partir de 1990, uma nova vertente do grafite surgiu: o chamado pós-grafite, que manteve algumas características do grafite, como o antagonismo, mas com abordagens e técnicas diferentes, por exemplo o uso de adesivos, cartazes e estêncis.

O artista do pós-grafite mais famoso é, sem dúvidas, o britânico Banksy, conhecido por suas pinturas feitas com estêncil especialmente em Bristol e em Londres que fazem comentários sociais e políticos, questionando especialmente o autoritarismo. Suas obras são bastante agressivas e sarcásticas.

Um exemplo é a sua obra The Son of a Migrant from Syria (2015), “O filho de um imigrante da Síria”, em tradução livre, que retrata Steve Jobs, co-fundador e antigo CEO da Apple, como um imigrante, carregando uma trouxa de roupa em uma mão e um computador na outra. A obra, que está localizada em Calais, na França, onde imigrantes que estavam tentando entrar no Reino Unido ficavam alojados, é uma crítica à recusa da entrada de imigrantes no Reino Unido, fazendo um paralelo com o fato de Steve Jobs ter sido filho de um sírio que imigrou para os EUA.

O grafite no Brasil

No Brasil, o grafite chegou no início da década de 1970, incialmente em São Paulo, mas logo se se expandindo para os demais estados. Não surgiu na década de 70 atoa: neste período, o Brasil vivia sob a censura da Ditadura Militar. O grafite, portanto, era uma poderosa arma contra essa censura, com artistas se expressando por meio de suas artes e confrontando o sistema, recusando-se a serem submissos.

Atualmente, o grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. Alguns dos principais grafiteiros brasileiros são os artistas Eduardo Kobra, Os Gêmeos, Crânio, Alex Hornest, Nina Pandolfo e Nunca.

Grafite é o mesmo que pichação?

A resposta é não. A pichação é mais contraventora, sendo feita em quaisquer paredes da cidade, geralmente sem a autorização do dono, e normalmente se resumindo à marcação de “tags” ou meros rabiscos. Por conta disso, a pichação é considera vandalismo.

O grafite, por mais que tenha tinha sua fase contraventora, sendo inclusive alvo de perseguições por autoridades, como em Nova Iorque no início da década de 1980, alcançou status de arte, sendo reconhecido como tal em diversas partes do mundo. Hoje em dia, grande parte dos grafiteiros tem autorização para a realização de suas obras, sendo inclusive contratados pelos donos dos edifícios ou pelos governos locais para melhorar a estética de estabelecimentos.

Ainda hoje, entretanto, o grafite é visto por muitos como mero vandalismo e poluição visual.

Considerado por alguns como vandalismo e por outros como dignos exemplares de arte urbana, o grafite (grafitismo) ocupa o espaço das ruas e atinge democraticamente todos os transeuntes causando admiração, repulsa ou indiferença.

Conheça um pouco mais sobre essa manifestação artística que cruza a nossa vida todos os dias.

Grafitismo: a arte do grafite

Chamamos de grafite inscrições ou desenhos rabiscados à mão sobre um muro, uma parede, um monumento, uma estátua ou sobre qualquer elemento que esteja na via pública. Em resumo, os grafiteiros pretendem intervir na cidade, aplicando a sua linguagem em espaços públicos. O objetivo é, principalmente, tecer uma crítica social.

Grafite vem da palavra italiana “graffito”, que significa literalmente “escrita feita com carvão”.

O grafite é, por norma, muito perecível ao tempo e às circunstâncias uma vez que esse tipo de obra não possui proprietário nem vigia.

O trabalho que os grafiteiros produzem vive na dualidade entre a poluição visual e a obra artística. Norman Mailler, um consagrado escritor norte-americano, definiu o grafite como:

"uma rebelião tribal contra a opressora civilização industrial"

Quando surgiu o grafite no Brasil
Quando surgiu o grafite no Brasil
Grafite do artista brasileiro Toz na Zona Portuária do Rio.

Grafite vs Pichação

Há quem se pergunte se o grafite é arte ou se trata de mera pichação. Tendemos a acreditar que o ato de pichar está intimamente ligado ao vandalismo e à noção de destruição da via pública, enquanto que o grafite está relacionado à uma conotação mais positiva.

O grafitismo é considerado uma arte de rua elaborada a partir de uma técnica mais complexa. Ele é tido por muitos como um ramo das artes visuais.

Em geral, os grafiteiros - como costumam ser chamados - trabalham com latas de spray de tinta e, por vezes, stencil, sobretudo durante à madrugada, para não serem flagrados pela polícia.

Uma grande diferença entre o grafite e a pichação se dá em termos de conteúdo: em geral o grafite está relacionado à uma imagem e a pichação se foca em uma escrita de um indivíduo ou de um grupo que assina muitas vezes um texto de caráter político. A pichação está frequentemente associada à poluição visual e à marginalidade.

Enquanto o grafite é boa parte das vezes feito com a autorização do proprietário do imóvel, a pichação se dá majoritariamente sem autorização.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Quais são os limites entre o grafite e a pichação?

Os tipos de grafite

O grafite costuma ser dividido em dois grupos:

  • spray art, promovida com o uso de spray, em geral de modo rápido, utilizando formas ou palavras simples e breves;
  • stencil art, feita a partir de um cartão com formas recortadas que são colocadas no local desejado e recebem o spray de tinta. A tinta passa pelos orifícios do desenho, que é retirado posteriormente.
Quando surgiu o grafite no Brasil
Grafite feito com stencil.

O perigo de grafitar

Em muitos países grafitar locais públicos ou privados é considerado uma contravenção punida com multa ou até mesmo detenção.

Em Los Angeles, por exemplo, a arte de rua é fortemente combatida. A prefeitura inclusive lançou um aplicativo para que as pessoas pudessem denunciar casos e terem recompensas pelo gesto. Quem denuncia pode receber até dois mil dólares. Em 2016 foram feitas mais de 130 mil reclamações e praticamente 3.000km quadrados de arte de rua foram apagados. As multas em Los Angeles para quem for pego grafitando variam entre mil e cinquenta mil dólares. Quem se arrisca corre o risco também de ir para a prisão cumprir pena entre seis meses a um ano.

Em Nova Iorque, por sua vez, a lei é mais branda. Quem é pego grafitando está sujeito a uma multa pequena e/ou a um ou dois dias de trabalho comunitário.

Em Madrid a multa para os grafiteiros vai de trezentos a seis mil euros, mas não há risco de prisão. Em Londres, uma das capitais do grafite, a lei é rigorosa: a multa é de até cinco mil libras e o infrator pode ficar preso por até dez anos.

A história do grafite

Inscrições em paredes públicas são conhecidas desde a época do Império Romano. No entanto, a arte do grafite ganhou força especialmente durante a década de 1970 em Nova Iorque quando um grupo de jovens resolveu desenhar marcas na cidade.

Um ano chave para o grafite foi maio de 1968, quando na capital francesa surgiu um movimento contracultural que usou os muros para inscrever trabalhos de caráter político ou mesmo poético. Veja abaixo exemplos de pichações feitas pelo movimento na época:

Quando surgiu o grafite no Brasil
"É proibido proibir" foi um dos lemas do grupo grafitado a exaustão.
Quando surgiu o grafite no Brasil
Outro exemplo de grafite realizado na época: "Sob os paralelepípedos, a praia".

O grafite está muito ligado ao hip hop porque esse grupo viu na arte de rua uma linguagem para denunciar a opressão e a condição desfavorecida vivida por uma minoria que tentava dar voz.

Com o passar do tempo, as inscrições simples feitas inicialmente pelos grafiteiros foram ganhando contornos, cores e formas.

A primeira exposição inteiramente dedicada a arte do grafite foi realizada em 1975, em Nova Iorque, no Artist's Space. Seis anos mais tarde, Diego Cortez organizou outra exposição que foi importantíssima para o movimento intitulada New York/New Wave.

O grafite no Brasil

O grafite ingressou no país no final da década de 1970 especialmente no Estado de São Paulo influenciado pela cultura norte-americana.

Vale lembrar que vivíamos um período marcado pela censura provocada pela ditadura militar, por isso os grafiteiros foram extremamente corajosos e transgressores.

De São Paulo a arte foi se espalhando, aos poucos, para outros Estados do país. Descubra agora o nome de alguns dos grandes nomes do grafite brasileiro contemporâneo:

Os gêmeos

Autores de importantes grafites, os Gêmeos (Gustavo e Otávio Pandolfo) saíram de São Paulo para ganhar as paredes do mundo.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Grafite enorme feito pelos gêmeos no Canadá.
Quando surgiu o grafite no Brasil
Painel feito pelos Gêmeos no centro de Boston.

Eduardo Kobra

Nascido na periferia de São Paulo em 1975, Eduardo Kobra é um dos maiores artistas de rua do país já tendo realizado mais de 550 obras no Brasil e em outros 17 países.

Uma de suas obras mais famosas foi “O Beijo”, produzido em junho de 2012, em Manhattan, na região de Chelsea. A obra fazia uma releitura da fotografia tirada pelo jornalista norte-americano Alfred Eisenstaedt no dia 13 de agosto de 1945 que registrava a alegria do povo nas ruas com o fim da segunda guerra mundial. O painel de Kobra foi apagado quatro anos mais tarde.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Mural “O Beijo” foi produzido em junho de 2012, em Manhattan, Chelsea.

O mural abaixo, com a imagem da autora Anne Frank, faz parte do projeto Olhar a Paz, onde Kobra registra personalidades históricas que lutaram contra a violência como Ghandi, Einstein e Malala Yousafzai.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Mural feito por Eduardo Kobra em Amsterdam (na Holanda), em homenagem à Anne Frank.

Cranio

Fabio de Oliveira Parnaiba, conhecido no mundo das artes como Cranio, nasceu em 1982 em Tucuruvi, São Paulo. Seu trabalho tem uma pegada de forte crítica social e política e o personagem escolhido para protagonizar os seus murais foi o índio.

Quando surgiu o grafite no Brasil
O trabalho de Cranio é bastante conhecido nas ruas de São Paulo.
Quando surgiu o grafite no Brasil
O índio, seu personagem central, chama a atenção para assuntos relevantes para o país como a Amazônia, as reservas florestais e o nacionalismo.

O grafite no mundo

Um dos maiores nomes no universo dos grafiteiros talvez seja Jean-Michel Basquiat (1960-1988), um americano que deixou mensagens poéticas e críticas nos prédios abandonados de Manhattan no final dos anos 1970.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Glenn, criado por Jean-Michel Basquiat em 1984.

Outro nome importante para esse universo é Banksy, um misterioso inglês que espalha a sua arte feita com stencil ao redor do mundo. Seu trabalho é profundamente marcado por uma crítica social diante do cenário contemporâneo.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Obra feita por Banksy em um muro de Gaza.

Considerados por muitos como o pai do stencil, Xavier Prou (conhecido como Blek le Rat) nasceu em Paris, em 1951, e começou a ilustrar as ruas da capital francesa a partir dos anos 1980 com mensagens de cunho político.

Quando surgiu o grafite no Brasil
Trabalho de Blek le Rat.

As gírias do grafite

O universo do grafite é caracterizado por uma linguagem especial, uma terminologia própria permeada de gírias, muitas delas importadas do inglês norte-americano.

Confira abaixo algumas delas:

  • Bite significa imitar o estilo de outro grafiteiro;
  • Crew é o nome dado ao conjunto de grafiteiros que praticam a sua arte em conjunto e simultaneamente;
  • Tag é a assinatura do grafiteiro;
  • Piece é um grafite onde se usa mais de 3 cores;
  • Toy é o nome dado a um grafiteiro iniciante;
  • Spot é o lugar onde o grafite é feito;
  • Wildstyle é um estilo específico de grafite caracterizado pelo uso de letras entrelaçadas;
  • Free style é um trabalho livre, em geral improvisado;
  • Bomb é o nome dado ao grafite ilegal, feito por isso de modo rápido e durante a noite. Quem faz o bomb é chamado de bomber.

Descubra também