Com base no estudo de texto feito, conclua de modo geral, como se caracteriza o romance de 30

Com base no estudo de texto feito, conclua de modo geral, como se caracteriza o romance de 30

1.(FUVEST) Em A Hora da Estrela, o narrador apresenta a seguinte reflexão: ” Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um e é quando como no canto coral se ouvem agudos sibilantes”. Com base nela, explique: a) Por que o romance tem o título A hora da estrela? b) Por que é irônica a relação entre o título e a história de Macabéa?

RESPOSTAS:


a) A hora da estrela alude, metaforicamente, à morte, ao instante de fulguração rápida, mas reveladora de todo um sentido de existência. É a epifania à maneira de Clarice Lispector, dentro da ótica existencialista da busca do sentido da experiência humana.
b) A ironia, trágica no caso, dá-se pela discrepância entre a breve aspiração de glória de Macabéa, insuflada pela cartomante (a miragem da estrela hollywoodiana), a sua condição social (migrante nordestina marginalizada no Rio de Janeiro) e seu destino: atropelada por um carro de luxo, na porta do Copacabana Palace. A hora da estrela, banal e reveladora, é o instante maior de Macabéa, anônima, estatelada na rua, mas objeto da atenção fugaz de transeuntes anônimos.

2. (UP) Observe o trecho abaixo, sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector: Macabéa é então um produto do seu narrador. Aliás, toda personagem, é, de fato, o produto de um narrador que conta a história, seja este narrador quem for. Mas neste romance há uma situação especial: Macabéa nasce mesmo do narrador que faz parte da história enquanto personagem. Ele é autor do romance em que nos conta como ele “cria” Macabéa. Ele é o criador e Macabéa é sua criatura. Macabéa existe como projeção dele, como parte dele e existe em função dele. Ou seja: Macabéa existe na sua relação com o narrador, o personagem Rodrigo S. M. É ele quem nos conta a história de como ele, escritor, inventa Macabéa, explicando, a todo momento, como este trabalho, difícil, de lidar com as palavras e escrever um romance, acontece. (R. Spouza, in Macabéa: uma personae) a) Que passagem do texto pode comprovar as afirmações acima? b) Como é chamado o artifício literário explícito nas linhas finais do texto?

RESPOSTAS: a) A passagem em que Macabéa, ao se olhar no espelho, vê a imagem imediata de Rodrigo S. M.

b) Metalinguagem

3. (FUVEST) Leia este trecho de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, no qual Macabéa, depois de receber o aviso que seria despedida do emprego, olha-se no espelho: Depois de receber o aviso foi ao banheiro para ficar sozinha porque estava toda atordoada. Olhou maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário: o nariz tornado enorme como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem. a) Neste trecho, o fato de parecer, a Macabéa, não se ver refletida no espelho liga-se imediatamente ao aviso de que seria despedida. Projetando essa ausência de reflexo no contexto mais geral da obra, como você interpreta? b) Também no contexto da obra, explique por que o narrador diz que Macabéa pensou “levemente”?

RESPOSTAS:


a) O fato de Macabéa não se ver refletida no espelho remete ao fato de ser a nordestina uma ” Maria Ninguém” que sequer é nomeada em boa parte da obra. A datilógrafa é um ser “invisível “, que não é percebido pela maioria da sociedade. A sua potencial demissão apenas reforça o seu caráter de pessoa dispensável, descartável pelo sistema, “enferrujada”.
b) A alienação de Macabéa a impede de considerar qualquer questão em toda a sua amplitude. Pensa “levemente”, ou superficialmente, sem se aprofundar nas razões dos fenômenos que a circundam ou que a afetam.

4. (FUVEST) Leia os fragmentos abaixo para responder à questão.

1.”[Fabiano] ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?

2.”Havia coisas que [Macabéa] não sabia o que significavam. Uma era ‘efeméride’. E não é que seu Raimundo só mandava copiar com sua letra linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava o termo efemérides absolutamente misterioso. Quando o copiava prestava atenção a cada letra. […] Enquanto isso a mocinha se apaixonara pela palavra efemérides.”

O tema comum aos dois textos é a relação das personagens com a linguagem culta. Desse ponto de vista, explique:

a) Em que Fabiano e Macabéa se assemelham?

b) Em que se distinguem um do outro?

RESPOSTAS:

a) São ambos nordestinos, vítimas da marginalização social, da incomunicabilidade, gerada pela incapacidade de expressão verbal. Há em ambos o mesmo fascínio pela linguagem, pelo significante em seu corpo sonoro, ainda que desprovido, para eles, de significação.
b) Em relação à linguagem culta, Fabiano revela um nível de consciência mais crítico, pois, ainda que as admire, conhece o poder que têm as palavras de ludibriar, de “encobrir as ladroeiras”. A atitude de Fabiano é também mais complexa, pois mesmo temendo as “palavras difíceis”, invejava os que as dominavam e desejava que seus filhos estudassem num lugar incerto, vagamente relacionado com o Sul. Macabéa, mesmo vítima da dificuldade de expressão mesmo manipulada pelos que detêm o domínio da linguagem, é presa do poder sedutor das palavras.

5. A obra de Clarice Lispector se caracteriza sobretudo pela narrativa intimista, introspectiva, sem preocupação em tratar explicitamente de questões sociais. Assim, de que maneira a construção de um a protagonista como Macabéa diferença A Hora da Estrela de outros textos da autora?

RESPOSTA:

Ao escolher Macabéa como protagonista desse romance, Clarice Lispector, além de enfatizar aspectos da realidade, manifesta uma intenção explicitamente social que não aparece em seus outros textos, embora não seja essa a dimensão valiosa da obra. A representação da vida de Macabéa e suas misérias pode ser vista como uma tentativa de retratar a condição dos milhares de nordestinos que migram pata o Sudeste em busca de oportunidades na época em que o romance foi escrito.

6. Nos três primeiros encontros dos jovens, Olímpico e Macabéa, está chovendo. Que sensação a repetição desse fato provoca no leitor?
RESPOSTA:

Pode-se dizer que a chuva imprime a cada encontro uma sensação desagradável de melancolia, de monotonia.

7. Macabéa é caracterizada, ao longo da narrativa, como alguém insignificante, incapaz de qualquer reação diante da vida. De que maneira essa característica pode ser percebida no momento em que Olímpico atribui a ela a responsabilidade pela chuva?

RESPOSTA:

O fato de Macabéa se desculpar com Olímpico, apesar de ter sido tratada de forma ríspida pelo “namorado”, como se de fato ela fosse responsável pela chuva.

8. (FUVEST) “Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver-se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro.” a) Descreva o recurso poético utilizado pela autora em ‘imaginavazinha’, forma que escapa à gramática da língua.

b) Justifique o uso de ‘imaginavazinha’, utilizando dados do contexto em que se acha e considerando também a posição do narrador em relação à personagem central, em “A Hora da Estrela”.

RESPOSTAS:

a)Utilizou-se um sufixo nominal de diminutivo numa forma verbal, indicando afetividade.
b) O recurso acentua a ideia de fragilidade e pequenez da personagem, e a empatia do narrador em relação a ela.

9. (UFU) Leia os textos a seguir. TEXTO A

“Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou de perto as manchas no rosto. Em Alagoas chamavam-se ‘panos’, diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio. […] Só eu a amo.”  Clarice Lispector. “A hora da estrela”.

TEXTO B

“Uma nordestina Ela é uma pessoa no mundo nascida. Como toda pessoa

é dona da vida.

Não importa a roupa de que está vestida. Não importa a alma aberta em ferida. Ela é uma pessoa e nada a fará desistir da vida. Nem o sol de inferno a terra ressequida a falta de amor a falta de comida. É mulher é mãe:

rainha da vida.

De pés na poeira de trapos vestida é uma rainha e parece mendiga: a pedir esmolas

a fome a obriga.

Algo está errado nesta nossa vida: ela é uma rainha e não há quem diga.”     Ferreira Gullar. “Melhores poemas”. a) Cite dois elementos constitutivos do poema que contribuem para acentuar o seu caráter de apelo “popular”. b) Compare os textos e discorra sobre a descrição da nordestina, considerando: – as perspectivas diferentes do narrador e sujeito lírico. – os aspectos convergentes das opiniões do narrador e sujeito lírico.

RESPOSTAS:

a)Linguagem simples, repetições, contrastes (apesar de pobre, é rainha da vida). b) Para o narrador (primeiro texto), a nordestina só é vista e amada por ele, não tem valor para a sociedade. É uma pessoa indefesa, fraca.

Para o eu lírico (segundo texto), a nordestina, apesar das dificuldades da vida, é forte, valente, dona de sua própria vida.

10. (UCAM) Relacione a declaração a seguir, feita por Rodrigo S.M., com a maneira pela qual foi realizada a construção da narrativa: “Os fatos são sonoros mas entre os fatos há um sussurro. É o sussurro que me impressiona.”

RESPOSTA:

 A história de Macabéa não apresenta grandes acontecimentos e nem grandes feitos ou ações. A riqueza da narrativa não está nos fatos, está nas entrelinhas; não está no que é mostrado, mas no que é sugerido. Trata-se de uma obra altamente subjetiva, cujo enredo constitui-se apenas como cenário para as problematizações em torno da existência humana.

11. (UCAM) “Não se diz nenhuma novidade ao afirmar que as palavras, ao mesmo tempo que veiculam o pensamento,lhe condicionam a formação. Há século e meio, Herder já proclamava que um povo não podia ter uma ideia sem que para ela possuíssem uma palavra. Num momento em que a hegemonia milenar do verbo escrito e falado se vê, pela vez primeira, seriamente ameaçada pelo prestígio crescente da imagem visual, o culto consciente da expressão vocabular ganha nova e premente atualidade. Esse culto, aliás, impõe-se principalmente às pessoas que se exprimem em determinados idiomas, entre eles o português. O vocabulário abstrato coloca um indivíduo de língua neolatina ou inglesa em presença de dificuldades que um russo, um alemão ou um húngaro desconhecem. Com efeito, nos idiomas destes últimos a terminologia abstrata deixa à vista os elementos indígenas de que os vocábulos são formados, de modo que estes se integram naturalmente num sistema mental de conexões. Ao contrário, aqueles cuja língua materna herdou já prontas,de outras, inúmeras palavras derivadas, são privado dessa compreensão espontânea de parte importante do léxico: ao ouvirem um termo “culto” pela primeira vez, normalmente não lhe associam o respectivo sentido. Esse inconveniente, apontado por W. V. Wartburg no francês, língua em que “às relações semânticas entre noções não correspondem relações entre palavras”, existe em português também, e num grau quase igual. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)

Segundo o narrador do romance A Hora da Estrela, como pode ser analisada a relação entre Macabéa e outros idiomas? Explique.

RESPOSTA:

Macabéa achava que “lacrima”, em vez de lágrima, era erro do homem do rádio, pois, de acordo com o narrador do romance, Rodrigo S.M., Macabéa não pensava existir outra língua e ainda pensava que, no Brasil, falava-se brasileiro, como está registrado às fls. 51 e 52 do romance A HORA DA ESTRELA.

12. (PUC-RS) Para responder à questão, leia o trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector. Olímpico de Jesus trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava de “operário” e sim de “metalúrgico”. Macabéa ficava contente com a posição social dele porque também tinha orgulho de ser “datilógrafa”, embora ganhasse menos que o salário mínimo. […] As poucas conversas entre os namorados versavam sobre farinha, carne-de-sol, carne-seca, rapadura e melado. Pois esse era o passado de ambos e eles esqueciam o amargor da infância, porque essa já que passou é acre-doce e dá até nostalgia.

Com base no fragmento de texto, é correto afirmar:

I. Macabéa percebe a ascensão social de Olímpico de Jesus.

II. Os protagonistas migram para a cidade grande.

III. Macabéa sente-se satisfeita por ser datilógrafa.

IV. Macabéa e Olímpico de Jesus estão esquecidos da vida que levavam no Nordeste.

As afirmativas corretas são, apenas,

a) I e II.

b) I e III.

c) III e IV.

d) I, II e III.

e) II, III e IV.

13. (ITA) O título do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, diz respeito ao seguinte momento do romance:

a) O despertar amoroso de Macabéa no namoro com Olímpico.

b) A descoberta de Macabéa de que Olímpico a traía com Glória.

c) A obtenção por Macabéa de um bom emprego como datilógrafa.

d) A previsão do grande futuro de Macabéa, feita pela cartomante.

e) A morte de Macabéa, atropelada por um carro de luxo.

14. (PUC-PR)  Leia o seguinte excerto de Antonio Candido.

O regionalismo, como o conhecemos, é uma das respostas a essa tensão, desde o início, no Romantismo, até os dias de hoje, quando o vasto horizonte de possibilidades temáticas e expressivas, oriundos da prolífica diversidade e da extrema desigualdade econômica, que recortam o Brasil em regiões, ainda alimenta a imaginação criadora. (PELLEGRINI, Tânia. Despropósitos: estudos da ficção brasileira contemporânea. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008, p. 119.)

Com base nessa declaração de Antonio Candido, considere as seguintes afirmações sobre a relação do romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, com o regionalismo.

I. O romance de Clarice, ainda que não propriamente regionalista, pois ambientado no Rio de Janeiro, dialoga com o regionalismo, pois sua protagonista, Macabéa, uma moça pobre oriunda do Nordeste, atesta com sua trajetória a enorme discrepância econômica existente entre as regiões do Brasil.

II. A hora da estrela, de Clarice Lispector, se insere na chamada literatura regionalista não somente por sua protagonista, Macabéa, e seu namorado, Olímpico de Jesus, serem oriundos do Nordeste, mas também por tematizar características do Nordeste ao longo da narrativa, sobretudo nos diálogos entre Macabéa e Olímpico.

III. Primeira e única incursão de Clarice Lispector no gênero regionalista, A hora da estrela traça um painel pungente da realidade social de Recife, com suas feiras de rua, seus costumes e a penúria de sua população mais humilde, da qual Macabéa é um exemplo.

As afirmações I, II e III são respectivamente

a) V, F, F.

b) V, V, F.

c) V, V, V.

d) F, V, V.

e) F, F, F.

15. (ENEM) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.   […]

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré- história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

a)observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.

b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem

c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.

d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.

e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.

16. (FUVEST) “Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao deus-dará. Eu que também não mancharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa.”    (Clarice Lispector, A Hora da Estrela) Em A Hora da Estrela, o narrador questiona-se quanto ao modo e, até, à possibilidade de narrar a história. De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de ser ele um narrador: a) Iniciante, que não domina as técnicas necessárias ao relato literário. b) Pós-moderno, para quem as preocupações de estilo são ultrapassadas. c) Impessoal, que aspira a um grau de objetividade máxima no relato. d) Objetividade, que se preocupa apenas com a precisão técnica do relato.

e) Autocrítico que percebe a inadequação de um estilo sofisticado para narrar a vida popular.

 17. (UFPE) O questionamento existencial constitui um tema muito apreciado por muitos dos escritores modernos, os quais compreendem que a linguagem não consegue alcançar a dimensão da existência. Clarice Lispector é um desses escritores. Leia o texto abaixo, fragmento da Dedicatória do Autor que precede à obra A Hora da Estrela, e analise os enunciados seguintes, considerando a relação entre a dedicatória e o próprio romance.

“[…] a todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas, todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto de eu neste instante explodir em: eu. Esse eu que é vós pois não ser apenas mim, preciso dos outros para me manter de pé, tão tonto que sou, eu enviesado, enfim que é que se há de fazer senão meditar para cair naquele vazio pleno que só se atinge com a meditação. Meditação não precisa de ter resultados: a meditação pode ter como fim apenas ela mesma. Eu medito sem palavras e sobre o nada. O que me atrapalha a vida é escrever: E – e não esquecer que a estrutura do átomo não é vista mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi. E vós também. Não se pode dar uma prova de existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar: acreditar chorando.”

0-0) A dedicatória impressa no livro em questão configura um desabafo da escritora, não dialogando com a narrativa que a ela se segue, pois Clarice Lispector constrói um enredo de caráter social, ao focar a vida de uma retirante nordestina.

1-1) No romance, o discurso do narrador/autor nos leva a crer que a arte de escrever se contamina de outras formas artísticas, como a música e as artes plásticas – “Escrevo em traços vivos e ríspidos de pintura”.

2-2) A Hora da estrela trabalha com dois planos narrativos distintos: o plano do narrador, que tem identidade própria no romance e questiona seu próprio ato de criação; e o plano da criação ficcional desse narrador que é também autor.

3-3) Macabéa é uma personagem cuja construção beira o grotesco, como nas palavras do narrador: “um feto jogado na lata do lixo embrulhado em um jornal”. No entanto, essa feiura contrasta com a riqueza e o grande mistério da alma da personagem.

4-4) Pelo tema trabalhado, A Hora da Estrela é uma obra que se afilia à tradição do romance regionalista de 30. A história da nordestina que migra para a cidade grande e sucumbe à nova realidade constitui um tema social caro aos escritores regionalistas da segunda fase do Modernismo brasileiro.

RESPOSTA: FVVVF

18. (ITA) No romance A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, o narrador faz muitas observações acerca de Macabéa, tais como:

I. Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha.

II. Ela não pensava em Deus. Deus não pensava nela.

III. Vejo a nordestina se olhando no espelho e – um ruflar de tambor – no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos.

IV. […] ela era um acaso. […] Pensando bem: quem não é um acaso na vida?

Tais frases nos permitem dizer que Macabéa provoca no narrador

a) um forte sentimento de piedade, provocado pela condição miserável em que ela vive.

b) um desejo imenso de acolhê-la em sua casa, ou de ajudá-la de alguma forma.

c ) uma revolta diante do drama dos migrantes nordestinos no Sudeste, simbolizado por Macabéa.

d) sentimentos que ele mesmo não sabe definir, mas que têm a ver com a condição humana.

e) uma necessidade de escrever para tentar entendê-la, pois ele se identifica com ela.

19. (ACAFE) Sobre o texto “Tentarei tirar ouro de carvão. Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem a bola. O fato é um ato? Juro que este livro é feito sem palavras.”, extraído do livro A hora da estrela, pode-se afirmar que:
a) o narrador-escritor vai transformar situações cotidianas em uma história de vida, de fatos e acontecimentos, e o “livro é feito sem palavras” pelo fato de ser um retrato da vida. b) a história de Macabéa (protagonista do livro) é um conto de fadas, em que ela encontra o seu príncipe e vivem felizes para sempre. c) o narrador explica a relação de poder que um homem mantém sobre a mulher. d) é uma crítica ao “canibalismo” deste mundo cão, no caso, a anulação do ser humano pela cidade grande.

e) se trata de um jogo de palavras em que o autor busca explicar a história de vida de um trabalhador sem qualificação, vivendo numa grande metrópole

20. (PUC-SP) A obra A hora da estrela, de Clarice Lispector marca-se pela depuração da arte de escrever e dialoga com todo o universo ficcional da autora. Despontam nela as perplexidades da narrativa moderna. Indique a alternativa que NãO condiz com esse romance entendido como um todo: a) A história são as fracas aventuras de uma moça alagoana, “numa cidade toda feita contra ela”, o Rio de Janeiro.

b) Macabéa, personagem do romance, tem a coragem e o heroísmo dos fortes e se torna, na vida, a grande estrela com que sempre sonhou.

c) A estrela que dá título à obra é a estrela de cinema e só aparece mesmo na hora da morte. d) A narrativa constrói-se da alternância entre as reflexões do narrador que parece narrar a si mesmo e os fatos apresentados que dão o retrato da protagonista.

e) O espaço da ação é o social-urbano, mas restrito à “Rua do Acre para morar” e à “Rua do Lavradio para trabalhar”.

21. (FUVEST) Sobre o narrador de A hora da estrela, de Clarice Lispector, pode-se afirmar que: a) é do tipo observador, pois revela não ter conhecimento sobre o que se passa no universo sentimental e psíquico da personagem (Macabéa). b) é onisciente, pois assume o papel de criador de uma vida, sobre a qual detém todas as informações; o poder da onisciência é, para ele, fonte de satisfação, pois Rodrigo S. percebe que os fatos dependem de seu arbítrio. c) é do tipo observador, pois limita-se a descrever superficialmente as emoções de Macabéa, o que fica evidente nas ocorrências enigmáticas do termo “explosão“, apresentado sempre entre parênteses. d) constitui-se como um personagem, pois narra em primeira pessoa; não há, entretanto, referências à sua história pessoal, visto que seu objetivo é falar sobre um personagem de ficção (Macabéa).

e) é um dos personagens do livro; entretanto, ao apresentar-se não só como narrador, mas também como criador da história, problematiza a essência da literatura de ficção, que reside na recriação arbitrária do real.

22. (PUC-SP) A respeito de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, indique a alternativa que NÃO confirma as possibilidades narrativas do romance: a) Livro com muitos títulos que se resumem à história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima. b) História do narrador Rodrigo M. S., que se faz personagem, narrando-se a si mesmo e competindo com a protagonista. c) História da própria narração, que conta a si mesma, problematizando a difícil tarefa de narrar. d) História de Macabéa, moça anônima e que não fazia falta a ninguém.

e) História de Olímpico de Jesus, paraibano e metalúrgico, vivendo o mesmo drama de Macabéa e identificando-se com ela.

23. (UFV) Leia o trecho abaixo: “Bem, é verdade que também eu não tenho piedade do meu personagem principal, a nordestina: é um relato que desejo frio. (…) Não se trata apenas da narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira. (…) Como a nordestina, ha milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa.Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam.” (Clarice Lispector) Em uma das alternativas abaixo, há um aspecto do livro de Clarice Lispector, A Hora da Estrela, presente no fragmento acima, que o aproxima do chamado “romance de 30”, realizado por escritores como Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz: a) A preocupação excessiva com o próprio ato de narrar. b) O intimismo da narrativa, que ignora os problemas sociais de seus personagens.

c) A construção de personagens que têm sua condição humana degradada por culpa do meio e da opressão.

d) A necessidade de provar que as ações humanas resultam do meio, da raça e do momento.

e) A busca de traços peculiares da Região Nordeste.

24. (FUVEST) Identifique a afirmação correta sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector: a) A força da temática social, centrada na miséria brasileira, afasta do livro as preocupações com a linguagem, frequentes em outros escritores da mesma geração. b) Se o discurso do narrador critica principalmente a própria literatura, as falas de Macabéa exprimem sobretudo as críticas da personagem às injustiças sociais.

c) O narrador retarda bastante o início da narração da história de Macabéa, vinculando esse adiamento a um autoquestionamento radical.

d) Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados, no livro, pelo contraste entre suas desventuras na cidade grande e suas lembranças de uma infância pobre, mas vivida no aconchego familiar.

e) O estilo do livro é caracterizado, principalmente, pela oposição de duas variedades linguísticas: linguagem culta, literária, em contraste com um grande número de expressões regionais nordestinas

25. Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador: a) assume momentaneamente as convicções elitistas que, no entanto, procura ocultar no restante da narrativa. b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de artifício. c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a reação de Macabéa frente ao espetáculo. d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua superação.

e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia

26. (PUC-SP) Assinale a alternativa que não está de acordo com a personagem Macabéa, do romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector: a) Nordestina pobre, anônima e semianalfabeta, era impotente para a vida e não fazia falta a ninguém. b) Tinha a “felicidade pura dos idiotas” e “vivia num atordoado limbo entre céu e inferno”.

c) Personagem-título do romance, embora feita de matéria rala, tornou-se, na vida, a grande estrela com que sempre sonhou.

d) Ingênua, acreditou no que a cartomante lhe disse, mas acabou sendo atropelada e morta por um Mercedes amarelo.

e) Viveu um conto de fadas às avessas, delineando um contraponto bíblico sem, contudo, apresentar a coragem e o heroísmo dos fortes

 27. (FUVEST) Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe: — E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? — Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia. — E, se me permite, qual é mesmo a sua graça? — Macabéa. — Maca — o quê? — Bea, foi ela obrigada a completar. — Me desculpe mas até parece doença, doença de pele. Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome ue nin uém tem mas arece ue deu certo — arou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor — pois como o senhor vê eu vinguei… pois é… — Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande divida de honra. Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado: — Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor? Da segunda vez em que se encontraram caia uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo. (Clarice Lispector, A hora da estrela) Neste excerto, as falas de Olímpico e Macabéa: a) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam a oposição cultural entre a mulher nordestina e o homem do sul do País. b) demonstram a incapacidade de expressão verbal das personagem, reflexo da privação econômica de que são vitimas.

c) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido de humor e sátira social.

d) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que opõe os princípios antagônicos do Bem e do Mal.

e) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do desamparo social e existencial das personagens.

28. (UFPE) Alguns clássicos da literatura brasileira da segunda metade do século XX já operavam um desvio no ideário do movimento regionalista de 1930. Leia os textos abaixo e analise os comentários a seguir.

beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães (…) o sertão está em toda a parte. (…) Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades (…) Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente.”(…)

Rebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos. Que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas).

