Torna te eternamente responsável por aquilo que cativas

Será que somos - e t e r n a m e n t e - responsáveis por aquilo que cativamos? Que raio de karma é esse que vai nos perseguir ao longo dos milênios?


Torna te eternamente responsável por aquilo que cativas

Para muitos venho trazer más notícias.Isso porque, em se tratando de relações humanas, você não é responsável por aquilo que cativas e pior, não foi isso que Saint-Exupéry afirmou em sua obra.

Mas calma, vamos por partes, assim a decepção virá em conta gotas.

No mundo atual, que aceitamos sem muita resistência tudo que ouvimos e lemos como verdade absoluta, me incomodou demais alguém justificar a falta de entrega emotiva nos relacionamentos, sob a égide da frase "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Será que somos - e t e r n a m e n t e - responsáveis por aquilo que cativamos? Que raio de karma é esse que vai nos perseguir ao longo dos milênios?

Curiosa que sou, minha primeira providência foi entender o que é "cativar".

A frase, desde sua tradução para a língua portuguesa, tem sido utilizada de forma romântica, amorosa, como se fossemos eternamente responsáveis por quem nós conquistamos. A psicologia há muito tem rebatido esse amor possessivo e "irresponsável", que terceiriza ao outro a responsabilidade por nossos afetos: você me conquistou, agora você será eternamente responsável por mim! Ora, se pra você isso não soa como uma birra de uma criança mimada, para mim, chega a fazer eco. Posso até ver a criança esperneando, fazendo bico e se jogando no chão.

Mas então, por que essa frase tem sido tão utilizada?

Porque, como diria Nietzsche, criou-se uma convicção e assim, uma verdade absoluta. Verdade esta, como pondera o filósofo que chega a ser pueril (infantil), afinal, poucos se sacrificam para conhecer a verdade, a maioria, acrescento, aceita as coisas como estão, e são. Quem disse que a palavra cativar, tem algum elemento romântico? Cativar,vem do latim CAPTIVARE, que significa “escravizar, dominar”.

Mas então, Saint-Exupéry estava errado?

Não, a frase original em francês é a seguinte: "Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé." cuja tradução mais correta seria: *Você se torna eternamente responsável pelo que doma *(ou domestica).

Decepcionado?

Não, não fique, existe uma explicação lógica:

Se você leu o livro, sabe que é uma raposa muito esperta que tenta convencer o príncipe a "domá-la", isso porque, os caçadores estão à espreita.

Mas, alguém já viu uma raposa domada, ou domesticada? O fim de toda raposa diante de um caçador é a morte mas se o Pequeno Príncipe, que sequer sabia que animal era ela fosse capaz de domesticá-la, ela estaria a salvo - com a condição - é claro, de ser eternamente responsável por ela. Assim como somos por nossos animais de estimação.

Então, tratando de seres humanos, ninguém é responsável por cativar ninguém e, se assim for, será um ato de puro egoísmo, de quem cativou e de quem foi cativado e delega ao outro a responsabilidade por sua vida.

Quer continuar a usar a frase? Use, mas para mostrar sua responsabilidade pelos seus animais de estimação e ponto.


A frase original, escrita em francês, “Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé” é retirada do clássico da literatura mundial Le petit prince (em português O Pequeno Príncipe) – A primeira tradução para o português (feita pelo imortal Dom Marcos Barbosa) gerou como resultado a famosa frase cristalizada no inconsciente coletivo: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” – Tanto para o bem, quanto para o mal.

Significado e contexto da frase

A frase em questão é dita pela raposa para o Pequeno Príncipe no capítulo XXI e é uma das passagens mais citadas da obra.

O ensinamento começa algumas páginas antes, quando o rapazinho pergunta para a raposa o que quer dizer “cativar”.

A raposa responde que cativar significa criar laços, passar a ter necessidade do outro, e exemplifica:

Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…

O Pequeno Príncipe menciona então uma rosa que o havia cativado. Com o tempo, é o rapazinho cativa a raposa.

Na hora de ir embora, a raposa dá alguns ensinamentos para o jovem por quem já havia se afeiçoado, entre eles diz que “O essencial é invisível aos olhos“.

Como sabia que o Pequeno Príncipe nutria profundo afeto pela rosa, a raposa faz questão de lembrá-lo que “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.”

E logo a seguir cita a pérola

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…

O autor quer dizer que aquele que é amado passa a ser responsável pelo outro, por aquele que nutre o afeto por si. O ensinamento sugere que devemos ser prudentes com os sentimentos daqueles que nos amam.

A reflexão serve tanto para o bem quanto para o mal: se você gera sentimentos bons no outro, é encarregado por aquilo que emana, se gera sentimentos maus, também deve ser culpabilizado por isso.

A sentença afirma que quando você faz alguém gostar de si, terá de corresponder aquilo que o outro viu na sua pessoa. Uma das máximas fundamentais do Pequeno Príncipe é que devemos cuidar uns dos outros, zelando pelo bem estar recíproco.