O casario, as cruzes, aves e árvores, vacas e cavalos, a estrada, os cata-ventos, nós levando Joana para o cemitério. Chapéus na mão, rostos duros, mãos ásperas, roupas de brim, alpercatas de couro, nós vamos conduzindo Joana para o cemitério, nós, os ninguéns da cidade, que sempre a ignoraram os outros, gente do dinheiro e do poder. Desapareceu a lua no horizonte. E todos viram ser a brancura do mundo apenas uma crosta, pele que se rompia, que se rompeu, desfez-se, revelou o esplendor e o sujo do arvoredo, do chão, a cor do mundo. Jambos, mangas-rosa, cajus, goiabas, romãs, tudo pendia dos ramos, era uma fartura, um pomar generoso e pesado de cheiros. Viveu seus anos com mansidão e justiça, humildade e firmeza, amor e comiseração. Morreu com mínimos bens e reduzidos amigos. Nunca de nunca a rapinagem alheia liberou ambições em seu espírito. Nunca o mal sofrido gerou em sua alma outras maldades. Morreu no fim do inverno. Nascerá outra igual na próxima estação? (Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina).

“Uma vez por outra tinha a sorte de ouvir de madrugada um galo cantar a vida e ela se lembrava nostálgica do sertão. Onde caberia um galo a cocoricar naquelas paragens ressequidas de artigos por atacado de exportação e importação? (…) Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. Porque, por pior que fosse sua situação, não queria ser privada de si, ela queria ser ela mesma.” (Clarice Lispector, A hora da estrela).

 0-0) Pela exploração literária do aspecto degradado de seus habitantes subdesenvolvidos, nos três trechos citados, fica clara a intenção de denúncia do cenário de miséria do sertão brasileiro.

1-1) Na obra de Guimarães Rosa, ao contrário da maioria dos escritores regionalistas brasileiros, o sertão é visto e vivido de uma maneira subjetiva, profunda, e não apenas como uma paisagem a ser descrita, ou como uma série de costumes que parecem pitorescos.

2-2) No conto Retábulo de Santa Joana Carolina, Osman Lins presta uma grandiosa homenagem à mulher simples e sofrida do sertão nordestino, sobrepondo a riqueza de sua sabedoria e a retidão de seu caráter à aparente miséria do contexto.

3-3) Em A hora da estrela, Clarice Lispector utiliza, em algumas passagens, uma terminologia típica da descrição dos cenários da seca nos romances regionalistas, para descrever a paisagem urbana onde vive a nordestina Macabéa.

4-4) Em todos os textos, o nordestino é valorizado em si, como ser humano que é, e não em função do aspecto do cenário em que se insere ou dos bens que acumula à sua volta.
RESPOSTA: FVVVV

29. (FEI-SP) Trata-se do último livro publicado por Clarice Lispector, em vida, em 1977. A personagem protagonista é Macabéa, que acumula em seu corpo franzino todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheada de si e da sociedade. As afirmações acima referem-se à obra:

a) A hora da estrela

b) Perto do coração selvagem c) A maçã no escuro d) A paixão segundo G. H.

e) Laços de família

30. (FUVEST) “A ação desta história terá como resultado minha transfiguração em outrem (…)”. Neste excerto de A hora da estrela, o narrador expressa uma de suas tendências mais marcantes, que ele irá reiterar ao longo de todo o livro. Entre os trechos abaixo, o único que Não expressa tendência correspondente é: a) “Vejo a nordestina se olhando ao espelho e (…) no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos”. b) “é paixão minha ser o outro. No caso a outra”.

c) “Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, como se chegasse a si mesma”.

d) “Queiram os deuses que eu nunca descreva o Lázaro porque senão eu me cobriria de lepra”.

e) “Eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti”.

31. (ACAFE) No livro A hora da estrela, ocorre a quebra das convenções da arte de narrar: o narrador estabelece com o leitor um jogo. Assim, é VERDADEIRO o que se afirma em: a) O narrador faz uma narrativa aberta para o leitor, procurando fazer com que o leitor se identifique com os personagens. b) Existe um narrador que dificulta a localização de sua voz, misturando-a com a das outras personagens. c) A escritura do texto é extremamente rebuscada e, portanto, difícil de estabelecer qualquer relação do texto com o narrador.

d) O narrador, a todo momento, chama a atenção do leitor, alertando-o de que se trata de uma obra de ficção e, consequentemente, dificultando uma identificação do leitor com os personagens.


e) Não é possível identificarmos a presença do narrador.

32. (FUVEST) A narração hesitante e digressiva, em constante autoexame, não se limita apenas a registrar o sentimento de culpa do narrador, mas traduz, também, uma autocrítica radical, em que ele questiona sua própria posição de classe e, com ela, a própria literatura. Esta afirmação aplica-se a: a) Memórias de um sargento de milícias b) Memórias póstumas de Brás Cubas c) Morte e vida Severina d) O primo Basílio

e) A hora da estrela

33. (UFRGS ) No bloco superior abaixo, estão listados os títulos dos romances de Carolina Maria de Jesus e de Clarice Lispector; no inferior, trechos desses romances.

Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1. Quarto de despejo

2. A hora da estrela

(     ) Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco desta moça. E ela tanto mais me incomoda quanto menos reclama. […] Como me vingar? Ou melhor, como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem mais comida do que a moça. Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente.

(     ) Achei um saco de fubá no lixo e trouxe para dar ao porco. Eu já estou tão habituada com as latas de lixo, que não sei passar por elas sem ver o que há dentro. […] Ontem eu li aquela fábula da rã e a vaca. Tenho a impressão que sou rã. Queria crescer até ficar do tamanho da vaca.

(     ) A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.

(     ) “Una Furtiva Lacrima” fora a única coisa belíssima na sua vida. […] Era a primeira vez que chorava, não sabia que tinha tanta água nos olhos. […] Não chorava por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era “assim”. Mas também creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 2 – 2 – 1.

b) 2 – 1 – 1 – 2.   

c) 2 – 1 – 2 – 1.

d) 1 – 2 – 1 – 2.

e) 1 – 1 – 2 – 2.

34. (PUCCAMP) Maquiavel (…) admitia que a posição dos subalternos é estratégica para a análise de quem está por cima. Relacionando-se a frase acima com o romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, verifica-se que a afirmação de Maquiavel a) se confirma, pois Rodrigo faz excelente análise das classes privilegiadas. b) se confirma, pois Macabéa faz análise crítica do poder de seus superiores. c) não se confirma, pois Rodrigo tem reduzida consciência de sua classe social.

d) não se confirma, pois Macabéa não tira proveito crítico de sua posição.


e) não se confirma, pois Olímpico não se interessa por quem tem algum poder.

35. (FUVEST) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e A hora da estrela: 
I. Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam. II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social. III. A personagem sinhá Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo. Está correto apenas o que se afirma em: a) I.

b) II.

c) III. d) I e II.

e) II e III.

36. (ACAFE) Sobre o romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, é FALSO afirmar que: a) ao ser atropelada e morta por um caminhão Mercedes Bens, a protagonista tem, enfim, um grande momento, à maneira de uma estrela de cinema, no centro da cena cinematográfica. b) narra a história de Macabéa, uma alagoana simples que se muda para o Rio de Janeiro, onde passa a morar numa pensão. c) distante de seu meio, alheia ao mundo da cultura e sem compreender claramente os valores que regem uma cidade grande e competitiva como o Rio de Janeiro, Macabéa não consegue definir sua própria identidade.

d) opondo-se a um curso sentimental, retórico, ornamental da poética nacional, a autora construiu uma poesia antilírica, anticonfessional, presa ao real e dirigida ao intelecto.


e) Olímpio, namorado de Macabéa e também nordestino, ao contrário dela, deseja ascender na vida a qualquer preço.

37. (PUC-RS) ___________, a personagem de Clarice Lispector em A hora da estrela, é uma nordestina, pobre, feia, sem vida interior, incapaz de manter a relação com o namorado. Sua “hora da estrela” só acontece quando sai feliz e distraída da cartomante e ____________. No romance, os problemas existenciais estão relacionados às ____________ da moça.

As lacunas podem ser correta e respectivamente preenchidas por:

a) Gabriela – é assassinada e desaparece – crenças religiosas.
b) Macabéa – é atropelada e morre – condições sócioculturais. c) Aurora – encontra Fernando e casa – debilidades físicas. d) Capitu – é atropelada mas salva-se – dificuldades financeiras.

e) Diadorim – volta ao sertão e vive só – necessidades econômicas.

38. (UFRGS ) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas dos trechos abaixo, adaptados de A hora da estrela, de Clarice Lispector.

Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história – determino com falso livre-arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, __________. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de chuva caindo. […] __________ trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava de “operário” e sim de “metalúrgico”. ___________ ficava contente com a posição social dele porque também tinha orgulho de ser datilógrafa, embora ganhasse menos de um salário mínimo. Mas eles eram alguém no mundo. “Metalúrgico e datilógrafa” formavam um casal de classe.

a) Rodrigo S. M. – Olímpico de Jesus – Macabéa   

b) Raimundo Silveira – Rodrigo S. M. – Macabéa

c) Clarice Lispector – Olímpico de Jesus – Macabéa

d) Rodrigo S. M. – Olímpico de Jesus – Carlota

e) Raimundo Silveira – Rodrigo S. M. – Glória

39. (UFRS) A moça tinha ombros curvos como os de uma cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se realizaria muito mais se desse ao delicado labor de restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não era. Não sabia que era infeliz. (…) Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão – os maus antecedentes de que falei. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas. (…) Macabéa era na verdade uma figura medieval enquanto Olímpico de Jesus se julgava peça-chave, dessas que abrem qualquer porta. Macabéa simplesmente não era técnica, ela era só ela. (…) Mas Macabéa de um modo geral não se preocupava com o próprio futuro: ter futuro era luxo. Sobre A HORA DA ESTRELA, de Clarice Lispector, é correto afirmar que

a) a narrativa mistura vários planos de realidade, que permitem uma visão multifacetada da personagem central.

b) Macabéa é uma nordestina retirante, e o desfecho de sua história é semelhante ao de Fabiano e de Sinhá Vitória, personagens de Graciliano Ramos. c) a heroína do livro, como a maioria dos brasileiros em situação de privação, se revolta contra as injustiças. d) a escritora usa uma linguagem técnica com predomínio de termos exatos, para advertir sobre problemas sanitários brasileiros.

e) a narrativa põe em destaque a disposição de Macabéa em lutar pela igualdade e pela ascensão social.

40. (FEI-SP) Trata-se do último livro publicado par Clarice Lispector, em vida, em 1977. A personagem protagonista é Macabea que acumula em seu corpo franzino todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheada de si e da sociedade.”

As afirmações acima referem-se à obra:

a) “A Hora da Estrela”

b) “Perto do Coração Selvagem”

c) “A maçã no escuro”.

d) “A Paixão Segundo G. H.”

e) “Laços de Família”.

41. (UFBA) Texto I

Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados. Ah que medo de começar e ainda nem sequer sei o nome da moça. Sem falar que a história me desespera por ser simples demais. O que me proponho contar parece fácil e à mão de todos. Mas a sua elaboração é muito difícil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama. De uma coisa tenho certeza: essa narrativa mexerá com uma coisa delicada: a criação de uma pessoa inteira que na certa está tão viva quanto eu. Cuidai dela porque meu poder é só mostrá-la para que vós a reconheçais na rua, andando de leve por causa da esvoaçada magreza. E se for triste a minha narrativa? Depois na certa escreverei algo alegre, embora alegre por quê? Porque também sou um homem de hosanas e um dia, quem sabe, cantarei loas que não as dificuldades da nordestina. Por enquanto quero andar nu ou em farrapos, quero experimentar pelo menos uma vez a falta de gosto que dizem ter a hóstia. Comer a hóstia será sentir o insosso do mundo e banhar-se no não. Isso será coragem minha, a de abandonar sentimentos antigos já confortáveis. Agora não é confortável: para falar da moça tenho que não fazer a barba durante dias e adquirir olheiras escuras por dormir pouco, só cochilar de pura exaustão, sou um trabalhador manual. Além de vestir-me com roupa velha rasgada. Tudo isso para me pôr o nível da nordestina. (…) LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 25-6.

Texto II

(…) Não, não vou escrever minhas memórias, nem meu retrato, nem minha biografia. Sou uma personagem de ficção. Só existo na minha imaginação e na imaginação de quem me lê. E, naturalmente, para a mulher que me escreve. Em casa ou na rua, não me sabem. Por acaso, alguém sabe alguém, carne e grito sob a capa do rosto, ordenado e composto em carapaça? (…)

Quem é a mulher que me escreve? Eu sei, porque eu a inventei. No entanto, ela não me sabe. Ela pensa que me tem nas mãos para me escrever como quiser. Que ela saiba, desde o início. Ela me escreverá na medida da minha própria determinação. Eu, personagem irremediavelmente encravada na vida dela. (…)

Meu marido acha que devo viver exclusivamente, totalmente, exaustivamente para ele. Isto me faz muito feliz. Na opinião de meus filhos, toda mãe tem obrigação de se dedicar de modo absoluto a quem pôs no mundo. Esta é a razão da minha vida. Você não pode continuar a alimentar esta atitude absurda. É preciso ter consciência dos próprios direitos, sobretudo nos dias de hoje, final da década de 70, numa cidade como Salvador. A mulher deve reagir, não se permitir levar pelos caprichos e exorbitâncias da família. Você não pode continuar a viver assim. Eu só vivo assim. Minha escolha, meu caminho. A mulher que me escreve me entrevê embaçada, sem contorno. Porque ela pertence à minha imaginação, eu a vejo nas suas linhas, seus recantos. Ela só viverá, se eu a imaginar. Eu só viverei, se ela me escrever. Nós nos encontramos ligadas por um fio tenso e tênue. Não podemos nos separar.(…) CUNHA, Helena Parente. Mulher no espelho. São Paulo: Art, 1985. p. 7, 8 e 16.

Tomando-se como referência os textos I e II e as obras das quais foram extraídos, quanto ao ponto de vista da narração, pode-se inferir:

(01) No texto I, quem fala na primeira pessoa é a personagem Macabéa, expressando a dificuldade de contar sua história, já que escrever era uma tarefa difícil para uma nordestina pouco culta.

(02) O narrador do texto I identifica-se como o escritor da história, angustiado frente ao desafio de sentir e viver a personagem, a fim de elucidar, com profundidade, os fatos que pretende narrar.

(04) O texto II é narrado, na primeira pessoa, por uma personagem feminina, que se rebela e tenta se impor contra a outra personagem, por ela criada para escrever sua história.

(08) No texto II, fica evidente o conflito entre a visão que a personagem tem de si própria e aquela que é transmitida pela personagem que escreve sua história, cuja visão dos fatos é oposta à sua.

(16) Em ambos os textos, o narrador é onisciente, tendo pleno domínio sobre suas personagens, cujo destino determina com precisão antes de concluir a história.

(32) O contraste mais nítido entre os dois textos é que, em I, o escritor-narrador sente dificuldade de se aprofundar na vida da personagem e, em II, a personagem tenta dominar a outra que escreve sobre ela.

(64) Em ambas as obras, as autoras, Clarice Lispector e Helena Parente Cunha, criam vozes masculinas, que as representam como narradores de histórias de personagens femininas.

SOMA: 66

42. (UCAM) A respeito do narrador, é possível afirmar que:

a) Dedica-se, exclusivamente, ao registro das atividades de Macabéa e seu contexto.

b) É indiferente ao que está sendo contado, não emite opiniões.

c) Preocupa-se apenas com os seus próprios conflitos interiores.

d) Ao falar de Macabéa, revela-se.

e) Nenhuma das alternativas acima possui amparo na obra.

 43. (PUC-SP) Considere os seguintes trechos de “A Hora da Estrela”: Embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser uma figura bíblica. Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração. Minto: ela era capim. Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que a tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de guerra. Neles predominam, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem: a) inversão e hipérbole. b) pleonasmo e oxímoro.

c) metáfora e antítese.

d) metonímia e metáfora.

e) eufemismo e antítese.

44. (UFRS) Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações abaixo, referentes ao romance “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector. ( ) Embora o título principal do romance seja “A Hora da Estrela”, a autora propõe uma série de títulos alternativos. ( ) Clarice evidencia preocupações incomuns em sua obra, como a reflexão sobre a linguagem e a busca do sentido secreto que se esconde por trás do aparentemente visível. ( ) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o narrador faz comentários sobre as dificuldades inerentes ao ato de escrever e sobre os seus receios quanto ao destino da personagem que está criando. ( ) A narração do romance é feita por três vozes distintas: a de Rodrigo A. M., a de Macabéa e a de Olímpico. ( ) Uma das distrações de Macabéa, durante a madrugada, é ligar o radinho emprestado por uma colega de quarto e sintonizar a Rádio Relógio, que assinala com um tic-tac cada minuto. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – F – V.

b) V – V – F – F – V. c) F – V – F – V – F. d) V – F – F – F – V.

e) F – F – V – V – F.

45.( UNIFOR-CE)

“Em sua obra, um tema praticamente permanente é a crise da subjetividade. Esta crise se manifesta com tamanha gravidade que o próprio ato de narrar ameaça ser impossível. Não admira, pois, que em alguns de seus romances a velha noção de enredo já não é absoluta: às vezes importa mais a metáfora estranha, a entrega aos livres pensamentos, a crise existencial que não está apenas nas personagens, mas no próprio narrador.”

O trecho acima está levantando algumas características que se encontram presentes em:

a) Grande Sertão: Veredas.

b) A Hora da Estrela.

c) Fogo Morto.

d) A Estrela Sobe.

e) O Tempo e o Vento

46. Assinale a alternativa INCORRETA sobre a obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector:

a) Há o trabalho com o fluxo de consciência, com a linguagem; transita pelo plano metafísico (indagações existenciais), pelo inconsciente, pela autoanálise com projeções da filosofia existencialista.

b) O narrador, usando as personagens Macabéa e Olímpico, tece críticas a respeito do ato de falar, expressar-se, escrever, ler, interpretar.

c) Macabéa possui um vocabulário extenso, cultura por flashes, baseada na memorização crítica. Olímpico tem consciência crítica para interrogar o código linguístico e aproximar-se das palavras sem conhecer o seu conceito.

d) O narrador, ao desenvolver a narrativa, mostrando-nos Macabéa, busca a própria identidade.

e) A “Hora da Estrela” representa o momento epifânico de Macabéa: a hora da morte. É irônica porque só no momento da morte é que Macabéa alcança a grandeza do ser. Já a autora atinge a epifania ao concluir a obra.

47. (UFRN) A questão a seguir refere-se às obras “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa (1946), e “A hora da estrela”, de Clarice Lispector (1977). As duas obras representam a narrativa brasileira posterior ao Modernismo, no sentido de que já não se relacionam diretamente ao chamado “romance social” ou “romance do Nordeste”. Sobre essas obras, é correto afirmar que a) o vocabulário sertanejo figura como modo de resistência das personagens aos valores urbanos.

b) articulam, em universos distintos, elementos que tradicionalmente eram material do regionalismo.

c) o pitoresco regional surge principalmente como forma de resistência à vida moderna.

d) produzem um novo regionalismo, mas as personagens ainda se caracterizam como tipos rurais.

48. (UFRN)  A questão a seguir refere-se às obras “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa (1946), e “A hora da estrela”, de Clarice Lispector (1977). Pode-se afirmar que o final das duas narrativas revela o que é sugerido em seus títulos. Nesse sentido, a morte das personagens aparece como a) o acontecimento que resolve, pela ação de um indivíduo, o problema de uma coletividade em apuros. b) o instante único no qual Augusto Matraga e Macabéa, cada um a seu modo, reconhecem-se como fracassados.

c) o instante único no qual Augusto Matraga e Macabéa, cada um a seu modo, vislumbram a felicidade.


d) o acontecimento que resolve o destino individual, sem maiores implicações na coletividade.

49. (ENEM)Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.    […]

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.

b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.

c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.

d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.

e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.

50. (UCAM) Observe as seguintes assertivas sobre o romance:

I-Glória foi quem recomendou a consulta com uma cartomante a Macabéa;

II- Macabéa compartilhou um quarto com quatro moças balconistas das Lojas Americanas, todas chamadas Maria, a única colega de quarto que tinha nome diferente era a Glória.

III- Olímpico gostava de ouvir discursos, achava-se inteligente e tinha a pretensão de ser deputado.

É correto afirmar:

a) as três assertivas são verdadeiras;

b) as três assertivas são falsas;

c) apenas a assertiva I é verdadeira;

d) apenas a assertiva II é falsa;

e) apenas a assertiva III é falsa.

51. (UFSC) TEXTO

Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão – os maus antecedentes de que falei. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas. Muito depois fora para Maceió com a tia beata, única parenta sua no mundo. Uma outra vez se lembrava de coisa esquecida. Por exemplo a tia lhe dando cascudos no alto da cabeça porque o cocoruto de uma cabeça devia ser, imaginava a tia, um ponto vital. Dava-lhe sempre com os nós dos dedos na cabeça de ossos fracos por falta de cálcio. Batia mas não era somente porque ao bater gozava de grande prazer sensual – a tia que não se casara por nojo – é que também considerava de dever seu evitar que a menina viesse um dia a ser uma dessas moças que em Maceió ficavam nas ruas de cigarro aceso esperando homem. Embora a menina não tivesse dado mostras de no futuro vir a ser vagabunda de rua. Pois até mesmo o fato de vir a ser uma mulher não parecia pertencer à sua vocação. A mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol. As pancadas ela esquecia pois esperando-se um pouco a dor termina por passar. Mas o que doía mais era ser privada da sobremesa de todos os dias: goiabada com queijo, a única paixão de sua vida. Pois não era que esse castigo se tornara o predileto da tia sabida? A menina não perguntava por que era sempre castigada mas nem tudo se precisa saber e não saber fazia parte importante de sua vida.

Com base no texto, na leitura do romance A hora da estrela, lançado em 1977, e no contexto de sua publicação, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

Macabéa, personagem central de A hora da estrela, mantém ao longo da vida uma crença cega na igreja, traço incutido pela tia beata que a obrigara a decorar e a repetir os padre-nossos e as ave-marias desde menina.

No romance A hora da estrela, a autora tentou ocultar-se por trás do pseudônimo de Rodrigo S. M., um narrador onisciente intruso que busca o tempo todo problematizar o processo de criação.

O vocábulo “mulherice” (linha 12) é um neologismo derivado do substantivo mulher. Diferentemente da condição física atribuída automaticamente às pessoas do sexo feminino, o narrador dá a entender que a “mulherice” seria constituída pela personagem ao longo do tempo, física e psicologicamente.

A datilógrafa Macabéa adorava goiabada com queijo, divertia-se recortando anúncios de jornais velhos, bebia o mesmo refrigerante que todos bebem, passeava aos finais de semana no cais e dividia seu quarto com outras cinco meninas, todas de nome Maria. Essa associação de Macabéa a banalidades, gostos, comportamentos e pessoas comuns ajuda a compor a imagem de uma mulher sem traços próprios, cópia sem viço de tantas outras sertanejas indigentes.

O romance de Clarice Lispector distancia-se, pelo tempo e pela temática, da geração de 1930; ainda carrega parte da crítica social característica daquele momento, mas a imagem da menina cuja herança do sertão é o raquitismo de retirante fica em segundo plano, ganhando maior relevo a problemática da modernização das cidades de Maceió e do Rio de Janeiro, locais onde Macabéa tenta ganhar a vida.

O título da obra revela forte ironia, tendo em vista que é algo que nunca se concretiza: a hora da estrela, quando finalmente Macabéa brilharia tal qual suas artistas de cinema preferidas, não ocorre, devido ao acidente fatal sofrido pela protagonista.

SOMA: 06 (02+04)

 52. (UFAM) Assinale a afirmativa INCORRETA no que diz respeito à caracterização do autor e sua obra:

a) Érico Veríssimo construiu um amplo painel histórico do Rio Grande do Sul através da grande empreitada narrativa que é O tempo e o vento, obra que tem pretensões à epopeia.

b) O regionalismo de Guimarães Rosa é ilusório, pois o espaço físico onde acontecem os fatos é imaginário, pouco tendo a ver com o verdadeiro sertão das Minas Gerais.

c) A obra de Clarice Lispector se caracteriza por ter como protagonistas mulheres de classe média alta, sendo Macabéa, personagem de A Hora da estrela, uma exceção, já que se trata de uma pobre nordestina.

d) A ideologia de Jorge Amado influiu decisivamente em seu estilo, que é seco, frio, impessoal, com leves tons de sutil ironia e jogos de duplo sentido que muito lembram Machado de Assis.

e) Nelson Rodrigues renovou o teatro e, ao mesmo tempo, provocou os brasileiros, escrevendo textos teatrais com uma linguagem crua e motivos extremamente escabrosos.

 53. (UFRGS) Assinale a alternativa correta sobre a obra.

a) Um dos aspectos mais marcantes de A hora da estrela é o caráter metaficcional da narrativa.

b) Rodrigo S.M. sente-se a vontade para narrar a história de Macabéa.

c) Macabéa tem laços fortes de amizade e companheirismo com todos que a cercam.

d) Macabéa é a típica moradora da zona sul do Rio de Janeiro, com seu jeito indolente e descontraído.

e) Macabéa transforma-se em uma cantora promissora, que se apresenta na Rádio Minuto.

54. (F. PEQUENO PRÍNCIPE) . Leia o excerto de A Hora da Estrela, observando a posição do narrador. Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. LISPECTOR, C. A Hora da Estrela. 23.ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 39.

Esse trecho da obra A Hora da Estrela é um exemplo de como o narrador se comporta ao longo de toda a obra, pois revela sua onisciência

a) conhecendo o universo sentimental e psíquico da personagem e mostrando satisfação com isso.

b) limitando-se a descrever pouco as emoções, visto que Macabea não queria “gastar” rápido a vida.

c) compondo frases como se fosse um roteiro, que traz “explosão” como rubrica.

d) problematizando a essência da literatura de ficção, participando das ações de maneira oblíqua.

e) dissimulando-se entre personagens secundários, como o locutor da Rádio Relógio.

55. (UCAM) Observe as duas assertivas abaixo sobre o médico:

PRIMEIRA: Macabéa foi a um médico, especialista em obstetrícia, indicado por Glória e este profissional diagnosticou que Macabéa tinha ovários murchos.

SEGUNDA:O médico, embora atualizado na profissão, segundo o narrador, não tinha amor à profissão, tampouco aos doentes, pois exercia a medicina para ganhar dinheiro, atendendo aos pobres.

É correto afirmar:

a) as duas assertivas são verdadeiras;

b) as duas assertivas são falsas;

c) as duas assertivas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira;

d) apenas a primeira assertiva é verdadeira;

e) apenas a segunda assertiva é verdadeira

56. (UNB) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e

4 havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade

7 através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as

10 coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história

já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um

13 fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo.

Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 17.

Considerando o trecho acima, extraído da obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, julgue os itens a seguir.

1 Clarice Lispector inclui-se entre os autores do romance introspectivo, da literatura intimista, que se caracteriza, na literatura brasileira moderna, por um questionamento do ser.

2 Por focalizar problemas da sociedade rural, esse romance de Clarice Lispector aproxima-se da obra de José Lins do Rego.

3 Esse trecho exemplifica a utilização de sequências dissertativas, em que são apresentados conceitos abstratos, na construção de uma narrativa.

4 No trecho apresentado, o narrador é onisciente, como se pode verificar, por exemplo, em “Sempre houve” (R.4), e a narrativa se constrói em terceira pessoa, como evidencia o segmento “Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou” (R.4-5).

5 Na linha 2, a opção pela omissão do acento indicativo de crase nas duas ocorrências de “a” indica que a autora imprimiu um sentido genérico à expressão “outra molécula”

e à palavra “vida”, visto que não empregou o artigo definido feminino antes de ambas.

6 Na linha 4, os vocábulos “nunca” e “sim” estão empregados

como substantivos, conforme evidencia a estrutura

linguística em que ocorrem.

7 Os três períodos finais do trecho apresentado sugerem que a autora — por meio de “muito trabalho” (R.7) — consegue, finalmente, desvincular “ato” de “fato” ao estabelecer a correspondência do ato de escrever com o ato de pensar.

8 Na linha 3, foi utilizada a expressão “pré-história”, que, em si mesma, geralmente, é empregada para identificar o estágio da evolução das sociedades anterior ao domínio da escrita.

RESPOSTAS: C, E, C, E, E, C, E C

57. (ITA) Assinale a opção que apresenta a função da linguagem predominante nos fragmentos a seguir:

( I ) Maria Rosa quase que aceitava, de uma vez, para resolver a situação, tal o embaraço em que se achavam. Estiveram um momento calados. – Gosta de versos? – Gosto… – Ah… Pousou os olhos numa oleografia. – É brinde de farmácia? – É. – Bonita… – Acha?

– Acho… Boa reprodução… (Orígenes Lessa. O FEIJÃO E O SONHO)

( II ) Sentavam-se no que é de graça: banco de praça pública. E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada. Para a grande glória de Deus. Ele: – Pois é. Ela: – Pois é o quê? Ele: – Eu só disse “pois é”! Ela: – Mas “pois é” o quê? Ele: – Melhor mudar de conversa porque você não me entende. Ela: – Entender o quê? Ele: – Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já.(Clarice Lispector. A HORA DA ESTRELA) a) Poética.

b) Fática.

c) Referencial. d) Emotiva.

e) Conativa.

58. (UFRGS) Abaixo, no bloco superior, estão listadas personagens do romance; no inferior, a caracterização de cada uma e sua relação com Macabéa. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 – Rodrigo S.M.

2 – Olímpico de Jesus

3 – Glória

4 – Maria Aparecida

5 – Carlota ( ) Narrador que, ao contar a história de Macabéa, fala de si mesmo, transformando-se também em personagem do romance.

( ) Cartomante que encarna a figura da mãe, ausente na vida de Macabéa.

( ) Nordestino, ladrão, assassino e pobre, com ambição de ser deputado.

( ) Colega de trabalho de Macabéa, representante do “ambicionado clã do sul do país”, pois é “carioca da gema”. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 5 – 2 – 4.

b) 2 – 4 – 1 – 3.

c) 1 – 5 – 2 – 4.

d) 2 – 3 – 1 – 5.

e) 1 – 5 – 2 – 3.

 59.(UFPE) Antes de escrever A hora da estrela, Clarice Lispector trabalhou na imprensa carioca, mantendo “Colunas Femininas” em jornais de grande circulação. Observe a imagem, leia os textos e responda às questões.

TEXTO 1

Com base no estudo de texto feito, conclua de modo geral, como se caracteriza o romance de 30

TEXTO 2

Sou datilógrafa, virgem e gosto de Coca-Cola. (Clarice Lispector, A hora da estrela).

TEXTO 3

Também esqueci de dizer que o registro que em breve vai ter que começar (…) é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países. Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo – porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente. (Clarice Lispector, A hora da estrela).

TEXTO 4

O gosto de uma rainha, ou mesmo de uma “estrela”, não é mais atualmente suficiente para o estabelecimento de um estilo, ou venda de um produto. As companhias de publicidade sabem que é preciso sondar os corações femininos. São pesquisas deste gênero que permitem constatar o estado permanente de inquietação da consciência feminina e medir até que ponto, no capítulo das compras, a mulher – essa grande compradora – se deixa influenciar na aquisição de um artigo. (Clarice Lispector, Correio Feminino).

0-0) O texto jornalístico de Clarice citado indica a sua preocupação em esclarecer as leitoras de sua época sobre o papel da mulher moderna no mundo consumista.

1-1) Coerente com o glamour das propagandas, o refrigerante em questão é retratado na obra de Clarice como uma bebida saudável e deliciosa, muito apreciada por Macabéa.

2-2) No Texto 3, Clarice sugere, ironicamente, que a sua narrativa foi “financiada” pela Coca-Cola, para parecer uma obra em sintonia com o seu tempo.

3-3) Para Clarice, a identidade da mulher moderna está cada vez mais associada ao seu poder de compra e ao seu acesso aos bens de consumo industrializados.

4-4) O título do romance “A hora da estrela” refere-se à virada na história da pobre Macabéa, que se torna, ao final, uma famosa estrela de cinema.

RESPOSTA: VFVVF

60. (UCAM) Observe as duas assertivas abaixo:

PRIMEIRA: Rodrigo S.M. é o narrador do romance, cuja escritora é Clarice Lispector, mas ele não é um personagem do livro, A hora da Estrela..

SEGUNDA:O estilo Clariceano não permite o registro de ditos populares em seu romance A hora da Estrela.

 É correto afirmar:

a) as duas assertivas são verdadeiras;

b) as duas assertivas são falsas;

c) as duas assertivas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira;

d) apenas a primeira assertiva é verdadeira;

(UEMA) Texto para as questões 61 e 62.

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

61. Do fragmento recortado da obra, pode-se depreender um narrador que se apresenta como um sujeito

a) entediado com sua própria vida e desejoso de viver novas experiências.

b) angustiado e limitado diante da vida e do ato de escrever.

c) deslocado na vida e no mundo, que tem no ato de escrever o seu alento existencial.

d) cansado de viver e, por isso, desejoso de por fim a sua existência.

e) desesperado diante da sua própria impossibilidade de ser escritor.

62. Na passagem “eu me morreria simbolicamente todos os dias”, o pronome me exemplifica

a) um uso linguístico inadequado ao contexto do gênero discursivo de que faz parte o fragmento.

b) o emprego pontual da próclise completando a regência verbal do verbo, de acordo com a norma padrão da língua.

c) um monólogo sem perder de vista a denotação da linguagem para evitar desvios ou a subjetividade do leitor.

d) o emprego convencional da linguagem literária que exige construções sintáticas rigorosas na produção textual.

e) a importância da subjetividade no emprego da palavra na linguagem literária para (re)criar interpretações expressivas.

63. (UEMA) A metalinguagem ganha relevo no processo narrativo de A hora da estrela. O narrador Rodrigo S. M., dada a insistente angústia de que o ato de escrever sobre a obtusa Macabéa lhe provoca, coloca-se também como uma personagem que experiência a autocrítica ao mesmo tempo em que se sente fatalmente ligado à personagem que criara. Isso se evidencia na seguinte passagem:

a) “Desculpai-me mas, vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino”.

b) “Pareço conhecer nos menores detalhes essa nordestina, pois se vivo com ela. E com muito adivinhei a seu respeito, ela se me grudou na pele qual melado pegajoso ou lama negra”.

c) “Com esta história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte. Eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida”.

d) “(Esta história são apenas fatos não trabalhados de matéria-prima e que me atingem direto antes de eu pensar. Sei muita coisa que não posso dizer. Aliás pensar o quê?)”.

e) “(Escrevo sobre o mínimo parco enfeitando-o com púrpura, joias e esplendor. É assim que se escreve? Não, não é acumulando e sim desnudando. Mas tenho medo da nudez, pois ela é a palavra final.)”

64. (UFRGS) No bloco superior abaixo, estão listados os nomes de personagens de A hora da estrela, de Clarice Lispector, e de Gota d’água, de Chico Buarque e Paulo Pontes; no inferior, trechos relacionados a essas personagens. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 -Macabéa

2 -Joana

( ) Ninguém vai sambar na minha caveira . Vocês tão de prova: eu não sou mulher pra macho chegar e usar como quer, depois dizer tchau.

( ) Pra não ser trapo nem lixo, nem sombra, objeto, nada, eu prefiro ser um bicho, ser esta besta danada. Me arrasto, berro, me xingo, me mordo, babo, me bato, me mato, mato e me vingo, me vingo, me mato e mato.

 ( ) Então defendia-se da morte por intermédio de um viver de menos, gastando pouco de sua vida para esta não se acabar.

( ) Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 2 – 2 – 1 – 1.

b) 2 – 1 – 1 – 2.

c) 2 – 1 – 2 – 1.

d) 1 – 2 – 2 – 1.

e) 1 – 1 – 2 – 2.

65. (UFPE) Guimarães Rosa e Clarice Lispector apresentam em seus romances e contos certo interesse pela linguagem. O conto A menina de lá e o romance A Hora da Estrela não constituem exceção. Nesse sentido, analise as afirmações seguintes.

0-0) Em A Hora da Estrela, a autora demonstra intensa preocupação com a linguagem, quando atribui ao livro treze diferentes títulos, embora se tenha decidido pelo que hoje o identifica. Também reconhece que deve “falar simples para captar” a vaga existência da protagonista.

1-1) Rodrigo S.M, autor ficcional do romance A Hora da Estrela, ao criar a personagem feminina Macabéa, explicita a importância da palavra e confessa: “Assim é que essa história será feita de palavras que se agrupam em frases e destas se evola um sentido secreto que ultrapassa palavras e frases.”

2-2) Coexistem em A Hora da Estrela dois discursos, o ficcional e o metaficcional. No entanto, Rodrigo S. M., narrador, autor textual e personagem, limita-se a criar Macabéa, sem discutir o próprio processo de criação da personagem.

3-3) Em A menina de lá, conto de Primeiras histórias, Guimarães Rosa também revela sua obsessão pela linguagem, quando cria uma personagem que faz uso da palavra de modo estranho, pois, quando as seleciona, cria uma nova realidade. Assim, as palavras de Ninhinha assumem novos sentidos, mágicos e inusitados.

4-4) Guimarães Rosa, em A menina de lá, inventa uma história e ao mesmo tempo discute o uso da linguagem da protagonista, a qual, tanto quanto ele próprio, cria neologismos como: “Ele xurugou?” e frases poéticas tais como “O passarinho desapareceu de cantar”, ou ainda “A gente não vê quando o vento se acaba…”.

RESPOSTA: VVFVV

(UERJ) As questões 66 a 65 referem-se ao romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector.

Com base no estudo de texto feito, conclua de modo geral, como se caracteriza o romance de 30

66. No manuscrito acima, retirado dos originais da autora, leem-se as duas primeiras frases do romance. Na última frase do romance, lê-se apenas uma palavra: Sim.

Considerando o caráter simbólico da personagem Macabéa, as ocorrências da palavra “sim” nessas frases estabelecem o seguinte efeito:

a) cíclico

b) paradoxal

c) denotativo

d) hiperbólico

67.Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. O romance enfatiza que a personagem Macabéa vive a realidade de milhares de moças, como exemplifica o trecho citado.

Essa ênfase critica o processo sofrido por todas elas de:

a) alienação social

b) rivalidade geracional

c) humilhação intelectual

d) empobrecimento moral

68. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas. Considerando que o romance é de Clarice Lispector, pode-se inferir que a frase do narrador é

irônica. Essa ironia está baseada na:

a) relativização da opressão

b) inclinação ao universal

c) sofisticação da escrita

d) crítica ao machismo

69. Metonímia é a figura de linguagem em que a parte representa o todo, ou vice-versa.

No romance, a protagonista Macabéa constitui uma metonímia de todos os:

a) excluídos

b) românticos

c) indiferentes

d) privilegiados

70. Vejo a nordestina se olhando ao espelho e – um rufar de tambor – no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo.

Com essa frase, o narrador manifesta pela protagonista o sentimento de:

a) pena

b) empatia

c) rejeição

d) admiração

71. Eu gosto tanto de ouvir os pingos de minutos do tempo assim: tic-tac-tic-tac-tic-tac. Ao longo do texto, o narrador descreve Macabéa como ignorante, o que contrasta com a frase da personagem. O contraste se dá porque frases como a citada acima mostram um uso de linguagem que pode

ser definido como:

a) poético

b) parodístico

c) eufemístico

d) argumentativo

72. Estrela é uma palavra que faz parte do título do romance, além de ser o símbolo do carro da marca Mercedes, decisivo para o final da história.

Considerando esse final, o título do livro expressa o sentido de:

a) elogio

b) ironia

c) negação

d) louvação

73. Quando o narrador do romance afirma que a história é verdadeira embora inventada, ele faz alusão a um conceito importante em literatura.

Esse conceito é denominado:

a) intertextualidade

b) verossimilhança

c) dramaticidade

d) onisciência

74. (UFMS) Em A hora da estrela, de Clarice Lispector, acompanhamos a história de Macabeá, jovem nordestina que vive, no Rio de Janeiro, uma existência solitária e anônima, marcada por privações de todo o tipo. Nessa obra, a escrita clariceana alterna momentos em que se expressa de um modo direto, próprio para remeter à dureza da vida de sua personagem central, como outros em que emprega diversos recursos afeitos à linguagem poética, como no relato do encontro de Macabéa com Olímpico de Jesus.

“Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Sua exclamação talvez tivesse sido um prenúncio do que ia acontecer no final da tarde desse mesmo dia: no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado de sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso. O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiaba-com-queijo.” (LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 23 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 59).

A respeito do trecho acima, é correto afirmar que:

a) ao se referir à exclamação de Macabéa como um possível “prenúncio do que ia acontecer”, o narrador realça o traço de fatalidade que paira sobre as ações e a vida da personagem no desenrolar da história.

b) a suavidade que se depreende da frase inicial acaba por conferir a todo o parágrafo um sentido romântico, criando o ambiente necessário para o primeiro encontro entre Macabéa e Olímpico.

c) a comparação que associa o bater do coração a um pássaro, ao mesmo tempo, livre e preso aponta diretamente para a simplicidade do sentimento amoroso, o que marca as ações de Macabéa ao longo da narrativa.

d) a imagem “bichos da mesma espécie que se farejam”, remetendo à condição nordestina de Macabéa e Olímpico, revela um preconceito do narrador em torno da origem desses personagens.

e) ao atribuir a Macabéa um olhar sobre Olímpico como “sua goiaba-com-queijo”, o narrador indica uma de suas características marcantes ao longo da história, a de mulher apegada às coisas fúteis da vida.