É de se sublinhar na frase o termo “eternamente”, que parece assustador a primeira vista. A verdade é que, na frase, o advérbio significa “constante”, o que quer dizer que, se você conquista o sentimento do outro, é responsável por cuidar, proteger e dedicar-se, sem prazo definido.

A reflexão proporcionada por Exupéry se opõe a noção individualista de cada um por si e fomenta a reciprocidade, a consciência coletiva de que somos responsáveis uns pelos outros, especialmente pelos que cruzam o nosso caminho e nos enxergam com admiração.

Apesar da tradução brasileira ter escolhido transformar o verbo francês “apprivoisé” em “cativar”, na realidade a tradução mais literal seria “domar” ou “domesticar”.

Dom Marcos Barbosa optou por tirar uma licença poética e adaptou “apprivoisé” para “cativar”, um verbo que pode ser tido como sinônimo de encantar, seduzir, atrair, enfeitiçar, fascinar e envolver.

O verbo escolhido por Dom Marcos Barbosa envolve entrega, necessidade um do outro, dedicação. No caso do livro de Exupéry, o Pequeno Príncipe é cativado pela rosa, o que quer dizer que ele se tornará responsável por ela.

Edições brasileiras do clássico francês

A publicação traduzida para o português do Brasil foi feita em 1954, pelo monge beneditino Dom Marcos Barbosa, com base na edição francesa de 1945.

Em 2013, a editora Agir, a pioneira que havia lançado a primeira publicação, lançou uma nova tradução, realizada pelo poeta premiado Ferreira Gullar. A nova tradução teve como referência a edição original de 1943.

Gullar disse que o trabalho “foi um convite da editora, nunca tinha pensado em traduzir este livro porque já tem uma tradução, que eu li quando era jovem”.

O desejo, segundo o novo tradutor, era atualizar a escrita “para que o leitor de hoje se sinta mais identificado com o modo de narrar do livro e das falas.”

A tradução realizada pelo poeta, se diferencia, por exemplo, da feita por Barbosa, no que desrespeito a famosa frase em questão.

Dom Marcos Barbosa afirmava que “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Ferreira Gullar, por sua vez, optou por uma construção distinta, usando o tempo passado do verbo: “Você é eternamente responsável por aquilo que cativou”.

Antoine Jean-Baptiste Marie Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry, popularmente conhecido como Antoine de Saint-Exupéry, profetizou em sua célebre obra 'Le Petit Prince': "Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé". Ou popularizada em nosso tupiniquim por "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

Por muito tempo, muito mesmo, para não dizer minha vida inteira, sempre interpretei referida frase com os "melhores" propósitos possíveis. Todavia, de uns tempos para cá, venho percebendo o quão ela é pesadíssima e faz com que nutramos um sentimento de culpa eterna: calma lá, cara pálida, quer dizer então que seja o bem ou o mal que eu faça, terei que eternamente me responsabilizar?

Evidentemente que não... O propósito do imortal adágio é nobre, mas se trazido para uma culpabilização/vitimização pode trazer sequelas trágicas: quantos de nós evitamos situações prazerosas, renegamo-nos, porque 'apita' em nossa consciência aquela raposinha maldita falando isso para o principezinho... E isso hoje se traduz como 'e sua responsabilidade afetiva?...'

Eis que decidi, pela terceira vez, reler a festejada obra para não 'colocar na conta' do Antoine, do Príncipe ou da Raposa: existem alguns pormenores, que se referem até a própria tradução do francês para o português, que nos exigem uma releitura.

Lendo um texto da profa. Roberta Fuks no site Cultura Genial, vi que: "Apesar da tradução brasileira ter escolhido transformar o verbo francês "apprivoisé" em "cativar", na realidade a tradução mais literal seria "domar" ou "domesticar"." E assim prossegue: "Dom Marcos Barbosa (primeiro tradutor) optou por tirar uma licença poética e adaptou "apprivoisé" para "cativar", um verbo que pode ser tido como sinônimo de encantar, seduzir, atrair, enfeitiçar, fascinar e envolver. O verbo escolhido por Dom Marcos Barbosa envolve entrega, necessidade um do outro, dedicação". Logo, o 'cativar' lido com ressalvas, não significa propriamente você trazer para si um fardo e o 'eternamente' seria um advérbio de constância, sem um prazo definido mas não necessariamente que seja infinito (que seja eterno enquanto dure, como profetizou nosso Poetinha).

O que quero com esse texto? Que tanto o 'cativador' quanto o 'cativado' sejam adultos (afinal a Raposinha ensina isso ao Pequeno, não?!) e entendam que a sinceridade, o diálogo e, principalmente, a lealdade, não façam com que uma poética passagem se torne uma prisão perpétua: sejamos leves e deixemos fluir como Heráclito de Éfeso ensinou lá atrás ("Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras").